Em Luanda, centenas de mulheres marcharam no sábado (25.11), contra a violência em Angola. Contrariamente ao que acontecia na governação de JES, forças de segurança estiverem a garantir tranquilidade aos manifestantes.
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Mulheres e homens gritaram "basta" à violência sexual, física e institucional contra a mulher angolana. Centenas de manifestantes percorreram no sábado (25.11.) as várias artérias da cidade-capital exibindo cartazes com dizeres "surra não", "tenho direito e mereço respeito" entre outros, uma demonstração que não foi reprimida pela força de segurança contrariamente ao que acontecia no anterior Governo.
Muitos já se interrogam se haverá mudança no capítulo das liberdades de manifestação e expressão com o novo Presidente João Lourenço? Ativistas angolanos, ouvidos pela DW África, esperam que sim.
Balanço positivo
"Parem de matar as Mulheres", foi o lema da iniciativa do Ondjango Feminista, em parceria com outras organizações da sociedade civil. Laura Macedo da organização fez balanço positivo da marcha.
"A princípio contei cerca de 300 pessoas mas quando estávamos a passar junto ao mercado dos Congoleses houve uma grande adesão de zungueiras, vendedoras e de pessoas que estavam a circular na via".
Esta é a primeira manifestação de vulto, realizada na chamada "nova Angola" do novo Governo chefiado pelo Presidente João Lourenço. Laura Macedo gostou da atuação da Polícia Nacional, que contrasta com o que até agora foi a prática.
"Durante a marcha foi tranquila. Os polícias conversaram sempre connosco”.
Repressão das manifestações no tempo de JES
Na governação anterior, as manifestações não eram tranquilas. As forças de segurança não conversavam com os manifestantes. Em maio de 2013, por exemplo, um protesto que visava exigir explicações sobre o assassinato dos ativistas Alves Kamulingue e Isaias Cassule, foi violentamente reprimida pela polícia, na sequência da onda de protestos, inspirados na chamada "Primavera Árabe", que exigia a destituição do então Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Em entrevista a DW África, Mário António Franco Fuba, na altura uma das vítimas da repressão policial, lembra:
"Fomos feridos. Eu sofri muito na parte do braço e da cabeça. Quem nos ajudou foi o William Tonet e Rafael Marques. Fomos levados a clínica de Santo António, localizado nos Congoleses onde foram tratados os ferimentos. Tínhamos sido espancados pela polícia do regime do MPLA. Depois da assistência o senhor Rafael Marques levou cada um de nós à sua respetiva residência".
Adão Bunga, mais conhecido por "MC Life", já foi condenado pelo Tribunal Municipal de Cacuaco por realizar uma manifestação que simplesmente exigia eleições livres e justas em Angola.
Novas esperançasNo atual contexto, haverá mudança no capítulo das liberdades de manifestação e expressão com o novo Presidente?
Nova angola? - MP3-Mono
"Esperamos que o novo Presidente venha mudar aquele paradigma que o ex-Presidente da República, implementou aqui no país: a tortura, a repressão contra os manifestantes. Esperemos que isso venha acabar".
Adão Bunga "acredita" por outro lado, que o novo Comandante geral da Polícia Nacional, o Comissário-Geral Alfredo Mingas, deverá cumprir a lei: garantir a segurança aos manifestantes.
"Acredito que haverá mudanças e não existirá mais repressão dos manifestantes. Porque o antigo comandante praticamente obedecia ordens do Presidente José Eduardo. O novo vai obedecer também as normas que o Presidente João Lourenço implementar, mas de certeza não serão como as anteriores”.
Ao novo governador da Província de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, o ativista Adão Bunga, recorda que uma "manifestação não carece da autorização, mas sim de aviso prévio às autoridades para que estas possam garantir ou dar segurança aos manifestantes no pleno exercício do seu direito de cidadania".
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura
A maioria das mulheres guineenses tem uma vida difícil. Têm de percorrer dezenas de quilómetros para ir buscar lenha. Muitas morrem ainda jovens. A taxa guineense de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo.
Foto: DW/B. Darame
Primeira a acordar, última a ir dormir
No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Costuma acordar antes dos restantes membros da família e é a última a deitar-se no final do dia. São as mulheres que têm de caminhar até à mata para procurar lenha e água, às vezes em zonas de difícil acesso, a vários quilómetros da aldeia, como nesta fotografia na vila de Quinhamel, na região de Biombo, no norte da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Vender para sustentar a família
Com um pano estendido no chão, as vendedoras vão expondo os seus legumes, malaguetas verdes, pepinos, cenouras, alfaces. São cultivados em quintais ou em pequenos campos. "Vender para sustentar a família" é o lema das mulheres guineenses. Mais de metade vende em feiras improvisadas, como aqui no Mercado de Bandim, o maior mercado de céu aberto da cidade de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Economia dominada por homens
À beira das estradas, as mulheres sentam-se em bancos e mesas de madeira e vendem laranjas, mangas, bananas e outros frutos - como aqui em Bissack, bairro nos arredores de Bissau. As vendedoras têm uma receita que ronda os 10 euros diários. Em média, uma guineense consegue ganhar 907 dólares por ano, bastante menos que os homens que conseguem em média 1.275 dólares.
Foto: DW/B. Darame
Recolher areia para sobreviver
Tia Nhalá não sabe que idade tem, mas sabe que todos os dias deve acordar cedo, às 05h00, para recolher areia no bairro de Cuntum, em Bissau. Sem qualquer proteção no rosto, sem luvas e pés descalços, Nhalá, que aparenta ter 67 anos, trabalha duramente durante largas horas. Recolhe areia que depois vende a pessoas que a usam em obras de construção civil.
Foto: DW/B. Darame
Venda ambulante em condições perigosas
No Bairro de Belém, em Bissau, meninas deambulam de porta em porta para vender frutas. Organizações da sociedade civil denunciaram já várias vezes que as vendedoras ambulantes correm riscos, como o de serem violadas sexualmente, pois estão muito expostas e vulneráveis. Também há denúncias de que algumas mulheres são forçadas a fazer esse trabalho.
Foto: DW/B. Darame
Vender peixe é um bom negócio
As vendedoras de peixe geralmente possuem arcas velhas para a conservação do pescado. Colocam-nas nos portos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - para servir de local de armazenamento quando receberem peixe fresco dos pescadores. Nos últimos anos, a venda de peixe tornou-se num dos negócios mais rentáveis para as mulheres guineenses.
Foto: DW/B. Darame
Um dos piores países para ser mãe
As condições precárias nas zonas rurais da Guiné-Bissau têm reflexos nas estatísticas: em 126 partos morre uma mulher, segundo dados das Nações Unidas. Em comparação, no Japão, em 20.000 partos morre uma mulher. A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau é uma das mais altas do mundo. Ainda assim, não existe no país uma estratégia política dirigida à mulher no meio rural.
Foto: DW/B. Darame
País difícil para as crianças
Cada mulher guineense tem em média cinco filhos. O país tem uma das taxas de fecundidade mais altas do mundo. Mas muitas crianças não chegam a celebrar o seu quinto aniversário. Segundo dados das Nações Unidas, 129 de 1.000 crianças morrem até aos cinco anos de idade, muitas durante no parto, o que torna a Guiné-Bissau um dos piores países do mundo para se nascer.
Foto: DW/B. Darame
Trabalhos domésticos no feminino
Em Mansoa, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, as casas de adobe agrupadas debaixo de enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança. A comida prepara-se num fogão improvisado a lenha, em frente da casa. Trabalhos domésticos como cozinhar, cuidar das crianças ou limpar cabem tradicionalmente às mulheres.
Foto: DW/B. Darame
Carregar à cabeça é a única solução
Nas zonas mais recônditas da Guiné-Bissau, como na aldeia de Suru, região de Biombo, a cerca de 20 quilómetros de Bissau, não há uma rede de estradas que facilite o transporte das mercadorias. Não há carros que façam as ligações entre as aldeias. Carregar à cabeça, por vezes mais de cinco quilos, é a única solução para que essas mulheres possam fazer chegar os produtos ao destino.
Foto: DW/B. Darame
Lenha e água a quilómetros de distância
Nas mais de 80 ilhas e ilhéus completamente isolados e sem grande presença do Estado guineense, as populações vivem no regime do "salva-se quem poder". As mulheres percorrem dezenas de quilómetros para ir buscar lenha e água potável. Em muitos casos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - atravessam rios caminhando, com os pés descalços, sem roupas adequadas e carregadas.
Foto: DW/B. Darame
Ultrapassando rios e braços de mar
Devido à falta de barcos nas aldeias insulares do arquipélago dos Bijagós, o fornecimento e o transporte de bens é extremamente difícil. É recorrente ver mulheres atravessando rios ou braços de mar bastante profundos. Estes caminhos para procurar lenha e água doce são bastante perigosos para quem não sabe nadar.
Foto: DW/B. Darame
Desigualdade começa na educação
A maioria das mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza. Em médias, as mulheres frequentaram a escola apenas 1,4 anos, menos de metade do que os homens guineenses, que têm em média 3,4 anos de escolaridade, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Só investindo na educação e na saúde será possível melhorar a situação das mulheres da Guiné-Bissau.