Pescadores da zona norte de Cabinda, em Angola, estão preocupados com o silêncio das autoridades face às manchas de petróleo recorrentes no mar do enclave. A petrolífera acusada de causar incidentes desconhece situação.
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O município de Cacongo, no norte da província angolana de Cabinda, já foi vítima de múltiplos derramamentos de petróleo bruto, causados por várias empresas exploradoras de petróleo, entre as quais a Total e a Chevron. Recentemente, os pescadores do município denunciaram que foram encontradas em algumas praias manchas oleosas, resultantes de novo incidente.
João Baptista, vice-presidente da Associação dos Pescadores no município de Cacongo, acusa a Secretaria do Ambiente do Governo da província, entidade fiscalizadora, de não agir com transparência na averiguação para descobrir os culpados.
"Mais de 20 a 30 amostras foram levadas e os resultados nunca foram apurados e simplesmente deixam andar [o processo]. Sempre que as amostras foram levadas ao laboratório deviam publicar os resultados reais. Deviam também chamar a sociedade civil para acompanhar o resultado final", disse Baptista.
O poder do petróleo
02:16
Pescadores exigem posicionamento das autoridades
O vice-presidente dos pescadores de Cacongo exige um posicionamento do Governo, dizendo que deve "participar e contribuir para pressionar as empresas exploradoras a cumprirem as suas responsabilidades".
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"Nós achamos uma atitude negativa da empresa em não assegurar as suas operações, pelo que são vários derrames que nem chegam muitas vezes à costa. Os pescadores às vezes acabam por encontrar manchas nas redes, provando que há derrame no alto mar", disse João Baptista à DW África.
Muitas vezes, devido à necessidade de sobrevivência, os pescadores sentem-se obrigados a vender peixe contaminado pelo petróleo, descurando as consequências para a saúde.
João Batista alerta: "Nós temos estado a consumir o mesmo peixe e futuramente teremos muitos problemas. Constatamos que pessoas acusam diferentes tipos de doença, como hipertensão, tumores, problemas psíquicos, sem sabermos o que as causa".
Dedo acusador à petrolífera Chevron
Pelé Mavambo, outro pescador, também lamenta a situação. De regresso da faina, explica que que ele e o seu grupo não conseguiram pescar.
"Logo que chegámos encontrámos resíduos de petróleo na beira. Nem adiantava pescar", lamentou Mavambo.
Depois de tomar conhecimento das denúncias, a direção da Chevron em Cabinda disse em comunicado que não foram registadas, durante a semana, quaisquer irregularidades ou derrames nas operações de exploração de óleos.
A petrolífera fez saber ainda que foi mobilizado um helicóptero que efetuou voos de observação, mas não detetou qualquer mancha nas praias e óleos no mar.
A Chevron assegura que vai continuar a vistoriar toda a costa de Lândana, para se apurar se, de facto, houve ou não derrame. Em caso de derrame, a pertrolífera promete participa, na limpeza para garantir a segurança dos pescadores e da comunidade.
A DW contactou a Secretaria do Ambiente de Cabinda, mas sem sucesso.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".