"Dividas ocultas": Oposição angolana quer explicação de JLO
Manuel Luamba
30 de janeiro de 2019
Opositores querem que Presidente angolano se pronuncie sobre alegada ligação com as “dívidas ocultas” de Moçambique. UNITA e CASA-CE, partidos da oposição em Angola, exigem também tomada de posição da PGR
Embora o Presidente esteja atualmente em visita privada aos Estados Unidos da América, Lindo Bernardo Tito, da CASA-CE, a segunda maior força política da oposição em Angola, quer que João Lourenço, agora na qualidade de chefe de Estado, se pronuncie sobre o caso.
Oposição quer explicação de João Lourenço sobre envolvimento com entidades suspeitas
"O Presidente da República devia dar explicações aos angolanos sobre essa possível ligação ao escândalo das dívidas ocultas de Moçambique, que já levou para prisão o antigo ministro das Finanças daquele país”, afirma Tito.
Já Alcides Sakala, deputado e porta-voz da UNITA, o maior partido da oposição angolana, quer que a Procuradoria-Geral da República investigue as denúncias da consultora.
"Estamos a acompanhar, como poderá imaginar, com bastante atenção. É nosso entendimento que perante estas informações recorrentes, a Procuradoria-Geral da República já devia ter tomado posições para melhor enquadramento desta matéria. Acredito haver aqui matéria suficiente para o Ministério Público tomar as medidas que se acharem as mais apropriadas”, diz Sakala.
Credibilidade em risco
Num relatório especial, a consultora destaca a ligação entre o Governo de Angola e a empresa Privinvest, liderada pelo libanês Jean Boustani. O principal suspeito no caso das "dívidas ocultas" de Moçambique foi detido nos Estados Unidos no início do ano. O Ministério da Defesa de Angola, na altura liderado por João Lourenço, chegou a fazer um contrato de 495 milhões de euros para comprar barcos à Privinvest, num contrato com muitas semelhanças com as empresas que estão no centro do escândalo das dívidas ocultas, revelou a consultora. As ligações e os negócios feitos podem "minar o ímpeto muito popular e mediático contra a corrupção", diz ainda o relatório.
O combate à corrupção e a impunidade tem, de facto, sido o cavalo de batalha do Presidente angolano, que a comunidade internacional tem visto com bons olhos. Mas, para Lindo Bernardo Tito, essa luta pode ser posta em causa por causa desta alegada ligação.
"Se o Presidente não se pronunciar, irá se criar sobre ele uma imagem menos boa, o que poderá perder credibilidade na sua vontade de combater a corrupção, o nepotismo e a impunidade quem se coloca num desafio com este deve ter a ficha limpa”, conclui.
RDC: Chocolates de um país em crise
A República Democrática do Congo é conhecida pela violência, pobreza e corrupção. Apesar dos problemas, a primeira empresa de chocolate do país está a produzir doces. Uma visita à "Cocoa Congo", na província de Goma.
Foto: DW/J. Raupp
Grãos do Beni
Adèle Gwet e Matthew Chambers inspecionam um carregamento de grãos de cacau que chegou da zona de Beni, a 300 quilómetros de distância. O casal empreendedor investe muito tempo e dinheiro: Chambers investiu 250 mil dólares na "Cocoa Congo", com a ajuda do Ministério Britânico do Desenvolvimento. Mas "o valor agregado do nosso 'chocolate premium' é produzido na própria RDC", diz Chambers.
Foto: DW/J. Raupp
Matéria-prima em vez de exportação
Grãos de cacau são transportados em autocarros de passageiros através de uma floresta onde milícias atuam. A empresa Cocoa Congo paga aos produtores de cacau - especialmente às mulheres - um quinto a mais pela matéria-prima do que as grandes empresas que exportam diretamente os grãos. Além disso, a empresa treina agricultoras para aumentarem seus rendimentos, atendendo aos padrões ambientais.
Foto: DW/J. Raupp
"Chocolatière" autodidata
"Eu vim ao Congo para trabalhar e ajudar outras mulheres", diz Adèle Gwet, natural dos Camarões. "Eu quero ajudá-las a ter uma vida melhor, por isso eu ensino como fazer chocolates." As receitas, ela buscou na internet. Durante meses, trabalhou com o marido, um americano, provando-as.
Foto: DW/J. Raupp
Ajuda para mulheres
Seis dos dez funcionários do Cocoa Congo, em Goma, são mulheres em risco. Aqui, elas aprendem a ferver a massa de cacau. A cozinha onde trabalham está localizada num edifício residencial. O chocolate está a ser produzido há apenas três meses - até agora, foram algumas centenas de barras. A previsão é de 20 mil por mês no próximo ano!
Foto: DW/J. Raupp
100% congoleses
Mamy Simire embala o chocolate em papel de alumínio. Ela mal consegue acreditar que foi feito aqui. Para a mãe de cinco filhos, comer doces por um longo tempo era impensável: "Eu só conhecia chocolates pela televisão, onde via outras pessoas comendo. Experimentar mesmo não era possível, pois é muito caro para nós". Agora, as crianças dela podem provar: são o controle de qualidade!
Foto: DW/J. Raupp
Produtos artísticos de exportação
A Cocoa Congo quer primeiro vender o chocolate no exterior pela internet. Chambers criou algo especial para entrar no mercado: artistas de Goma pintam quadros para o papel de embalagem. Um pacote de chocolate com três barras de 50 gramas deve custar 20 dólares. "Não exportamos apenas chocolate, mas também uma imagem positiva da RDC", diz Chambers.
Foto: DW/J. Raupp
Ativista
Sylvie Chishungu Zawadi se preocupa com as produtoras de cacau em Beni. Com frequência, milícias estupram mulheres que trabalham nos campos. Algumas são sequestradas e assassinadas. "Sim, é bom trabalhar com elas. Mas até que ponto a segurança delas está garantida? Ou será que elas estão à mercê das milícias?". Para um chocolate verdadeiramente seguro, o Estado também deve fazer a parte dele.