Estudo da organização Panthera estima que, dos cerca de mil leões existentes, em 2005, nos parques nacionais de Luengue-Luiana e Mavinga, em Angola, tenham sobrevivido apenas entre 10 e 30. A maior ameaça são as pessoas.
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As populações de vida selvagem presentes nos parques nacionais de Luengue-Luiana e Mavinga, em Angola, – dois dos mais importantes da Área Transfronteiriça de Conservação do Okavango/Zambeze, mais conhecida como KAZA -, foram dizimadas durante a guerra civil que assolou o país por vários anos, e que terminou em 2002. Um estudo realizado pela organização não-governamental Panthera e cujos resultados foram divulgados recentemente, dá conta que, dos cerca de mil leões que existiam nestes parques há doze anos atrás, devem existir atualmente apenas entre 10 e 30.
Em entrevista à DW África, Paul Funston, o diretor do Programa de Leões da organização mundial de conservação de animais selvagens Panthera, afirma que o reduzido número de leões pode ser explicado pela intervenção humana nos seus habitats e que esta é a "maior ameaça” para estes animais. Segundo o investigador, estas "áreas estão ainda a recuperar-se da guerra civil” e o facto de as pessoas que vivem nestes parques serem muito pobres faz com que "utilizem a caça de animais selvagens como meio de sobrevivência - quer para a sua alimentação, quer para fazer dinheiro”. Uma prática que afeta, principalmente, as presas que os leões gostam de comer, acrescenta.
O mesmo estudo revelou que, à semelhança dos leões, também os cudos e zebras foram detetados em poucas fotografias. Resultados mais positivos apresentaram outros carnívoros. No período em estudo, de junho a outubro de 2015 e 2016, foram detetadas 151 chitas, 518 leopardos e cerca de 600 cães selvagens africanos. No total, 19 espécies de mamíferos e uma espécie de réptil foram observadas como carne de caça.
Que soluções?
Para Paul Funston, a solução para a recuperação dos leões, mas também de outras populações de mamíferos, passa por incentivar economicamente as comunidades que vivem nestes espaços. As recomendações da investigação passam por isso, explica Paul Funston, pela melhoria da aplicação da lei e pelo delineamento de uma melhor estratégia de segurança nestes lugares. "Nas principais áreas protegidas, o dinheiro gasto na aplicação da lei é muito baixo”, afirma o investigador, acrescentando que, na sua opinião, é necessário "encontrar incentivos económicos – como o desenvolvimento do turismo, por exemplo - para que seja mais fácil a população tolerar e não prejudicar a vida selvagem”.
Segundo Paul Funston, os resultados foram já apresentados ao Governo angolano e ambos têm estado a discutir as ações a implementar no futuro. "Temos debatido potenciais soluções, tais como melhorar a aplicação da lei e reforçar as patrulhas anti-caça. Também discutimos formas de desenvolver uma economia baseada em programas de conservação onde as pessoas locais seriam integradas nas patrulhas anti-caça ou podiam trabalhar na manutenção de estradas, ou talvez, no controlo de incêndios”, explicou. O investigador acredita que, "com um emprego e dinheiro, a convivência entre as comunidades e a vida selvagem” sairá beneficiada.
Parques com potencial turístico
28.06.2017 Angola-Leões - MP3-Mono
O estudo revelou ainda o potencial turístico de ambos os parques para o turismo. De acordo com os investigadores, o parque Luengue-Luiana tem características favoráveis para o turismo de quatro rodas. A construção de acampamentos e pequenas pousadas ao longo dos rios Cubango e Cuito, assim como uma rede rodoviária para cada uma delas, é também sugerida na investigação.
O estudo levado a cabo pela Panthera foi realizado no âmbito de um acordo assinado a 25 de julho de 2015 com o Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação (INBAC) do Ministério do Ambiente (MINAMB) angolano e decorreu de junho a outubro de 2015 e 2016.
Neste período, os investigadores quiseram avaliar a distribuição dos grandes carnívoros e herbívoros nos dois parques, utilizando armadilhas fotográficas para registar os rastos. O estudo cobriu uma área de 27.500 km2 ao longo dos rios Curado, Luiana e Luengue. Pretendeu-se ainda listar os diferentes fatores que estão a impactar a vida selvagem nestas áreas protegidas, como é o caso da intervenção do Homem. "Sinais de atividade humana – principalmente ao longo dos rios - foram registados com maior frequência do que qualquer espécie de animal silvestre”, lê-se no estudo.
No total, foram detetadas 51 espécies nos parques nacionais de Luengue-Luiana e Mavinga.
Novos dados da Fundo Mundial da Natureza (WWF) indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. Em algumas zonas do país, o número de carcaças aumentou até seis vezes.
Foto: STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/Getty Images
Carcaças de elefantes em Niassa triplicam
Novos dados da WWF indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. O número de carcaças de elefantes é seis vezes superior em certas áreas do país. Dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, fez com que o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 em 2011 para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Armas da polícia moçambicana usadas
O relatório afirma que, apesar do número de armas apreendidas estar a aumentar, muitas destas pertencem a instituições de segurança moçambicanas. Um dos exemplos apontados indica que uma das armas da polícia moçambicana em Masssingir foi apreendida três vezes consecutivas em atividades de caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.
Foto: E. Valoi
Rinocerontes moçambicanos extintos
Segundo o estudo, a caça furtiva levou à extinção das populações de rinoceronte em Moçambique no ano passado, com a morte dos últimos 15 rinocerontes no final de 2013. As autoridades acreditam agora que a maioria dos caçadores opera a partir da zona do Limpopo, área que faz fronteira com Parque National Kruger na África do Sul.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Elefantes da Reserva do Niassa sob ameaça
A população de elefantes de Moçambique concentra-se, na sua maioria, na Reserva Nacional do Niassa e no distrito de Mágoè, além das zonas transfronteiriças. Mas dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa fez com que o número de carcaças, estimado em contagens aéreas, triplicasse de cerca de 756 em 2011, para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Quirimbas também sob ameaça
Também noutras áreas tem aumentado a caça de elefantes. Em novembro do ano passado, a WWF Alemanha financiou uma contagem áerea no Parque Nacional das Quirimbas. Um em cada dois elefantes avistados era um carcaça, num total de 811. Este número é seis vezes superior às contagens de 2011, onde o número de carcaças contabilizado era 119. Na foto: um elefante morto na Reserva do Niassa.
Foto: Estácio Valoi
Capacidade de deteção continua fraca
O relatório acrescenta que a capacidade das autoridades moçambicanas em detetar marfim nos portos e aeroportos do país é fraca (na foto: guardas da Reserva do Niassa). No entanto, as apreensões aumentaram um pouco: em 2013 foram apanhados cerca de 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto de Maputo. No primeiro trimestre de 2014, já se contabilizam 6 chifres de rinoceronte apreendidos.
Foto: E. Valoi
Aumento da procura nos mercados asiáticos
A WWF acredita que o aumento da caça está relacionado com o incremento da procura nos mercados asiáticos, onde o chifre de rinoceronte é usado na medicina tradicional asiática, uma vez que é considerado um ingrediente essencial. O marfim, por sua vez, é visto como uma raridade e um item de luxo, algo muito prezado nas classes emergentes chinesa e vietnamita.
Foto: E. Valoi
Moçambicanos incriminados no Kruger
Em meados de junho de 2014, apareceram cartazes populares na zona da fronteira do Parque Nacional Kruger com Massingir que acusam Moçambique de ser o principal responsável pela morte dos animais na reserva sul-africana. Os cartazes revindicavam ainda a reconstrução da cerca que marca a fronteira entre os dois parques. Só nos primeiros meses do ano, foram presas 57 pessoas e mortos 266 animais.
Foto: JON HRUSA/AP/dapd
Patrulhas do Kruger matam caçadores
Nos últimos anos tem aumentado o número de incidentes entre caçadores furtivos e os guardas-patrulha do Parque Nacional Kruger da África do Sul, acabando muitas vezes com a morte ou prisão dos caçadores furtivos. Segundo a polícia de Moçambique, morrem, por mês, dois jovens moçambicanos por causa da caça furtiva.