Angola: ONG denuncia agressão policial contra manifestantes
Lusa
28 de setembro de 2020
A polícia angolana confirma que reteve 13 participantes da marcha do desemprego em Luanda, no fim de semana, mas nega agressões. ONG Friends of Angola exige abertura de investigação para responsabilizar os responsáveis.
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A Organização Não Governamental (ONG) Friends of Angola recebeu denúncias de detenções e agressões na marcha do desemprego em Luanda, ocorrida no sábado (26.09). A polícia angolana negou as agressões e informou que reteve 13 pessoas, que foram posteriormente libertadas.
Segundo a Friends of Angola, vários cidadãos que aderiram às manifestações na capital angolana alegam ter sido agredidos por supostos agentes da Polícia Nacional. Entre os feridos, está um elemento daquela organização, que terá sido "submetido a uma tortura física" e ficado com o telemóvel apreendido.
Protestos marcam três anos de governação de João Lourenço
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O porta-voz do comando provincial de Luanda negou quaisquer atos de violência por parte da polícia, confirmando, no entanto, terem sido levados para a esquadra 13 manifestantes. "Não foram detidos, foram retidos. Foram levados, porque impediram o trânsito, fizeram barreiras e arremessaram objetos", afirmou à agência de notícias Lusa.
Nestor Goubel garantiu que ninguém foi agredido e que não houve feridos entre manifestantes ou polícias. "A manifestação é um direito de cidadania e nós respeitamos. Nós fizemos o nosso trabalho e foi um belo exemplo de democracia. As pessoas foram levadas à esquadra, tivemos uma conversa pedagógica e foram libertadas", acrescentou o responsável.
Apelo às autoridades policiais
No comunicado enviado à Lusa, a ONG Friends of Angola apela ao Governo e ao comando provincial de Luanda da Polícia Nacional para que "oriente os seus efetivos a terem em conta o respeito pelos direitos dos cidadãos envolvidos" e pedem a devolução do telemóvel do membro daquela organização.
A ONG exige ainda às autoridades angolanas a abertura de uma investigação que visa responsabilizar judicialmente os autores e mandantes das agressões.
No sábado, centenas de angolanos saíram à rua para exigir o cumprimento da promessa eleitoral do Presidente de criar 500 mil empregos. Os manifestantes demonstraram a sua insatisfação com a governação de João Lourenço, que assinala três anos como Presidente de Angola.
Convocada por vários grupos de ativistas e da sociedade civil em 12 províncias e alguns países da diáspora angolana, a marcha do desemprego juntou sobretudo jovens e estudantes.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.