Especialista aplaude decisão que garante continuidade da produção do Bloco 17 e investimentos nos Blocos 20 e 21, mas cobra avanços na regulação do setor para garantir rendimentos ao Estado angolano.
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A Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANPG) e os seus parceiros do Bloco 17 (Total, Equinor, ExxonMobil, BP e Sonangol) assinaram esta segunda-feira (16.12) um acordo de extensão de todas as licenças de produção do Bloco 17, o maior produtor de petróleo bruto em Angola, até 2045. A Sonangol e a francesa Total assinaram ainda um acordo de compra e venda dos Blocos 20 e 21, localizados na Bacia do Kwanza, e que custou 359,5 milhões de euros numa primeira fase.
Em entrevista à DW África, Patrício Quingongo, diretor-executivo da plataforma online especializada no mercado petrolífero PETROANGOLA, aplaude a decisão para revitalizar a exploração de petróleo e gás em Angola. Porque se o país não fizer investimentos no setor, a produção nos próximos anos "pode estar abaixo de um milhão de barris de petróleo por dia", alerta.
DW África: Quais os benefícios dessas negociações para as partes?
Patrício Quingongo (PQ): Foi uma decisão bem tomada, porque garante a continuidade da produção do bloco. E depois a Total também vem adicionar investimento para realização de pesquisa adicional nas áreas, sempre com o objetivo de aumentar a produção petrolífera em Angola. Assinou também um contrato do Bloco 20, que é um bloco que não se encontra em produção. Angola está com um declínio de produção acentuado, na ordem dos 15%. Então, são estratégias para revitalizar a exploração de petróleo e gás cá em Angola.
DW África: Como avalia a realização dessas negociações, exatamente num momento em que a produção está a cair, mas também há perspetivas de redução da produção mundial - que incluem o acordo assinado pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus aliados?
PQ: A produção de Angola está bem abaixo do nível que foi estipulado pela OPEP, tanto que nós nem estamos a aplicar qualquer corte, estamos abaixo do nível. Na verdade, com esses acordos, Angola não está a dar um grande pulo na produção atual, mas está a tentar manter os níveis de produção que tem agora, que está a rondar um milhão e trezentos, um milhão e quatrocentos mil barris. Se Angola não fizer investimentos na exploração e produção de petróleo, a produção de Angola nos próximos dois, três anos pode estar abaixo de um milhão de barris de petróleo por dia, o que seria uma consequência muito negativa para o Estado angolano, visto que a economia é dependentes das receitas petrolíferas.
Angola: Acordos para frear queda na produção do petróleo
DW África: Que perspetivas tem, então, Angola de alcançar esse nível?
PQ: Angola está com um declínio na produção porque não fez os investimentos que está a fazer agora na exploração e produção de petróleo. Os cortes de produção da OPEP vão até ao próximo ano e essa produção que Angola está a tentar alavancar, não virá até mais ou menos até 2023. Portanto, não terá um impacto direto já nos cortes de produção da OPEP.
DW África: Ficou satisfeito com a forma como esses acordos foram feitos ou esperava mais?
PQ: A medida é acertada porque vemdar um pouco de robustezà nossa economia. Penso que também não poderíamos fazer muito mais. Mas espera-se que, por exemplo, no Bloco 20, Bloco 21, se tiver recursos consideráveis, eles venham depois ajudar a alavancar a economia.
DW África: E qual seria o próximo passo para superar a queda na produção e tomar o rumo na direção de um aumento da produção?
PQ: Este declínio na produção está muito ligado à regulação e à estratégia do setor. Seria preciso montar uma estratégia do setor petrolífero, um plano estratégico, um plano diretor que vai garantir os níveis de produção aceitáveis e que satisfaçam o Governo angolano.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".