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Angola: MPLA só precisa dos sobas na "fase das eleições"

Manuel Luamba
23 de abril de 2021

Número considerável de sobas angolanos diz não receber há já algum tempo o subsídio mensal a que as autoridades tradicionais têm direito. Dinheiro não seria necessário se o Estado lhes desse terrenos para agricultura.

Soba Lucas Pedro "Muene Macongo" (foto ilustrativa)Foto: DW/M. Luamba

Angola conta com mais de 40 mil autoridades tradicionais. Alguns dos sobas, como são chamados, queixam-se da falta dos seus subsídios mensais, embora o governo diga que está a pagar os valores mensalmente.

O secretário-geral do Conselho Angolano de Coordenação das Associações das Autoridades Tradicionais (CACAAT), Tiago Malanda, diz que os sobas poderão ser valorizados pelo partido no poder em 2022, altura das eleições gerais. "Nós fazemos muito trabalho nas comunidades, muito trabalho até a favor do MPLA, mas o MPLA só precisa de nós quando é fase das eleições", lamenta.

Esta autoridade tradicional entende que os sobas não precisariam dos subsídios se o Estado lhes desse terrenos para a prática da agricultura. "Nós dissemos que não precisamos de subsídios. Nos dêem só autoridade, nas nossas terras, as terras comunitárias, nós próprios vamos gerir as nossas terras e aí poderemos encontrar o ângulo de sustentabilidade das autoridades tradicionais", sugere.

Uma prática colonial

Ao atribuir subsídios, explica Malamba, o governo estaria adoptar a prática colonial e lembra que as autoridades tradicionais são uma realidade pré-existencial ao Estado angolano. Ou seja, quando o colono português chegou a Angola, em 1482, já existia o poder tradicional.  

Armindo Francisco Kalupeteka Foto: Jorge Neto

"Esse sistema de subsídios que eles estão a dar é sistema do colono. O colono dava subsídio para controlar os sobas e denunciar os guerrilheiros que lutavam para independência. E eles também estão com a teoria. Davam subsídios para que os sobas que recebem subsídios sejam do partido MPLA, enquanto o MPLA é uma instituição nova. O soba vem antes da fundação deste país", lembra Tiago Malanda.

Apesar destes problemas mencionados pelas autoridades tradicionais, o ativista angolano Nelson Euclides não acredita que os sobas se revoltem contra o governo de Luanda. "Tenho dúvidas mesmo porque estes homens que nós chamamos hoje de sobas, esqueceram o poder deles. Na sua maioria são membros dos CAP´s (Comité de Ação do Partido), das células e será difícil, infelizmente enfrentar o MPLA onde eles são subordinados", explica.

Rebelião do rei Ekuikui V

Entretanto, houve já uma suposta rebelião protagonizada pelo rei Ekuikui V, por ter sido condenado a seis anos de prisão maior.   

Nelson Euclides acredita que esta atitude de Armindo Francisco Kalupeteka motivou o governo central ao envio, em março, de 2,8 milhões de kwanzas (cerca de 4,5 milhões de dólares) para reabilitação, apetrechamento e a conclusão do projeto de Ombala yo Mbalundu - como é conhecido o reino do Bailundo. Mas não acredita que este ato venha a estender-se.

"Esse dinheiro foi usado para poder acalmar a situação e conseguir controlar porque havia alguém que estava a rebelar-se que estava a mostrar que era mesmo rei. E no fim foi destituído", conta o ativista.

O rei foi destituído do poder, a 26 de março, por um coletivo de sobas por lesar a ordem moral e as tradições do reino. 

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