Partido do Galo Negro diz que dois militantes ficaram gravemente feridos em emboscadas coordenadas pelo MPLA. Governador do Kuando Kubango, Pedro Mutindi, acusa a UNITA de propagar mentiras.
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O governador e primeiro secretário provincial do MPLA no Kuando Kubango, Pedro Mutindi, disse em entrevista à DW África que a UNITA está "a criar factos políticos”, em resposta às denúncias feitas na quarta-feira (24.05) , pelo dirigente provincial da UNITA no Kuando Kubango, Adriano Sapiñala, que afirma ter sido alvo de uma tentativa de assassinato por parte de militantes e apoiantes do MPLA, o partido no poder.
Segundo Sapiñala, dois dos militantes do maior partido da oposição ficaram gravemente feridos e algumas viaturas foram danificadas. A UNITA diz ainda que terão participado nas emboscadas elementos da Casa Militar do Presidente da República, destacados naquela região.
Incidente "mancha bom nome da província”
Adriano Sapiñala afirma que os incidentes tiveram lugar em Mavinga, quando a caravana em que seguia se dirigia para um dos municípios do interior da província, numa atividade de mobilização eleitoral: "Nessas duas emboscadas atiraram-nos pedras. Dois companheiros ficaram feridos e os vidros de três viaturas foram danificados. Bloquearam a via toda e todos os acessos ao município do Mavinga com camiões, efectivos da casa militar e da polícia da fauna, armados”, descreve. "Tudo isso para impedir que nós saíssemos”, acrescenta o dirigente da UNITA, que fala numa ação de violência e intolerância política coordenada pelos dirigentes máximos do MPLA no Kuando Kubango, particularmente o seu primeiro secretário e governador da província, Pedro Mutindi.
"Sao os mesmos que nos atacaram no périplo do ano passado”, diz Sapiñala, referindo-se ao incidente envolvendo elementos da UNITA, incluindo deputados, que provocou a morte de três pessoas em 2016, em Benguela.
"É preciso perceber que ele, como governador, é entidade maxima da província. Se queremos manter o bom nome da província, ele deve ser o primeiro a combater esse tipo de comportamento”, considera Sapiñala. "Nós estivemos na administração daqui do Rivungo e ouvimos que, às vezes, o que chateia as pessoas é a UNITA dizer que vai ganhar as eleições. E dizer que a à UNITA vai ganhar é crime?”, questiona o dirigente da oposição.
Confrontado com estas acusações, o governador provincial do Kuando Kubango, igualmente secretário do MPLA naquela província, Pedro Mutindi, respondeu que o secretário da UNITA - a quem chamou "miúdo” - está a propagar mentiras.
"A UNITA sempre mente. Este tal delegado da UNITA que se ponha no seu devido lugar”, diz Mutindi. "A UNITA cometeu crimes neste país. Fomos nós que perdoámos. Agora se ele nao tem apoiantes, não encontra pessoas, devido à sua fraqueza e à sua incoerência, e quer criar factos politicos e atribuí-los a um governante, nós nao queremos perder tempo”, sublinha .
O governador do Kuando Kubango vai mais longe, afirmando não ter "mais paciência para aturar essa miudagem”. "Ele passa pelo Kuito Kuanavale, onde naturalmente a UNITA esteve a massacrar a populaçao, pode ter havido um indivíduo que atirou uma pedra. E é muito natural isso. Agora ele que vá atrás de quem atirou a pedra e nao acuse o MPLA”.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.