Angola: O tema do desemprego está excessivamente politizado?
22 de outubro de 2020Na última terça-feira (20.10), o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) discutiu a questão do desemprego na reunião do Bureau Político. Por outro lado, a sociedade civil e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido da oposição), convocaram para sábado (24.10) uma manifestação. Entre vários temas, o emprego será um das reivindicações dos manifestantes.
Será que a questão do desemprego em Angola está a ser excessivamente politizada?
"Creio que é um sentido de oportunidade que estas franjas da sociedade encontram para analisar a questão do desemprego que é uma questão fulcral e transversal", responde Cláudio Fortuna, investigador da Universidade Católica de Angola.
No entanto, o poltitólogo Agostinho Sicatu acredita que sim, que "o tema do desemprego está bastante politizado e se estão a fazer aproveitamentos [políticos] elevadíssimos num assunto que, na verdade, diz respeito a todos".
Nesse sentido, Sicatu sugere aos políticos que se afastem um pouco do tema e juntem "as suas energias, enquanto cidadãos, às da sociedade civil para se encontrar um meio".
Para o analista, "o diálogo é sempre a melhor via. Neste momento, devia abrir-se um debate nacional."
Mais diálogo
Mas será que os diversos segmentos da sociedade civil estão abertos a esse debate?
Agostinho Sicatu acredita que sim. Contudo, Cláudio Fortuna entende que a sociedade ainda está um pouco "fechada".
"Temos consciência que o Governo tem estado a viver uma situação menos boa em função da herança do passado recente. O que é facto é que temos uma sociedade muito fechada, com posicionamentos um pouco egoístas. Não há solidariedade entre si no sentido de tentar discutir o mais possível as questões cadentes", afirma o académico.
Protesto como arma de pressão
O deputado da UNITA Nelito Ekuikui, um dos organizadores do protesto de sábado, afirma que, para além do desemprego, a marcha também visa chamar a atenção do Governo e da Justiça para a necessidade de dialogar.
A intenção é também fazer pressão para convocar as eleições autárquicas no próximo ano e destituir Manuel da Silva "Manico" do cargo de presidente da Comissão Nacional Eleitoral, por supostos atos de corrupção.
"Vai ser lido um manifesto que será entregue às autoridades e vamos esperar que elas se pronunciem. Na eventualidade de não se pronunciarem, a luta continua", assegura Ekuikui.
Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística em agosto indicam que a taxa de desemprego em Angola ronda os 32,7%, sendo os jovens os mais afetados.