Comandante-geral da polícia angolana anunciou que a "Operação Resgate", que arranca em novembro para repor a autoridade do Estado, combater o crime e a imigração ilegal, terá um caráter "repressivo e pedagógico".
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Paulo de Almeida, que falava durante uma formatura dos efetivos da corporação, que decorreu no Instituto Superior de Ciências Policiais e Criminais de Angola, no distrito urbano do Camama, em Luanda, disse que o nível de criminalidade no país "ainda é preocupante".
Para o comissário-geral da polícia angolana, os níveis de crime no país registam-se, sobretudo, nas principais capitais das províncias, uma situação que, observou, a corporação vai continuar a combater. "Queremos baixar consideravelmente os níveis de crimes para que isso traga aos cidadãos um maior sentimento de segurança", disse, realçando que a "Operação Resgate" será levada a cabo em todo o país.
Segundo o comandante geral da polícia de Angola, o facto de o país estar a viver uma "situação económica, financeira e social difícil" tal "não deve representar o aumento de níveis criminais". "Não podemos permitir isso e temos de garantir maior estabilidade, sossego, tranquilidade e paz para os cidadãos", adiantou.
Resgatar autoridade do Estado
O "resgate da autoridade do Estado" foi assinalado como um dos principais fundamentos da "Operação Resgate", anunciada na quarta-feira (24.10), que deve envolver todos os efetivos da polícia angolana e órgãos de justiça, administrativos e de segurança.
"Queremos resgatar a autoridade do Estado que, por vezes, dilui-se na confusão. Queremos resgatar a ordem, o civismo, a dignidade", apontou.
Chega ao fim o sonho congolês em Angola
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Na formatura, que concentrou cerca de 4.000 efetivos da polícia angolana ligados às distintas brigadas que a compõem, Paulo de Almeida exortou ainda a população à "compreensão" da operação, que terá caráter "repressivo, pedagógico e orientador". "Não teremos só um papel iminentemente repressivo, mas também um insinuador de boas práticas e bons costumes", realçou.
Combater a venda ambulante desordenada, a venda ilegal de aparelhos de comunicação nas ruas ou mercado e a insalubridade pública fazem parte também as ações a serem desenvolvidas em toda Angola no âmbito da "Operação Resgate".
Combate à imigração ilegal
Na quarta-feira, o diretor do gabinete de comunicação institucional e imprensa do Comando Geral da Polícia Nacional de Angola, Orlando Bernardo, anunciou a operacionalização, a partir de novembro, da "Operação Resgate" para combater à "criminalidade e imigração ilegal", bem como as más práticas sociais em todo país.
"A operação vai levar o tempo que for necessário para repor autoridade do Estado, a ética e a postura dos cidadãos em torno dos bens públicos, pois é necessário que a população perceba a intervenção das autoridades em prol do seu bem-estar", concluiu.
Paralelamente, está a decorrer desde 25 de setembro a "Operação Transparência", em sete províncias angolanas Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Bié, Malanje, Uíje e Zaire, que visa o combate à imigração ilegal e à exploração indevida de diamantes.
A operação registou já o "repatriamento voluntário" de mais de 380.000 cidadãos estrangeiros, a apreensão de mais de um milhão de dólares, 17.000 quilates de diamantes, 51 armas de fogo e o encerramento de centenas de casas de compra e venda de diamantes e 91 cooperativas.
Congoleses em fuga de Angola: RDC promete retaliação
Mais de 270 mil congoleses foram obrigados a abandonar Angola. Em retaliação, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês deu dois meses aos angolanos ilegais para abandonarem a RDC. ACNUR teme nova crise humanitária.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Ao ritmo de 1.000 imigrantes por hora
Imigrantes congoleses chegam à localidade fronteiriça de Kamako, já do lado da República Democrática do Congo (RDC), ao ritmo de 1.000 pessoas por hora. Mais de 270 mil imigrantes ilegais congoleses foram obrigados a abandonar Angola, após um decreto do Presidente João Lourenço que visa acabar com a imigração ilegal no país, sobretudo nas regiões diamantíferas das Lundas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
RDC promete retaliação
O Governo em Kinshasa utiliza o termo "expulsos" quando se refere aos imigrantes que Angola diz estarem a "sair de forma voluntária" do país. Como represália, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês definiu um prazo de dois meses para que todos os angolanos em situação irregular saiam da RDC. A tensão levou os Governos e representações diplomáticas dos dois países a iniciarem conversações.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Detidos com documentos angolanos falsos
Em colaboração com o ACNUR e com organizações não-governamentais, as autoridades congolesas estão a vigiar a pente fino as entradas no país. Entre os cidadãos obrigados a abandonar Angola, há portadores de documentação da nação vizinha. Porém, o porta-voz da "Operação Transparência" anunciou a detenção de imigrantes com "documentos angolanos falsos" que serão julgados em Luanda.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Congoleses dedicavam-se ao garimpo ilegal
O comandante da Polícia Nacional de Angola, António Bernardo, garante que os imigrantes que estão a abandonar o país "não se coíbem de dizer" que se deslocaram para Angola "para ganhar dinheiro na exploração ilegal de diamantes". Com o encerramento das cooperativas e casas ilegais de venda e compra de pedras preciosas, "os imigrantes decidiram voluntariamente sair do país", diz o responsável.
Foto: Reuters/G. Paravicini
ACNUR não confirma mortes
Apesar das denúncias de mortes e maus-tratos perpetrados por agentes da Polícia Nacional de Angola, no âmbito da "Operação Transparência", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não confirma essas informações "por falta de dados". Philippa Candler, representante do ACNUR em Angola, diz que os imigrantes estão a sair de Angola pelo próprio pé, mas sob pressão do Governo.
Foto: Omotola Akindipe
Cerca de 35 mil refugiados legais em Angola
Dados do ACNUR indicam que há 35 mil refugiados legais em Angola. Estão, sobretudo, na Lunda Norte, inseridos num assentamento em Lóvua ou distribuídos pelas povoações. No entanto, a ONU denunciou a expulsão de 50 migrantes com estatuto de refugiados. O ACNUR está a verificar a informação. A escalada do conflito tribal no Kasai levou milhares de congoleses a procurar refúgio fora de portas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
A pé ou à boleia de motorizadas e bicicletas
Os migrantes congoleses que estão em viagem de regresso ao país de origem escolheram vários meios para fazê-lo. Alguns aceitaram a ajuda do Governo angolano que disponibilizou camiões para transportar os congoleses até à fonteira. Outros preferem fazê-lo pelo próprio pé ou socorrendo-se de bicicletas e motorizadas. Consigo carregam os seus pertences.
Foto: Reuters/G. Paravicini
De regresso às antigas rotinas
Ainda em viagem, mulheres e crianças lavam roupas nas margens do rio junto à localidade de Kamako, na província de Kasai. O objetivo é regressarem às suas povoações outrora ameaçadas ou reiniciarem uma nova vida longe da sua última morada na RDC. No entanto, a situação nesta província congolesa é instável. A falta de infraestruturas está também a preocupar as Nações Unidas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Nova crise humanitária iminente
A ONU expressou preocupação sobre a saída forçada de Angola nas últimas semanas de centenas de milhares de cidadãos. Para as Nações Unidas, as "expulsões em massa" são "contrárias às obrigações" da Carta Africana e, por isso, exortou os Governos em Luanda e em Kinshasa a trabalharem juntos para garantirem um "movimento populacional" seguro e evitarem uma nova crise humanitária.