A governação angolana conta com mais duas mulheres, desde a semana passada. E se estas "trabalharem bem", segundo o Presidente João Lourenço, "serão nomeadas outras" – uma afirmação que "não cai bem", diz socióloga.
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Angola tem, desde a semana passada, mais duas mulheres na governação - há agora quatro governadoras provinciais no país. Joana Lina torna-se a segunda mulher a governar Luanda, depois de Francisca do Espírito Santo, nomeada em 2008. A governante tem noção da "complexidade" da cidade considerada o "cemitério dos políticos".
Segundo dados do Censo Geral da População e Habitação divulgados em 2016 pelo Instituto Nacional de Estatistica (INE), Luanda tem quase sete milhões de habitantes. "Temos consciência da complexidade da tarefa, principalmente neste momento em que estamos todos assolados com essa pandemia da Covid-19", diz a nova governadora.
Já Lotti Nolika estreia-se como governadora do Huambo, uma província com uma população estimada em mais de dois milhões de habitantes: "Vamos olhar um pouco para as condições básicas e sociais das nossas populações, a questão das vias de acesso, as vias terciárias para permitir a evacuação dos produtos do campo para cidade", promete.
Joana Lina e Lotti Nolika juntam-se a Gerdina Didalelwa, governadora do Cunene, uma região assolada pela fome e a seca, e a Mara Quiosa, governadora do Bengo, uma província vizinha de Luanda que, segundo analistas locais, está na cauda do desenvolvimento económico e social.
Marcha em Luanda contra a violência de género
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Nos próximos tempos, mais mulheres serão nomeadas, diz o Presidente angolano, João Lourenço. Mas as recém indicadas terão de "trabalhar bem".
Desvalorização da luta feminina
"Começámos com uma e hoje estamos com quatro e não vamos ficar por aqui. Se vocês trabalharem bem, isso vai-nos encorajar a nomear outras senhoras", afirmou o chefe de Estado angolano. Mas este modelo de nomeação, dependente do desempenho das outras mulheres, está ser muito criticado. "Penso que esta afirmação do Presidente da República não cai bem", considera Marlene Messele, socióloga e professora universitária.
"As mulheres africanas, particularmente as angolanas, têm lutado e continuam a luta para mostrar as suas competências", sublinha. "Dificilmente saem de um cargo público por causa de um comportamente desviante".
Muitas mulheres já foram nomeadas para o Executivo de João Lourenço, desde que tomou posse como presidente de Angola, em 2017. Vera Daves, ministra das Finanças, Luísa Grillo, da Educação, Maria Bragança, do Ensino Superior e a super ministra da Cultura, Ambiente e Turismo, Adjany Costa, são apenas alguns dos exemplos.
No entanto, Marlene Messele considera que é preciso ter ainda mais mulheres no Governo: "Hoje, a mulher contribui significativamente para a atividade produtiva da sociedade", lembra.
No Facebook da DW África, Watson Jaime diz mesmo que "em Angola, o desafio pela inclusão e a equidade de género ainda é uma miragem" e lembra que "as mulheres na governação sempre marcam a diferença".
"A inclusão de mais duas governadoras é salutar, tendo em conta que as mulheres constituem o maior número da população deste país", diz o utilizador.
Mulheres ao poder
Segundo o Grupo de Mulheres Parlamentares, até 2018, a representação feminina no Parlamento angolano era de 40%.
Nos partidos políticos, as vice-presidências das duas maiores forças políticas angolanas são ocupadas por mulheres: Luísa Damião, pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e Arlete Chimbinda, pela União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA).
Apenas Anália de Vitória Pereira liderou o Partido Liberal Democrático (PLD) - que elegeu três deputados nas eleições de setembro de 1992.
No Conselho da República, Rosa Cruz e Silva, antiga ministra da Cultura, é a porta-voz do órgão de consulta do Presidente angolano. Ao nível dos tribunais superiores de Angola, apenas o Tribunal de Contas é dirigido por uma juiza presidente - Exalgina Gamboa, nomeada em 2018.
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca
Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
Foto: picture-alliance/dpa/EFE/EPA/J. Lizon
Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
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Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca
Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
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Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
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Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
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Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
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A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.