O Presidente angolano, João Lourenço, nomeou o seu irmão, Sequeira João Lourenço, para o cargo de chefe adjunto da casa militar da Presidência da República. Será mais um caso de nepotismo?
Foto: Borralho Ndomba/DW
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"Rigorosamente, não se pode falar de nepotismo" no caso da nomeação do general Sequeira João Lourenço, afirma em declarações à DW África analista angolano Ilídio Manuel. "Uma vez que o irmão do Presidente da República fez a sua carreira militar e é uma das figuras que sempre esteve ligada aos meios castrenses", lembra Manuel, que, no entanto, não descarta porém a validade de questionar se outra pessoa teria tido as mesmas qualificações para o cargo.
Para o também jornalista Ilídio Manuel, a nomeação do irmão pode ser indicativa da falta de confiança de João Lourenço nas chefias da sua segurança pessoal. "Passa a ideia de que o próprio Presidente da República quer alguém por perto, portanto, no seu círculo familiar no sentido de maior garantir a sua segurança".
Falta de confiança
As exonerações na Casa Militar do Presidente da República ocorreram na sequência dos acontecimentos do Brasil, no início deste mês, quando um general angolano, que integrava a delegação que esteve em Brasília para a tomada de posse do Presidente Lula da Silva, protagonizou uma cena de pugilato com um ativista conhecido como J. Privado. Este fazia parte de um grupo de jovens angolanos que se queriam manifestar contra João Lourenço em frente ao hotel onde se hospedava a delegação.
Entre os casos mais notórios de nepotismo em Angola estão os filhos do Presidente José Eduardo dos SantosFoto: instagram.com/isabel_dos_santos.me
Na altura, evocou-se a possibilidade de uma legítima defesa do ativista, já que a agressão física partiu alegadamente da alta patente das Forças Armadas de Angola.
Falta de transparência
Para o ativista Fernando Sakwayela, coordenador do projeto Agir e co-fundador do Movimento Jovens Pelas Autarquias, a presidência angolana devia explicar aos cidadãos as causas desta e outras exonerações, uma vez que o lema desta governação é "trabalhar mais e comunicar melhor".
Seria fundamental que o Presidente da República, ao proceder à exoneração de forma extensiva no Executivo e mesmo de forma restrita aos órgãos de segurança, pudesse então emitir uma nota explicativa dirigida aos angolanos, que constitui a razão de ser de soberania deste país, sobre as razões desta exoneração", disse o ativista à DW África, acrescentando ser "fundamental que os angolanos tomem nota daquilo que pesou na exoneração de um determinado dirigente".
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
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O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
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Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
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A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
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A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
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Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
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Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.