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Angola: "Luanda Leaks" pode influenciar banca angolana

Lusa | cvt
1 de fevereiro de 2020

Economista-chefe da consultora Eaglestone Securities considera que revelações do "Luanda Leaks", contexto económico e vigilância regulamentar em Angola podem forçar saída de pequenos acionistas da banca angolana.

Wirtschaftliche Situation in Angola l Tiago Dionísio
Tiago DionísioFoto: privat

"É um cenário possível que vendam as suas participações. Há vários acionistas com pequenas participações e, no atual contexto, bastante desafiante em termos económicos e com tendência de maior concorrência no setor e de maior exigência regulatória do Banco Central, pode haver acionistas que tenham necessidade de vender a sua participação", disse Tiago Dionísio, quanto questionado sobre as implicações para a banca da divulgação de documentos conhecidos como "Luanda Leaks”.

Em entrevista à Lusa, o analista vincou que "o cenário no setor bancário angolano pode mudar bastante", mas acrescentou que "ainda vai demorar algum tempo" até que a consolidação deste setor, marcado por uma pulverização de pequenos bancos, seja uma realidade.

Angola "tem uma estrutura acionista bastante particular no contexto internacional", sublinhou, lembrando que há bancos com dezenas de pequenos acionistas e que há quase 30 entidades bancárias a operar no país.

"2020 poderá finalmente ser o ano em que assistimos a alguma consolidação no setor bancário", defendeu o analista, argumentando que "a exigência regulatória e o ambiente económico e bancário, cada vez mais concorrencial, significa que alguns dos bancos mais pequenos terão maiores dificuldades em operar na atual conjuntura", e por isso poderá assistir-se "a um cenário de concentração ou de fusões" na banca em Angola.

Banco Nacional de Angola, em LuandaFoto: Pedro Borralho Ndomba

Fusão entre bancos maiores

Questionado sobre quais os bancos que melhor se adequam a uma concentração ou fusão, o economista-chefe da consultora Eaglestone Securities respondeu: "Se tivermos em conta a situação acionista do Banco Económico (BE) e do Banco de Fomento Angola (BFA) - onde no primeiro a Sonangol tem 70%, e no segundo 50% por ter comprado a participação da Oi na Unitel - a petrolífera nacional tem cada vez mais poder neste banco. Poderia ser um cenário interessante no setor bancário ter um grande banco e uma fusão do BFA com o BE é um cenário a que estaremos atentos nos próximos meses".

Sobre se este é apenas um cenário ou se já há movimentações em concreto, Tiago Dionísio respondeu: "Pode acontecer, Angola tem quatro ou cinco grandes bancos e faz sentido ter um ou dois grandes bancos no contexto africano e da África subsaariana".

Tiago Dionísio lembrou que o país, apesar de ser o segundo maior produtor de petróleo da região e a terceira maior economia, "não tem um banco que se destaque e pode haver uma fusão entre os maiores 'players' - por exemplo, nestes dois que têm a Sonangol como acionista de referência", ou então entre o BPC, que enfrenta dificuldades, e o Banco Angolano de Investimentos, "que poderia absorver um ou outro mais pequeno para ganhar dimensão".

Sede da Sonangol em LuandaFoto: DW/N. Sul d'Angola

Papel positivo da Sonangol

Ainda segundo o economista-chefe da consultora Eaglestone Securities, o reforço da participação da Sonangol no Banco de Poupança e Crédito e no Banco Económico é "claramente positivo" e traz vantagens.

"A Sonangol é uma empresa com grande dimensão e portanto dá conforto ter um acionista forte, robusto, com capacidade de investimento nos bancos", apontou, salientando que "se fosse um acionista fraco, seria mais complicado recapitalizar esse banco em caso de necessidade, por isso ter um acionista forte como a Sonangol é claramente positivo", disse, quando questionado sobre as vantagens e desvantagens do reforço da participação acionista da Sonangol na banca.

O Banco de Poupança e Crédito e o Banco Económico foram os dois bancos que o Banco Nacional de Angola identificou como necessitando de uma recapitalização, num comunicado divulgado no final do ano passado, e no qual se estabelece junho como o prazo limite para este aumento de capital.

O programa de privatizações anunciado pelo Governo vai no sentido de reduzir o peso do Estado em vários setores, acrescentou Tiago Dionísio, considerando que "o setor financeiro é estratégico para qualquer Estado e, por isso, haverá sempre um ou dois bancos públicos", mas ainda assim pode haver uma evolução.

"Quem sabe se daqui a uns anos a Sonangol não vende a sua participação nesses bancos, mas para já tem de ser um passo de cada vez; olhando para os investidores locais e para o programa de privatizações, acho que não têm propriamente uma capacidade muito elevada para investir nos grandes setores, por isso Angola vai ter de atrair investidores estrangeiros, e vai demorar algum tempo", concluiu o analista.

"Luanda Leaks": Entenda as denúncias sobre Isabel dos Santos

01:24

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Revelações do Luanda Leaks

O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no dia de 19 de janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.

A investigação revela ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no EuroBic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera angolana. 

O EuroBic já anunciou que a empresária vai abandonar a estrutura acionista, o mesmo acontecendo na Efacec e já depois de os três membros não executivos do conselho de administração da NOS ligados a Isabel dos Santos terem anunciado a sua saída da operadora de telecomunicações.

O antigo ministro angolano Rui Mangueira foi eleito novo presidente do Conselho de Administração do Banco de Fomento Angola (BFA), numa deliberação unânime dos acionistas, na passada quarta-feira (29.01), que surge na sequência da saída de Mário Leite da Silva.

Gestor e apontado como o braço direito de Isabel dos Santos, é um dos implicados nos esquemas financeiros vindos a público através da investigação jornalística 'Luanda Leaks' e foi constituído arguido pela Procuradoria-Geral da República de Angola.

A empresária angolana já refutou o que descreveu como "alegações infundadas e falsas afirmações" e anunciou que vai avançar com ações em tribunal contra o consórcio de jornalistas que divulgou a investigação "Luanda Leaks”. Além disso, Isabel dos Santos reafirmou que os investimentos que fez em Portugal tiveram uma origem lícita.

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