Profissionais de saúde exigem do Governo melhores condições de trabalho e estão preocupados com défice de testes para a Covid-19 nos hospitais. Número de infeção e de mortes em outubro preocupa sindicato dos médicos.
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O novo coronavírus já infetou pelo menos 45 profissionais de saúde em Angola, segundo dados divulgados recentemente pelo Ministério da Saúde, no habitual balanço da situação sanitária no país. Médicos ouvidos pela DW África apontam que a escassez de materiais de biossegurança nos hospitais de Angola, tais como máscaras cirúrgicas, poderá facilitar mais contágio aos técnicos dos hospitais.
O médico neurologista Job Monteiro afirma que o Governo deve garantir condições favoráveis para que os profissionais prestem melhor atendimento aos pacientes que precisam de cuidados intensivos.
"A nossa maior preocupação está relacionada com a questão de biossegurança, em primeiro lugar para os profissionais de saúde, para conseguirmos dar uma resposta rápida àqueles pacientes que testam positivo e que depois precisam de um acompanhamento médico mais intenso", nota.
A infectologista do Hospital Américo Boavida, Katiana Antas, afirma que as dificuldades começam a partir do momento que se faz a triagem dos pacientes que saem dos hospitais com carência dos testes.
"Temos recebido muitos casos de doenças respiratórias, mas não temos ainda as condições necessárias para prestar melhor atendimento nestes tempos de pandemia aos nossos doentes. Estamos a correr muitos riscos porque somos muito expostos", denuncia.
O lado hilário do uso de máscaras em tempos de Covid-19
05:09
Covid-19 mata nove médicos em outubro
Segundo o Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA), em outubro, o país perdeu nove médicos vítimas do novo coronavírus.
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"Sete desses [médicos] morreram no exercício da profissão. Dois já estavam aposentados, mas morreram pela Covid-19", informa Adriano Manuel, presidente do SINMEA.
"Durante esse período, [também] tivemos registo de mortes de outros médicos. Este é o que chamamos de um 'mês cinzento' para a classe médica angolana. Perdemos dois eminentes docentes da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto - um com patologia crónica e outro com patologia não identificada. Estamos preocupados", acrescenta.
Adriano Manuel afirma que as condições de biossegurança nas unidades de saúde não são reais. O sindicato apresentou recentemente ao Governo angolano um memorando onde estão expostos os problemas dos hospitais e soluções para melhoria. O sindicalista esclarece que a maior preocupação é a falta de testes.
"Há um défice de testes em todos os hospitais de Angola. A ministra disse que não há rotura, mas as informações que temos de quadros seniores do Ministério da Saúde é de que há. Eventualmente, vamos receber outras informações na voz da senhora ministra durante esta semana. Mas sabemos que existe rotura de testes", garantiu.
Ministra da Saúde nega falta de testes
Em declarações à imprensa, à margem da abertura do novo ano Parlamentar, a ministra angolana da Saúde negou as informações de escassez de testes, dizendo que houve apenas um problema no transporte dos materiais de um dos tipos de teste. Sílvia Lutucuta garante que a situação vai ser resolvida nos próximos dias.
"Não temos dificuldade nenhuma com o RTPCR [o teste molecular que identifica o vírus]. Agora temos aumentado a nossa capacidade de testes. Quanto aos testes serológicos, só para avaliar a exposição, houve um pequeno interregno por dois dias, mas já estarão cá", tranquiliza.
A ministra esclareceu que houve um problema com a ligação área do transporte, uma vez que os testes são adquiridos no mercado internacional "bastante competitivo", justificou, dizendo que está "tudo feito para não faltarem".
Véus e turbantes: Rostos cobertos nas culturas africanas
Com a pandemia da Covid-19, cada vez mais africanos usam máscaras para se proteger da doença. Mas em algumas regiões do continente, cobrir o rosto é uma tradição secular.
Foto: picture-alliance/imageBroker
Líbia: O ritual dos turbantes e véus tuaregues
O deserto do Saara e a zona do Sahel abrigam os tuaregues, povos nómadas do continente africano. Os turbantes, bem como os véus faciais usados pelos homens, são uma forma de proteção contra o sol e a areia. Mas não são usados apenas para proteção: os revestimentos da cabeça transmitem respeito e dignidade, enquanto vestir o véu também é um ritual masculino de passagem para a vida adulta.
Foto: picture-alliance/imageBroker
Líbia: Tradição dos homens tuaregues
Apenas homens tuaregues cobrem o rosto. Segundo a tradição, o véu protege contra os espíritos dos mortos, chamados "Kel Eru", enquanto os homens viajam pelo deserto. Historicamente, turbantes e véus tuaregues eram tingidos de índigo, o que deixa traços de coloração na pele. Por causa disso, os tuaregues eram conhecidos como o "povo azul" do deserto.
O povo tuaregue pertence ao grupo maior de berberes, nómadas que residem no norte de África. Hoje em dia, muitos deles estão instalados em locais específicos. No Níger, eles autodenominam-se "Imajeghen", na Argélia e na Líbia "Imuhagh" e os "Imushagh", no Mali. A palavra estrangeira "Tuareg" remonta à palavra berbere "Targa", que foi usada para descrever uma província na Líbia.
Foto: picture-alliance/imageBroker/K. Kreder
Marrocos: Berberes usam o "litham"
Os tradicionais adereços e véus faciais dos tuaregues são chamados de "Tagelmust" ou "litham". Na foto, o "litham" amarelo é usado por um homem que vive na parte marroquina do Saara. Ele pertence aos berberes de Marrocos. Tradicionalmente, durante os conflitos, um pano como esse dificultava o reconhecimento do usuário.
Foto: picture-alliance/ blickwinkel/W. G. Allgoewer
Egito: Os adereços dos beduínos
Como os tuaregues e os berberes, os beduínos também são habitantes nómadas do deserto. Eles vivem na Península Arábica e em estados vizinhos, incluindo Israel e Egito. O nome do tecido que esse homem na imagem usa no deserto líbio do Egito é chamado "Kufiya" ou, em algumas áreas, "Ghutra" ou "Hatta". A forma como é usado varia de região para região.
Foto: picture-alliance/imageBroker
Chade: O véu dos homens Tubu
Também são os homens, e não as mulheres, que usam véu no povo Tubu, na bacia do norte do Chade. Os homens também são responsáveis por costurar roupas. Os Tubu costumam trabalhar como pastores, cuidando de ovelhas e cabras ou criando camelos.
Foto: picture-alliance/dpa
Nigéria: O emir usa véu
O véu também pode ser encontrado no estado de Kano, na Nigéria, como o usado pelo atual emir do país. Até março de 2020, era Muhammadu Sanusi II (foto acima, na sua nomeação em 2014). O seu sucessor é Aminu Ado Bayero. O emir de Kano é o segundo líder muçulmano mais importante do país, depois do sultão.
Foto: Amino Abubakar/AFP/Getty Images
Marrocos: Mulheres de niqab
Muitas muçulmanas cobrem o rosto com um niqab. É comum na Península Arábica, mas com menos frequência no norte de África. A mulher nesta foto também usa a abaya tradicional - um sobretudo longo - e um lenço na cabeça. No entanto, Marrocos impôs uma proibição de vendas de burca e niqab em 2017. Isso pode ter sido devido a preocupações de segurança.
Foto: picture-alliance/imageBROKER/W. G. Allgöwer
Somália: Muçulmanas também cobrem o rosto
Hoje, as mulheres religiosas da Somália vestem-se de maneira diferente. Os muçulmanos tradicionalmente não cobriam o rosto com o niqab no país, mas isso é visto com mais frequência desde os anos 80, devido à crescente influência do Islão - especialmente nas cidades. Na foto, algumas estudantes de Mogadíscio usam um niqab.
Foto: picture-alliance/Photoshot
Zanzibar: Mulheres cobertas na praia
Um pouco mais ao sul, em Zanzibar, que faz parte da Tanzânia, também há mulheres que cobrem o rosto. Quase exclusivamente muçulmanos vivem no arquipélago de Zanzibar. Cobrir o rosto passa a ser cada vez mais comum em todo o continente africano.
Foto: picture-alliance/imageBROKER/M. Moxter
Quénia: Máscaras de tecido contra a Covid-19
Devido ao coronavírus, no Quénia, por exemplo, agora é obrigatório usar máscaras em público. Mas nem todos podem comprar máscaras descartáveis. Em Kibera, um bairro pobre de Nairobi, o designer David Ochieng distribui máscaras de tecido reutilizáveis que ele e a sua empresa, Lookslike Avido, fazem para os necessitados.
Foto: picture-alliance/ZumaPress/D. Sigwe
Quénia: Máscaras de designer para todos
O designer David Ochieng, que se chama Avido, é visto aqui usando uma das máscaras de proteção que ele produziu. Avido cresceu no bairro de Kibera e normalmente cria os seus próprios projetos. Neste outono, a sua empresa Lookslike Avido foi convidada para participar do Ökorausch-Festival em Colónia, Alemanha, que destaca o design sustentável.
Foto: picture-alliance/ZumaPress/D. Odhiambo
Quénia: Emprego alternativo
A fabricante de móveis Sara Reeves foi forçada a fechar a sua oficina em Nairobi durante a crise do coronavírus. Então, ela e sua equipa passaram a fazer máscaras. Eles usam os tecidos coloridos de kitenge, típicos da África Oriental. Sara doa uma máscara para cada uma que vende. Dessa forma, as máscaras "entrarão nas mãos e nos rostos das pessoas que precisam de proteção", diz Reeves.
Foto: picture-alliance/dpa/Michelle Vugutsa/Love Artisan Kenya
Quénia: Itens e equipamentos contra a Covid-19
Cerca de trezentas costureiras numa fábrica em Nairobi produzem 20 mil máscaras descartáveis todos os dias. Algumas fábricas no Quénia mudaram a produção para fazer máscaras cirúrgicas e outros equipamentos de proteção contra a Covid-19.