Militantes descontentes com a direção da FNLA acusam o líder de contratar milícias para agredirem idosos. E devem apresentar nesta quinta-feira (13.09.) a nova comissão de gestão que vai preparar um congresso inclusivo.
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Em vigília há uma semana, os militantes do partido fundado por Holden Roberto, na sua maioria idosos, continuam a dizer que "Lucas Ngonda não vai matar a FNLA". Estes partidários tentaram persuadir através do diálogo o dirigente a deixar a liderança, mas em nada resultou.
Lucas Ngonda recusa dialogar com os seus correligionários. Por esta razão os mesmos decidiram destituir o presidente do cargo que ocupa desde 2010.
"No dia 7 de Setembro foi feita uma declaração de destituição do senhor Lucas Ngonda do cargo de presidente do partido FNLA. O senhor Lucas Bengui Ngonda já não é presidente da FNLA”, disse Lucinda Roberto, a porta-voz dos militantes.
Com a destituição do presidente do partido, que participou na luta contra o colonialismo em Angola, os militantes que se reuniram na terça-feira (11.09.), garantem ter já constituído a comissão de gestão que vai preparar o congresso. Neste evento poderá ser eleito o novo líder e dar mais espaço para a participação da juventude.
Nova direção de transição apresentada em breve
O órgão, segundo Lucinda Roberto, será apresentado à imprensa no dia 13 de setembro: "Vamos anunciar na quinta-feira, diante da imprensa, a direção de transição que vai trabalhar para unidade e reconciliação do partido, e posteriormente, em 180 dias vai constituir uma comissão preparatória para um congresso claro, amplo e inclusivo”.
No passado dia 4, enquanto protestavam em frente à sede nacional do partido, os militantes dizem ter sido alvos de agressões por uma milícia conhecida como "canhexes”, homens corpulentos, geralmente contratados para baterem nos manifestantes em Luanda.
Dois idosos ficaram feridos e os membros acusam Ngonda de ser o mandante das agressões.
"Na quarta-feira, o grupo de 12 anciãos foram agredidos, foram contratados meliantes que agrediram os mais velhos na presença da secretária para os assuntos eleitorais, a senhora Amélia Florinda António e diante do secretário-geral Mukumbi Dala e de dois agentes da polícia. Os anciãos pretendiam dialogar com o presidente”, acusou Lucinda Roberto que apresentou uma queixa-crime contra Lucas Ngonda.
Entretanto, Lucas Ngonda e o seu staff continua a não querer prestar declarações à imprensa apesar de várias tentativas.
Direção do FNLA acusa membros
Militantes da FNLA alegam ter destituído líder Lucas Ngonda
No fim de semana a direção da FNLA, Frente Nacional de Libertação de Angola, acusou, através de um comunicado, os militantes e os órgãos de comunicação social de proferirem ameaças.
Segundo o comunicado, assinado pelo secretário-geral, Pedro MukumbiDala, "o aglomerado de pessoas com atitudes agressivas estava espalhado pela rua que dá acesso à sede nacional e fazia-se acompanhar de vários órgãos de imprensa, proferindo insultos contra a direção do partido, ameaçando atentar contra a integridade física do presidente”.
Victor António de 69 anos, saiu da Província do Uíge para exigir em Luanda o afastamento de Lucas Ngonda da presidência da FNLA.
Para o militante, o dirigente deveria dialogar com os seus membros.
"Agora perguntamos, nem com militantes fala, que tipo de presidente ele é? Todo o pai que foge de seus filhos não é pai. O bom pai é aquele que se aproxima dos filhos e os aconselha e ouve as palavras dos seus filhos. Sendo presidente da FNLA, ele tinha que ouvir a voz dos militantes”, criticou o veterano.
Eleições em Angola: Do combate à corrupção ao "Dubai africano"
A DW África analisou os principais factos que marcaram a campanha eleitoral angolana e as promessas mais faladas de cada partido concorrente às eleições gerais de 23 de agosto. Um resumo fotográfico.
Foto: privat
Pouco espaço para a oposição
Na pré-campanha, a oposição afirmou que nas ruas de Luanda só se viam cartazes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Segundo a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), as agências publicitárias recusavam-se a divulgar materiais da oposição, sob risco de perderem as licenças e os espaços publicitários atribuídos pelo Governo Provincial de Luanda.
Foto: DW/N. Sul de Angola
Propostas na rádio e televisão
Após a pré-campanha, a Comissão Nacional Eleitoral estabeleceu o período de 23 de julho a 21 de agosto para a campanha eleitoral. Além dos atos de massa, os partidos puderam apresentar as suas propostas nos meios de comunicação social do país. A oposição voltou a dizer que não teve o mesmo espaço que o partido no poder.
Foto: DW/B.Ndomba
Combate à corrupção
Combater a corrupção foi uma das metas apresentadas pelo MPLA. O partido no poder, que tem João Lourenço (foto) como cabeça-de-lista, reconheceu durante a campanha que o país "não pode mais sofrer com a corrupção". A ausência do candidato à vice-presidência, Bornito de Sousa, e do Presidente cessante José Eduardo dos Santos, que supostamente estavam doentes, também marcou a campanha eleitoral.
Foto: DW/ A. Cascais
"Interesse nacional"
Entre as propostas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a gratuidade da educação até o ensino secundário. O maior partido da oposição também prometeu um Governo em que o "interesse nacional" esteja acima de "interesses partidários, setoriais ou pessoais". O partido liderado por Isaías Samakuva encerrou sua campanha eleitoral no Cazenga (foto), em Luanda.
Foto: DW/A. Cascais
Mudança depois de 42 anos
A CASA-CE, segundo maior partido da oposição, reuniu ao longo da campanha milhares de apoiantes em diferentes atos de massa nas províncias (foto em Benguela, a 29 de julho). No ato de encerramento, em Luanda, o candidato Abel Chivukuvuku pediu confiança dos angolanos para pôr fim aos "42 anos de sofrimento e má governação".
Foto: DW/N. S. D´Angola
Estados federados
A campanha do Partido de Renovação Social (PRS) foi marcada pela proposta de implantar um sistema federalista no país. O cabeça-de-lista Benedito Daniel (ao centro da foto) defendeu que só através dessa reforma as províncias angolanas – convertidas em estados – teriam autonomia para governar.
Foto: DW/M. Luamba
Angolano no "centro da governação"
A campanha da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) deu especial atenção à pobreza, saúde, educação e emprego. Liderado por Lucas Ngonda, o partido diz que é a "única formação partidária que tem o angolano como centro da sua governação". A abertura da campanha eleitoral aconteceu no Bié (foto), berço do antigo braço armado do partido, a União Para a Libertação de Angola (UPA).
Foto: DW/J. Adalberto
"Dubai africano"
A Aliança Patriótica Nacional (APN) é o partido com o candidato à Presidência mais jovem. Durante a sua campanha eleitoral, o ex-deputado Quintino Moreira (à esquerda na foto) prometeu criar um milhão de empregos – o dobro do que o MPLA prometeu nestas eleições. Além disso, disse que transformaria a província do Namibe num "Dubai africano".