O Presidente João Lourenço começou esta segunda-feira (01.07.) a sua primeira visita oficial à Cuba. Os dois países têm acordos bilaterais nos setores da saúde e educação, mas há novas áreas de interesse na cooperação.
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O analista angolano e especialista em questões internacionais Augusto Báfuabáfua recorda que os laços entre o MPLA, o partido que governa Angola, e o Partido Comunista Cubano, que governa Cuba, são históricos: "Tem uma relação que dura há mais de 50 anos, ou seja, durante a época de guerrilha Cuba já apoiava grandemente o MPLA na guerrilha que fazia no exterior do país".
"Mas, há outras razões", acrescenta o analista: "Por exemplo, a cooperação bilateral entre os dois países nos setores da educação e da saúde".
Augusto Báfuabáfua lembra que "com mais de 40 acordos assinados, também Cuba foi um dos primeiros países a reconhecer Angola independente logo nos primeiros 365 dias. Cuba também tem Estado a dar uma grande ajuda Angola, principalmente no setor social: educação e saúde."
Novas áreas de cooperação na mira
Para além destes setores, Angola também tem acordos com a Cuba nos domínios militar, defesa e segurança. Mas, segundo Manuel Augusto, ministro angolano das relações Exteriores, esta visita de João Lourenço também abre novas áreas de cooperação.
"Para conformar não só a cooperação já existente e, nesse caso, tentar adaptar aos novos tempos, mas também temos a intenção de estabelecer com Cuba na área de investigação e na área de pequena e média indústria", afirma o chefe da diplomacia angolana.
Entretanto, na implementação de alguns acordos o Governo angolano não tem cumprido na totalidade a sua obrigação, daí a dívida que tem com Cuba avaliada inicialmente em mais 200 milhões de dólares, segundo o Jornal de Angola.
Mas o analista Augusto Báfuafua diz que "pelas palavras do Executivo já se pagou mais da metade da dívida e outra metade pagar-se-á até ao final do ano".
Cuba também precisa de Angola
Mas, não é apenas Angola que precisa de Cuba, esclarece Báfuabáfua. Cuba também precisa de Angola para materialização das suas novas apostas como a construção civil, já que, acrescenta, tem estado a perder espaço nalguns países da América do sul e latina.
Angola: O que liga o MPLA não comunista a Cuba?
"Praticamente na América do Sul Cuba tem pouco espaço, agora só conta com a República da Venezuela e Nicarágua e não mais do que isso. Vira-se para Angola e Angola precisa de empresas que veem apostar e transmitir o seu conhecimento e experiência. E Cuba já tem estado a sair dos tradicionais setores sociais e já dá passos também no setor da construção civil", diz o analista.
No primeiro dia de trabalho da visita de João Lourenço, que durará dois dias, o destaque recai para uma conferência na centenária Universidade de Havana e nas conversações com as autoridades cubanas.
Na terça-feira (02.07.), seu último dia de trabalho, João Lourenço visitará a Zona Especial Portuária de Desenvolvimento de Mariel, na periferia de Havana, e manterá encontro com bolseiros angolanos, maioritariamente estudantes de Medicina. No país caribenho estudam 2.180 jovens angolanos.
Os médicos cubanos no mundo
Os profissionais de saúde cubanos saíram do Brasil, mas ainda trabalham em mais de 60 países do mundo, entre eles todos os países africanos de língua oficial portuguesa. Conheça aqui as missões mais importantes.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kenji
Cuba deixa o Brasil e o programa "Mais Médicos"
Depois de cinco anos de parceria entre Cuba e o Brasil, o governo cubano decidiu retirar os seus médicos do Brasil em finais de 2018. A decisão foi tomada devido às alterações nos termos de cooperação sugeridas pelo Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro. Más os médicos cubanos ainda trabalham em mais de 60 países no mundo.
Foto: Agência Brasil/José Cruz
Em Angola: a sanar e a ensinar
A cooperação entre Cuba e Angola começou em 1975, logo após a independência angolana. Os médicos cubanos em Angola ajudam a combater doenças, mas nas faculdades de medicina professores cubanos têm um papel importante na formação de pessoal de saúde. Em 2015, segundo o Governo angolano, 42% dos médicos no país eram cubanos. Mas muitos deixaram Angola após a quebra das receitas de petróleo.
Foto: Reuters/S. Eisenhammer
Tempestade tropical em Honduras
Uma médica cubana vacina uma criança hondurenha. Em 1998, o furacão Mitch passou pela América Central, causando a morte de 11.000 pessoas. Somente em Honduras foram 7.000 vítimas do que é considerado o furacão mais mortífero que jamais passou pela região.
Foto: picture-alliance/dpa
Furacão Katrina nos Estados Unidos da América
Em 2005, o furacão Katrina passou pela região litoral do sul dos EUA e atingiu principalmente a região metropolitana de Nova Orleães. 1.500 médicos cubanos reuniram-se em Havana para preparar-se para uma missão humanitária, mas a oferta foi rejeitada pelo governo norte-americano. O furacão causou mais de 1.800 mortes e mais de um milhão de pessoas tiveram que ser evacuadas.
Foto: picture-alliance/dpa
Terramoto no Paquistão
No ano de 2005, um terramoto matou 86.000 pessoas na Caxemira, uma região no norte do Paquistão. Cerca de 3,5 milhões de pessoas ficaram sem casa. Os médicos cubanos ajudaram os danificados.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Hattori
Surto de cólera no Haiti
Em 2010, aproximadamente 200.000 pessoas no Haiti infectaram-se com cólera, segundo as Nações Unidas. A cólera é uma infecção do intestino que se transmite facilmente através de água sem tratamento para o uso humano. Tal como aconteceu no Haiti, um país que em janeiro de 2010 sofreu terramoto. Também ali não faltaram os médicos cubanos.
Foto: picture-alliance/dpa
Surto de ébola na África Ocidental
Em 2014, quando o surto de ébola ameaçava muitas zonas da África Ocidental, os médicos cubanos também não ficaram de braços cruzados. Aqui vemos à enfermeira Dalila Martinez, treinadora da equipa médica cubana em Havana para a missão na Serra Leoa. Desde que começou em 2013 o surto, a ébola matou cerca de 27.000 pessoas na África Ocidental e no mundo, a maioria delas na Libéria e na Serra Leoa.
Durante a missão humanitária na Serra Leoa em 2014, um dos médicos cubanos foi infectado com ébola. O doutor Félix Baez Sarria foi transportado para um hospital na Suiça e sobreviveu. Depois voltou à Serra Leoa para continuar a combater o surto de ébola.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Julien Gregorio, Geneva University Hospital
Mais médicos ou menos médicos?
Em 2018, um cartaz na entrada dum ambulatório em Itaquaquecetuba no estado de São Paulo, Região Sudeste do Brasil, avisa que o programa "Mais Médicos" foi encerrado. Os mais de 8.300 profissionais de saúde cubanos que trabalhavam no Brasil já regressaram a ilha de Cuba.