Após a derrota do MPLA em Luanda nas legislativas de 24 de agosto, o governador de Luanda, Manuel Homem, vai ter que gerir as expetativas de uma população que se decidiu claramente contra o partido no poder.
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O Movimento Popular de Libertação em Angola (MPLA) vai eleger, no próximo sábado (08.10), o governador de Luanda, Manuel Homem, para a liderança do Comité Provincial do partido na capital angolana, substituindo o atual primeiro secretário Bento Francisco Bento.
O partido no poder tenta, assim, melhorar a sua comunicação, depois de ser derrotado pela oposição, a União Nacional de Independência Total de Angola (UNITA), em Luanda, nas últimas eleições legislativas. É o que diz o analista político Edmilson Ângelo, docente das universidades de St.Mary's e Royal Holloway, ambas em Londres.
Em entrevista à DW África, Ângelo considera que os resultados do escrutínio recente tornam premente a realização de autárquicas. Para já, adianta o investigador, o MPLA vai ter que cooperar com "quem tem o domínio na capital", até para garantir a própria sobrevivência.
DW África: Como pode o MPLA redimir-se em Luanda?
Edmilson Ângelo (EA): Não é uma questão de como se pode redimir em Luanda, mas sim como pode cooperar com quem agora tem o domínio da capital para, talvez, mudar a sua imagem nas zonas urbanas do país. O que aconteceu com essa alteração não é nada de estranho, porque o 'modus operandi' do próprio partido já é assim. A pessoa que é eleita como governador é automaticamente a pessoa que é escolhida como primeiro secretário do partido. Só que houve uma nova estratégia para últimas eleições, onde isso foi separado. Havia um governador nesse âmbito e um secretário provincial para a província de Luanda. Isso apenas para as eleições.
Essa separação de poderes, ou, até certo ponto, essa dupla nomeação, não funcionou. Agora o MPLA volta àquilo que é o normal, que é nomear o governador, que acaba por ser automaticamente o primeiro secretário. Será o que vai acontecer nas outras províncias também.
DW África: Não sendo Manuel Homem uma figura nova na capital angolana, acredita que esta seja uma boa escolha da direção do MPLA?
EA: As pessoas não vão fazer a análise do trabalho de Manuel Homem enquanto primeiro secretário, mas sim enquanto governador da capital de Luanda. Então, isso é mais uma nomeação que acaba por ser uma questão interna do partido e não muito uma questão externa para o país como um todo. Claro que, tendo em conta o que aconteceu na capital, que foi essa grande derrota do próprio partido [MPLA], havia essa necessidade urgente de uma alteração. Talvez seja isso que estamos a ver com essa nomeação. Mas a nível do partido, não muda nada.
Derrota do MPLA em Luanda: "Chave para a descentralização"
06:25
DW África: Tendo em conta a derrota do MPLA em Luanda nas últimas eleições, pode-se dizer que esta troca no Comité Central acontece tarde demais ou vai sustentar o partido na capital angolana?
EA: Talvez o que vá acontecer aqui seja o novo slogan que o partido lançou logo depois das eleições, que é governar mais, fazer mais e comunicar melhor. Esta nomeação acaba também por refletir a nova estratégia do MPLA para uma melhor comunicação. Houve uma falha na comunicação e talvez agora, com a nomeação desse ex-ministro da Comunicação Social para governador de Luanda e para primeiro secretário [do partido] na capital, se acabe por ter aqui uma estratégia de melhor comunicação. Talvez seja a reflexão dos desafios do partido. Agora, ainda é cedo para fazermos uma análise sobre como será esse processo de nomear alguém que tenha o domínio da comunicação para a capital. Porque a verdade é que, mais do que qualquer coisa, as pessoas estão cada vez mais a tentar não olhar muito para identidades partidárias, mas sim para trabalho político dos governantes.
DW África: Se essa tendência de enfraquecimento do MPLA em Luanda continuar, quais poderiam ser as consequências para o partido?
EA: O partido será obrigado a ter que abrir mão do poder nas zonas urbanas como Luanda, possibilitando a partidos como a UNITA governarem as capitais. Mas, acima de tudo, aqui o desafio será aceitar que, cada vez mais, há a necessidade de abrir um espaço para as autarquias, [com] o partido no poder a ser o intermediador de todo o processo de governação local a nível da sociedade civil e do partido que for eleito nessas áreas. Mas a verdade é que, na eventualidade de isso não dar certo, o grande perigo é de estarmos aqui perante uma realidade onde o partido no poder não vai conseguir ganhar nem um voto ou ter um deputado na capital.
Angola: As eleições em imagens
Esta quarta-feira é dia de Angola decidir quem será o próximo Presidente e os deputados da Assembleia Nacional. A DW compilou as imagens desta manhã de eleições, no dia em que 14 milhões de angolanos vão às urnas.
Foto: Adolfo Guerra/DW
Longas filas no dia de decidir
As mesas de voto só abriram às 07h00, mas as filas para votar nas eleições mais disputadas de sempre em Angola começaram a formar-se bem cedo. Cabe aos eleitores decidir se "a força do povo" continua do lado do MPLA, mantendo no poder o partido que governa o país desde a independência, ou se dizem "sim" ao apelo de mudança da oposição liderada pela UNITA.
Foto: John Wessels/AFP
Oito partidos na corrida
Além dos rivais Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), concorrem Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Partido de Renovação Social (PRS), Aliança Patriótica Nacional (APN), Partido Nacionalista para a Justiça (P-NJANGO), Partido Humanista de Angola e a coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE).
Foto: António Cascais/DW
Madrugar para votar
Aos 79 anos, Adélia Namalange exerce hoje o seu direito de voto pela quinta vez. A idosa chegou às 5h00 à assembleia de voto número 9658, no município do Lobito, em Benguela, e esperou duas horas pela abertura das urnas, no dia que 14 milhões de angolanos decidem o futuro político do país.
Foto: Daniel Vasconcelos/DW
João Lourenço apela ao voto: "É Angola que ganha"
"Acabámos de exercer o nosso direito de voto, é rápido e é simples", disse João Lourenço, na assembleia de voto n.º 105, em Luanda, convidando os eleitores a fazerem o mesmo. No meio de uma enorme confusão de jornalistas que queriam registar o momento, o candidato do MPLA salientou que todos saem a ganhar: "É a democracia que ganha, é Angola que ganha."
Foto: AP Photo/picture alliance
Adalberto Costa Júnior critica processo
O líder da UNITA votou no bairro 28 de Agosto, em Luanda, onde foi fortemente aplaudido pelos eleitores presentes. "Fiquei satisfeito e votei no meio do meu povo e constatei que a votação está a ser feita sem cadernos eleitorais aos fiscais, apenas um caderno eleitoral na mesa", afirmou Adalberto Costa Júnior, que defendeu mais uma vez a afixação dos resultados nas assembleias de voto.
Foto: John Wessels/AFP
Manuel Fernandes "plenamente" confiante na vitória
Manuel Fernandes, o candidato da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), votou esta manhã no Bairro Militar, em Talatona, Luanda. Depois de votar, manifestou "plena confiança" no resultado eleitoral do atual terceiro partido com mais assentos no parlamento angolano.
Foto: Borralho Ndomba/DW
"Grande expetativa" de Nimi Ya Simbi é ganhar eleições
Nimi Ya Simbi, candidato da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), votou em Viana, um dos mais populosos municípios de Luanda. Minutos depois, Nimi disse que a sua "grande expetativa é ganhar as eleições." O líder da FNLA acredita que o seu partido "vai vencer" as eleições, "porque quem vai para o combate não vai para perder", tendo enaltecido o cumprimento do seu dever cívico.
Foto: Nelson Francisco Sul/DW
Benedito Daniel exorta à afixação das atas
O candidato do Partido de Renovação Social (PRS) exerceu o seu direito de voto no Instituto Superior Politécnico do Bita, em Luanda. Após votar, Benedito Daniel manifestou um "sentimento de alegria e de dever cumprido", exortando à afixação das atas sínteses nas assembleias. Disse também esperar que a CNE possa corresponder às expetativas dos eleitores.
Foto: DW/M. Luamba
Bela Malaquias insite em "humanizar" Angola
A líder do Partido Humanista de Angola (PHA), Florbela Malaquias, manifestou um "sentimento de realização" após votar e reiterou a promessa de humanizar Angola, "que se encontra completamente desumanizada em todos os sentidos", sublinhou a única mulher a liderar um partido político em Angola, depois de votar no bairro do Maculusso, distrito urbano da Ingombota, em Luanda.
Quintino Moreira, líder da Aliança Patriótica Nacional (APN), sem assento no Parlamento angolano, manifestou-se "otimista" em relação à obtenção de uma "bancada parlamentar vasta", para que não haja maiorias absolutas na "casa das leis", afirmou esta manhã, depois de depositar o seu voto numa assembleia de voto, em Talatona, perto da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dinho Chingunji contra "Votou, Sentou"
O candidato do Partido Nacional para a Justiça em Angola (P-Njango) considerou hoje as eleições como "ocasião soberana" para escolha dos governantes e exortou os eleitores a esperarem os resultados em casa, contrariando o movimento "Votou, Sentou". Chingunji, que votou no município do Kilamba Kiaxi, em Luanda, exortou "os cidadãos a regressarem para as suas casas e a esperar pelos resultados".
Foto: Borralho Ndomba/DW
CNE diz que está tudo a funcionar
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que as 13.238 assembleias de voto espalhadas pelos 164 municípios angolanos "estão abertas e em perfeito funcionamento" e "não há registo de qualquer incidente" que possa beliscar a votação. Também foram constituídas 45 mesas de voto no estrangeiro, para as quais foram recrutados 105.952 membros.
Foto: António Cascais/DW
UNITA denuncia irregularidades no Bengo
No Bengo, a UNITA chamou os jornalistas para denunciar supostas irregularidades na votação. De acordo com o partido do "galo negro", a CNE local está a proibir que os delegados de lista suplentes exerçam o direito de voto nas assembleias para as quais estão destacados, contrariando, desta forma, uma circular da própria Comissão Nacional de Eleições.
Foto: António Ambrósio/DW
Queixas de eleitores em Cabinda
A votação em Cabinda está a decorrer com alguma normalidade, mas com várias queixas por parte dos eleitores que dizem desconhecer as suas mesas de voto. Os cidadãos são obrigados a percorrer longas distâncias para votar, já que foram colocados em pontos longínquos da província e da capital. E há delegados de lista de partidos que não foram credenciados.
Foto: Simão Lelo/DW
Delegados monitorizam processo
Delegados de lista dos partidos políticos controlam o processo de votação no Bairro da Cuca, em Luanda, a capital. Durante a campanha eleitoral, o polémico movimento "Votou, Sentou", propalado por alguns partidos e membros da sociedade civil, também pediu aos eleitores para permanecerem nas imediações das assembleias de voto.
Foto: Manuel Luamba/DW
O voto da diáspora em Portugal
O ator Daniel Martinho, a viver há cerca de 40 anos em Portugal, foi ao Consulado Geral de Angola em Lisboa votar, feliz por ser a primeira vez que foi dada à comunidade radicada no exterior a possibilidade de exercer o direito de voto. "Era uma aspiração que nos incomodava", contou à DW. "É uma forma de contribuirmos para um país melhor, porque nós na diáspora também fazemos Angola", precisou.