Rabelais admite compra de divisas para interesses pessoais
15 de dezembro de 2020
Durante julgamento, o ex-diretor do extinto GRECIMA disse que pagava a líderes nacionais e internacionais para falar bem de Angola. Rabelais nega que o ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos sabia das operações.
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O antigo diretor do extinto Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração (GRECIMA) Manuel Rabelais admitiu, durante interrogatório perante o Tribunal Supremo de Angola esta segunda-feira (14.12), que adquiriu divisas para atender interesses pessoais.
Entretanto, o antigo ministro da Comunicação Social e ex-diretor da Rádio Nacional de Angola não confirmou a compra de 98 milhões de euros ao Banco Nacional de Angola (BNA), vendidos a empresas e indivíduos, conforme os autos do processo.
Apesar de negar tal operação, Manuel Rabelais admite que o valor pode referir-se a "cartas-conforto" que foram enviadas quando era secretário do Presidente da República para a Comunicação Institucional e Imprensa, durante a governação do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos.
No entanto, ressaltou que o valor dessas operações ficaria muito abaixo do que consta na acusação do Ministério Público. Segundo Rabelais, o valor não supera os 30 milhões de euros.
A compra e venda de moeda estrangeira com o acréscimo de uma taxa acima do valor oficial foi uma alternativa à crise financeira para suprir necessidades do antigo gabinete, justificou Manuel Rabelais. O réu também reconheceu que o seu assessor Hilário Santos recebia e depositava dinheiro em nome do GRECIMA.
"Eu e o senhor Hilário Santos adquirimos através desse mecanismo de venda direta de divisas, quer para interesses pessoais nossos e de pessoas do Governo que nos procuravam, divisas do GRECIMA", disse no interrogatório, de acordo com o Novo Jornal de Angola.
JES sabia do esquema?
Manuel Rabelais afirmou ainda que pagava a líderes nacionais e internacionais para falar bem de Angola. O antigo diretor do GRECIMA não quis, entretanto, revelar os nomes e os montantes pagos por considerar este um assunto de segredo de Estado.
Ao ser questionado se o antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos sabia do esquema, Rabelais disse que nunca discutiu sobre este tema com o ex-chefe de Estado. Acrescentou ainda que o BNA não tinha conhecimento sobre a venda dos valores disponibilizados, mas que os alocava aos bancos comerciais para onde os pedidos do GRECIMA eram endereçados.
Manuel Rabelais está a ser julgado pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais e violação das normas de execução orçamental alegadamente cometidos entre 2016 e 2017. Nesse período, terá usado os seus poderes no GRECIMA para adquirir junto do BNA divisas que eram canalizadas para alguns bancos comerciais.
O julgamento teve início na passada quarta-feira (09.12). Os alegados atos são sujeitos a uma pena superior a dois anos de prisão. Segundo o presidente da câmara criminal do Tribunal Supremo de Angola, Daniel Modesto, o julgamento deste caso poderá demorar. "Estes crimes são complexos. Pode levar algum tempo para o término do julgamento", afirmou.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
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O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
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Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
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De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
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A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
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A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.