Deputados aprovaram pacote legislativo autárquico, enquanto ativistas protestavam contra gradualismo geográfico. Na sequência do protesto em frente à Assembleia, jornalistas terão sido impedidos de entrar no Parlamento.
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O Parlamento angolano aprovou, esta terça-feira (13.08), entre outras, a Lei Orgânica sobre a Organização e Funcionamento das Autarquias Locais e do Projeto de Lei da Tutela Administrativa. Um passo importante para a realização das primeiras eleições autárquicas no país em 2020, dizem os observadores.
No entanto, a sessão ficou marcada por uma manifestação no exterior do edifício da Assembleia Nacional, na qual dezenas de ativistas protestaram contra o gradualismo geográfico, ou seja, a lei proposta pelo governo que prevê a realização de autarquias apenas em alguns municípios e não em todos.
Num vídeo disponibilizado na Internet assiste-se à polícia a dispersar os manifestantes com cassetete elétrico.
Jovens angolanos protestam contra gradualismo das autarquias
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"A polícia está a estragar o trabalho de João Lourenço, que está a trabalhar bem. A polícia está com o hábito de José Eduardo dos Santos...violência não, violência não", gritaram os manifestantes.
Na sequência do protesto, vários jornalistas do Novo Jornal, France Press, Rádio Despertar, entre outros que cobriam os protestos, terão sido impedidos de entrar no Parlamento angolano.
Em entrevista à DW África, Gonçalves Vieira , um dos jornalistas impedidos de entrar na Assembleia, explica o que se passou. "À semelhança de outros jornalistas, estávamos a fazer trabalho de reportagem, entrevistando e ouvindo os ativistas em relação às razões da sua manifestação. Até porque já estávamos credenciados pelo protocolo da Assembleia Nacional, dirigimo-nos à porta principal[do edifício] com objetivo de termos acesso à sala do plenário, mas infelizmente fomos informados de que não podíamos entrar”.
A DW África tentou ouvir a Polícia Nacional e o Parlamento acerca do sucedido, mas sem sucesso.
Para além do pacote legislativo autárquico, os deputados aprovaram também, por unanimidade, a Lei de Transplantes de Células e Órgãos Humanos.
Imposto da discórdia
Já a polémica proposta de Lei que altera o Código do Imposto Sobre o Rendimento do Trabalho, foi aprovada, na generalidade, mas apenas com votos favoráveis do MPLA.
Angola: Leis sobre autarquias aprovadas por unanimidade em clima de protestos
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Na opinião de Cruz Neto, deputado do Movimento Popular para Libertação de Angola (MPLA), "todos os que para lá da idade da reforma tem capacidade para desenvolver uma atividade socialmente útil deve efetivamente contribuir para o aumento dos recursos orçamentais, visando a realização da despesa pública".
Mas a oposição não concorda. Lucas Ngonda, da Frente Nacional para Libertação de Angola (FNLA), lembrou que "muitos destes reformados não têm muitos recursos. Se acrescentarem impostos a estes poucos recursos, o que ficará para a sua sobrevivência? Por outro lado, os subsídios de férias é um direito consagrado a cidadania".
Quem também discorda deste diploma legal, que passa agora para discussão na especialidade, é Manuel Fernandes, deputado da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE). "Não estamos de acordo que se taxe os trabalhadores com idade superior a 60 anos. Também não estamos de acordo que o subsídio de férias esteja submetido a essa penalização", diz.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.