O Governo angolano prevê comprar mais de mil viaturas protocolares, orçadas em 42,5 mil milhões de kwanzas (cerca de 157,5 milhões de euros). Oposição critica aquisição em plena crise económica e financeira.
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O Governo angolano prevê gastar mais de 42,5 mil milhões de kwanzas (cerca de 157,5 milhões de euros) na aquisição de mais de 1.034 viaturas de serviço de diferentes gamas. O Presidente João Lourenço ordenou a abertura de um concurso público, que termina a 7 de maio, para a compra dos veículos destinados a membros do Executivo.
A oposição apela, no entanto, à contenção de custos em tempo de crise económica e financeira.
"Há aqui uma contradição entre o que se diz e o que se pratica. Muitos têm as suas viaturas protocolares e as de uso pessoal. Portanto, no quadro das restrições, devia haver mais cuidado relativamente a esta matéria", comenta Alcides Sakala deputado e porta-voz da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição.
"Há prioridades sociais que é preciso cobrir nas circunstâncias atuais, na área da Saúde e da Educação", refere.
Mais carros de luxo em tempo de crise
Crise em Angola
Desde 2015 que o país é assolado por uma crise económica e financeira resultante da baixa do preço do petróleo no mercado internacional. Consequentemente, o preço dos principais produtos básicos subiu e o desemprego aumentou.
"Devemos reconhecer que o país está numa fase difícil e todo o exercício deve-se circunscrever à austeridade e poupança para evitar que o país caia num colapso", afirma Manuel Fernandes, economista e deputado da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), a segunda maior força da oposição.
Ainda assim, o deputado sublinha que é preciso conferir alguma dignidade aos titulares de cargos públicos.
"Também é preciso que se criem condições para os responsáveis indicados para os departamentos ministeriais e não só", diz Fernandes.
Polémicas antigas
Não é a primeira vez que a aquisição de viaturas de topo de gama para titulares de cargos públicos gera polémica em Angola.
O anúncio, em 2017, da compra de mais de 200 viaturas de luxo para os deputados angolanos da presente legislatura causou uma onda de indignação em Angola. Em novembro, o Parlamento anunciou que recuou na intenção.
Na altura, em declarações a DW África, Osvaldo Mboco, analista político e professor universitário afirmou que, em tempo de crise, todos deviam consentir sacrifícios.
"É fundamental que se adquira carros mais baratos", disse na altura. "Se o país está a atravessar uma crise económica e financeira e se exige por parte do povo atos de sacrifício, é fundamental que os nossos representantes, os deputados e o próprio Executivo, também façam esses sacrifícios."
A verdade é que, em janeiro de 2018, os deputados saídos das eleições de 23 de agosto começaram a receber viaturas de marca Lexus, modelo ES, cujo preço médio ronda os 85 mil dólares (cerca de 69 mil euros).
País pobre com táxis de luxo
Táxis e autocarros da Mercedes-Benz definem o cenário nas ruas de Bissau. Quase todos os taxistas deste país pobre conduzem viaturas da construtora alemã de carros topo da gama, sobretudo modelos a gasóleo dos anos 80.
Foto: DW/B. Darame
Táxis da Mercedes-Benz por todo o lado em Bissau
Nas estradas da Guiné-Bissau, país situado na África Ocidental, prevalecem carros da marca Mercedes-Benz. Apesar deste ser um dos países mais pobres do mundo, ocupando a 12ª posição a contar do fim no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, quase todos os taxistas conduzem viaturas da Daimler, construtora alemã de carros topo da gama.
Foto: DW/B. Darame
Modelos resistentes a gasóleo
Os modelos mais resistentes são também os mais procurados. Ao contrário dos modelos modernos, os mais antigos podem ser reparados pelos proprietários e condutores sem conhecimentos de informática. Quase a totalidade dos transportes públicos de Bissau, com os seus 400 000 habitantes, é operada com táxis coletivos e mini-autocarros da marca Mercedes-Benz.
Foto: DW/B. Darame
Amado conduz este Mercedes-Benz desde 1999
Um tio que emigrou para a Alemanha em 1997 enviou este Mercedes para Bafatá, no leste do país, para apoiar a família. Em 1999, o carro foi levado para a capital, Bissau. Desde então serve de ganha-pão ao taxista Amado. As receitas chegam para pagar o almoço e o jantar a toda a família.
Foto: DW/B. Darame
Todos os táxis são táxis coletivos
Tal como todos os taxistas em Bissau, também Amado recolhe sempre vários passageiros que querem ir mais ou menos para o mesmo lado. Os táxis de Bissau estão quase sempre em movimento. Se ainda há um lugar livre, pode-se mandar parar o táxi. Mas o destino deve ser próximo daquele dos restantes passageiros. Também é possível ter o uso exclusivo do táxi, mas é mais caro.
Foto: DW/B. Darame
Painéis dos anos 80
Uma apreciação do interior da viatura revela instrumentos clássicos dos anos 80. Este é o interior de um modelo 190D da série Mercedes-Benz W201. Entre 1982 e 1993 foram produzidos cerca de 1,8 milhões de exemplares deste predecessor da atual classe C. Olhando com atenção deteta-se no lado direito da imagem uma bandeira alemã. Este género de símbolos é muito popular entre os taxistas.
Foto: DW/B. Darame
Oficina da rua
Muitos táxis já têm mais de um milhão de quilómetros de rodagem, e, por isso, sofrem de numerosos defeitos. A reparação torna-se assim num negócio rentável, no qual se especializaram várias oficinas da rua. Sobretudo os jovens aprendem aqui como reparar os modelos da Mercedes-Benz, ocupação que lhes garante o sustento.
Foto: DW/B. Darame
Carros canibalizados
Hoje em dia é fácil obter em Bissau todas as peças sobressalentes dos modelos mais comuns da Mercedes-Benz. Elas não são importadas da Alemanha, mas extraídas dos numerosos táxis cujas carroçarias já não resistem ao uso. As viaturas são canibalizadas e usadas como depósito de peças de reposição. Neste caso foi extraído o bloco completo do motor para ser inserido noutro táxi.
Foto: DW/B. Darame
Investimento conjunto
Sete guineenses juntaram-se para comprar este táxi Mercedes-Benz. Com a matrícula, 42-11-CD, é um dos táxis mais conhecidos da cidade. No fim do mês, o condutor paga o aluguer aos proprietários. Quando o negócio anda de vento em popa, sobra o equivalente a 75 euros para cada um. O que na Guiné-Bissau é uma pequena fortuna. O rendimento médio per capita no país é inferior a 50 euros mensais.
Foto: DW/B. Darame
O modelo para carreiras de longo curso
O modelo 240TD da série 123 foi construído de 1975 a 1986, e é conhecido pelo nome de "sete plass" (sete lugares) na Guiné-Bissau. Este carro é considerado muito resistente e usado, sobretudo, para carreiras de longo curso. Este táxi coletivo faz a carreira de Bissau para Ziguinchor, na Casamansa (Casamance), no vizinho Senegal. A publicidade no para-brisas revela a sua origem.
Foto: DW/B. Darame
Furgonetas da Mercedes para rotas fixas
Enquanto os pequenos táxis coletivos têm rotas flexíveis, as grandes furgonetas da Mercedes-Benz cumprem carreiras fixas. É o caso deste mini-autocarro do tipo 210D ("Mercedes Transporter"), chamado de "toca-toca", que faz a ligação entre o centro da cidade o Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira em Bissau, como se pode ler na placa que diz “Aeroporto”.
Foto: DW/B. Darame
Miríade de tipos
Também há vários tipos de mini-autocarros, mas a preferência dos motoristas pelos modelos da Mercedes-Benz é evidente. Os carros desta marca têm a fama de ser resistentes. O furgão do tipo 210D foi construído na fábrica de Bremen, no norte da Alemanha, entre 1977 e 1995. Deste modelo de nome “Bremer Transporter” foram fabricados 970.000 unidades. Hoje ele é construído sob licença na Índia.
Foto: DW/B. Darame
A importação é sempre de segunda mão
Tanto as furgonetas amarelas e azuis que servem de mini-autocarro como os táxis azuis e brancos são geralmente importados em segunda mão. Normalmente os carros oriundos da Europa entram em África via Banjul, cidade portuária na vizinha Gâmbia. Daí seguem via sul do Senegal e norte da Guiné-Bissau para a capital, Bissau. Onde são pintados nas cores típicas.
Foto: DW/B. Darame
Parte integrante do cenário de Bissau
Na imagem, vários táxis pintados em azul e branco seguem numa estrada secundária de terra batida em Bissau. Os táxis da Mercedes-Benz são hoje parte integrante do cenário da capital da Guiné-Bissau. Como as viaturas são muito resistentes e fáceis de reparar, é muito provável que os modelos dos anos 80 e do início da década 90 ainda possam ser admirados por muito tempo nas ruas de Bissau.