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Angola: "Não há medidas para melhorar a vida das pessoas"

Lusa
20 de outubro de 2019

Segundo investigador Domingos da Cruz, reformas lançadas por João Lourenço não mostram estratégia económica. Presidente angolano concluiu este sábado (19.10) uma visita de dois dias ao Bié.

Journalist Domingos da Cruz
Domingos da CruzFoto: DW/J. Carlos

O professor universitário Domingos da Cruz disse neste domingo (20.10) que não há medidas concretas em Angola para melhorar a vida dos cidadãos, considerando que as reformas lançadas por João Lourenço não mostram uma estratégia económica. Críticas do investigador acontecem um dia depois de o Presidente angolano João Lourenço concluir visita de dois dias ao Bié para ouvir as preocupações de civis.

O investigador considerou ainda que os observadores internacionais foram "precipitados" em decretar uma mudança política em Angola, salientando que o objetivo do Presidente é manter o poder através de uma nova narrativa. "Terá havido uma precipitação, ao nível externo, em tirarem conclusões relativamente a Angola, foram demasiado precipitadas, rápidas, e baseadas naquilo que se chama impressão", disse o académico e ativista Domingos da Cruz. 

"É certo que não se pode reestruturar o país em dois anos, mas do ponto de vista económico não há avanços, não há medidas concretas que mudem substancialmente a vida das pessoas, porque o que assistimos são medidas isoladas, parecem sem sentido, completamente descoordenadas", acrescentou o académico.

Projeto político

Presidente angolano João Lourenço Foto: DW/C.V. Teixeira

"[João Lourenço] não é um homem que tem um projeto político de país, que seja sistemático. Há medidas isoladas e essas são inaceitáveis quando se está a governar um país", defendeu o académico que foi o tradutor do livro 'From dictatorship to Democracy: A Conceptual Framework for Liberation', escrita por Gene Sharp, pelo qual acabou condenado a uma pena de prisão.

"Governar é resolver os problemas das pessoas de forma concreta; ora, quando alguém chega ao poder num país esfacelado como Angola, é preciso tomar medidas concretas, mas a arquitetura política angolana infelizmente inviabiliza qualquer progressão nos mais variados campos", lamentou Domingos da Cruz, considerando que João Lourenço é cúmplice da manutenção do status quo, já que rejeita alterações constitucionais.

"Quando se opõe a uma reforma constitucional, significa que tem simpatia pelo poder autoritário, porque a Constituição vigente adequava-se perfeitamente ao exercício de um poder autoritário, terá sido construída à vontade de José Eduardo dos Santos e o novo Presidente também se sente bem neste fato", acusou.

Questionado sobre as reformas económicas lançadas pelo Governo, e que são apontadas pela comunidade internacional como sinal de uma mudança concreta no país, Domingos da Cruz defendeu que são medidas avulsas e que ainda não surtiram efeito.

Miséria absoluta

Kinanga, LuandaFoto: DW/N. Sul d'Angola

"Temos muita gente em situação de miséria absoluta, podíamos elaborar um programa de transferência de renda [rendimentos] aos mais vulneráveis, apoio a crianças e famílias numerosas, criação de um banco que concedesse crédito a pequenos e micro negócios. E, do ponto de vista da alteração da arquitetura política, é preciso uma reforma ao nível do sistema de defesa e segurança", apontou.

Ao nível da imprensa, continuou, "João Lourenço devia apoiar a imprensa privada, mas não o faz", criticou o académico. "Como ter um discurso plural, verdadeiramente democrático e não apoia a imprensa privada. Pelo contrário, estamos a ver um discurso de manipulação mais ou menos generalizado na televisão pública de angola, na rádio pública, na Angop", concluiu.

Em junho de 2015, Domingos da Cruz foi detido com outros 16 ativistas angolanos e, um ano depois, foi condenado a oito anos e meio de prisão, por atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores, a pena mais dura do grupo.

 

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