Apoiantes da organização que reivindica a autonomia da região das Lundas denunciam perseguição pelas autoridades locais. Queixas ocorrem após manifestação em Cafunfo, na última quinta-feira (05.10).
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Há relatos de dirigentes que teriam abandonado suas residências por medo de virem a ser raptados ou mortos, segundo o Movimento Protectorado Lunda Tchokwe, organização que reivindica há vários anos a autonomia da região angolana, rica em diamante. Queixam-se de perseguição por elementos afetos aos serviços secretos e da Polícia Nacional Angolana.
Os relatos surgem cinco dias depois da realização de uma manifestação na região diamantífera de Cafunfo, na província da Lunda Sul, na última quinta-feira (05.10).
O líder da organização, José Mateus Zecamuchima, diz estar na posse de informações que apontam para a possibilidade dos órgãos de segurança colocarem armamento nas residências dos dirigentes do Movimento Protectorado para que essa seja vista como uma organização terrorista.
"Neste momento, devo denunciar que temos informações fidedignas, segundo as quais a polícia quer colocar armamento, durante esses dias, nas casas dos nossos membros na localidade de Cafunfo. Isso para que, no dia seguinte, elas sejam surpreendidas e presas e depois apresentadas na TPA (Televisão Pública Angola) no sentido de mostrar ao mundo que o Movimento Protectorado possui armas" , disse Zecamuchima em entrevista à DW África.
A DW África tentou, sem sucesso, ouvir uma reação do comando municipal da Polícia Nacional no Cuango.
Espancamentos
Na quinta-feira (05.10), quando aconteceu a manifestação, informações divulgadas pelo portal Maka Angola descreviam os protestos como violentos e que teriam resultado no espancamento brutal de vários agentes, um deles, o chefe de patrulha da Polícia Nacional. Mas o líder do Movimento Protectorado contraria essa informação:
"O senhor que falou para o Maka Angola foi uma pessoa irresponsável, porque deu uma série de informações que não condizem com a verdade. Deveria ser a Polícia Nacional a sair com o comunicado e explicar que a polícia foi maltratada. E se essa Polícia do Governo da República de Angola não apareceu com nenhum comunicado neste sentido, quer dizer que o que aconteceu, foi porque a polícia provocou", acrescentou Zecamuchima.
Polícia
Lundas....(novo) - MP3-Mono
O presidente o Movimento Protectorado Lunda Tchokwe, José Mateus, diz que se os manifestantes tivessem agredido os agentes da polícia, teria havido um banho de sangue. "Como é conhecido em Angola, se o povo fosse a agredir a polícia, com certeza essa teria disparado contra a população", disse Mateus.
No dia da manifestação, as autoridades prenderam cinco pessoas, estando quatro já em liberdade e uma continua detida. Entretanto, enquanto as autoridades angolanas continuarem a responder com o silêncio as reivindicações que visem a autonomia das Lundas, o "Movimento Protectorado continuará a mobilizar a população da região com vista a realização de manifestações generalizadas e antigovernamentais", segundo disse o presidente da organização, José Mateus Zecamuchima.
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Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.