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"Liberdade, Justiça, Emprego, Educação", pedem angolanos

Lusa | cvt
26 de setembro de 2020

Centenas de angolanos saíram à rua para mostrar a sua insatisfação com o Governo e exigir mais empregos. Foi a segunda manifestação em Luanda este sábado, dia em que João Lourenço completa três anos na Presidência.

Foto: Borralho Ndomba/DW

Em Luanda, a marcha do desemprego juntou, este sábado (26.09), sobretudo jovens e estudantes que saíram do cemitério de Santana, após negociarem com a polícia o trajeto a percorrer, em direção ao Largo da Independência.

Entoando palavras de ordem como "Liberdade, Justiça, Emprego, Educação", muitos dos jovens exibiam cartazes caseiros com mensagens de revolta e rejeição do partido do poder, o MPLA: "Angola é um país governando por assassinos", lia-se num deles. "Promessa não se come", criticava outro. "MPLA: assassino de sonhos", acusava outro cartaz, enquanto os 500 mil empregos prometidos pelo Presidente eram a mensagem escrita noutro cartaz.

Foto: Borralho Ndomba/DW

Desemprego e descontentamento

Alguns dos jovens vestiam t-shirts brancas com os dizeres "O desemprego marginaliza" e invocando o art.º 76 da Constituição angolana.

"O emprego é um direito consagrado na Constituição da República", reivindicava Laurindo Mande, estudante de Direito na Universidade Jean Piaget.

Em declarações à Lusa, o jovem de 22 anos salientou que, além de não ter sido criado emprego, "houve um agravamento da vida financeira e social da juventude" e considerou que o Governo devia investir mais no empresariado.

Donito Carlos, da Plataforma de Intervenção do Kilamba Kiaxi, acusou o Presidente João Lourenço de não ter criado "nem 10% do emprego que prometeu" e fez um balanço negativo da governação:

"Regrediu nas liberdades individuais, não cumpriu as promessas, o combate à corrupção é um paliativo em que escolheu pessoas da sua conveniência. Em suma, é um desastre. Os angolanos sabem que nada mudou, o regime é o mesmo, apenas mudaram as figuras".

Foto: Borralho Ndomba/DW

A marcha, convocada por vários grupos de ativistas e da sociedade civil em 12 províncias de Angola e alguns países da diáspora angolana, foi engrossanda ao longo do percurso, quando se juntaram aos jovens dezenas de "zungueiras", também insatisfeitas com as condições de vida.

"Zungueira é nossa mãe, não batam nas zungueiras", cantaram em dada altura.

À medida que a marcha avançava, as vozes tornaram-se também mais altas e revoltadas gritando "João Lourenço se prepara" e "2022, vais gostar", numa alusão às eleições gerais marcadas para esse ano.

Muitos iam-se juntando aos manifestantes no percurso, fazendo vídeos em direto com os telemóveis e partilhando nas redes sociais, numa marcha que seguiu sempre em passo ritmado.

Controlar a tensão

Os manifestantes chegaram ao Largo da Independência, local combinado para o término e onde eram esperados pela polícia montada, brigadas caninas e polícias de choque, com a missão de conterem o protesto e, apesar das provocações, não reagiram.

Enquanto alguns exaltados tentavam furar a barreira policial, elementos da organização da marcha tentavam controlar os ânimos, apelando ao cumprimento das orientações policiais.

O ativista Osvaldo Caholo garantia à Lusa: "vamos fazer o máximo para que não haja enfrentamentos com a polícia".

Sobre os três anos de Governo de João Lourenço, o ativista afirmou que "houve apenas uma mudança de moscas, o poder é como se fosse um esterco".

"Enquanto Angola for refém dessas máfias não tenho esperança. O problema de Angola não é José Eduardo dos Santos nem João Lourenço é a máfia do MPLA", realçou.

Osvaldo CaholoFoto: DW/M. Luamba

Para Osvaldo Caholo, "o MPLA finge que é democrático, a UNITA [principal partido da oposição] finge que é democrática, a única verdade é o sofrimento do povo angolano".

Magui António, zungueira de 28 anos, também se juntou à marcha: "estamos a sofrer", lamentou, merecendo a concordância das colegas de zunga que rapidamente se juntam a sua volta num coro de queixas: falta emprego, faltam escolas, faltam hospitais, faltam mercados, dizem as vendedoras, queixando-se dos fiscais que lhes "roubam o negócio" (produtos para venda).

Arremeço de pedras e intervenção policial

Já no Largo das Heroínas, para onde os manifestantes seguiram e se concentraram entretanto, para pernoitar e fazer uma vigia, Fernando Sakuela Gomes desabafa: "em tempo de Covid-19, o importante é ter pão na mesa e não PIIM [programa de investimento em infraestruturas nos municípios] na estrada".

"A nossa intenção é efetivamente a democracia. Queremos erguer a república dos cidadãos e não a república dos militantes", referiu à Lusa o jovem ativista do Projeto Agir Cacuaco.

A manifestação terminou de forma algo abrupta quando um grupo de jovens iniciaram um tumulto e arremessaram pedras, resultando na intervenção policial e ao lançamento de gás lacrimogéneo para conter os distúrbios e dispersar os mais agitados.

A polícia confirmou que alguns jovens vão ser levados para a esquadra e identificados, sendo depois postos em liberdade.

Protestos marcam três anos de governação de João Lourenço

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