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Angola: Faltam condições para o regresso às aulas

21 de setembro de 2020

A falta de condições nas escolas públicas angolanas está a preocupar encarregados de educação, professores e alunos. Ministério da Educação reconhece debilidades e apela à reinvenção das instituições de ensino.

Angola Schule in Luanda
Foto: Borralho Ndomba/DW

A uma semana da reabertura das escolas encerradas em março no âmbito da pandemia da Covid-19, o Governo angolano ainda não garantiu publicamente a segurança do regresso dos alunos às aulas.

O encarregado de educação Rodolfo Pedro, que vive ao lado da escola onde estuda o filho de oito anos, diz que as condições de higiene não foram criadas. "A escola onde estuda o meu filho não tem meios suficientes para acolher os alunos. Estou sempre lá, porque é na rua ao lado da minha casa, e vi que não há forma de mandar a criança para escola nas condições em que se encontra. Penso que talvez só os colégios estão em condições de reabrir", comenta.

Pais temem regresso dos alunos às escolas por causa da Covid-19Foto: DW/B. Ndomba

Rodolfo está cético quanto ao envio do filho à escola. "Não tenho certeza se vou mandar a criança para escola ou não", admite.

Reabertura faseada

Segundo o calendário do ano letivo adaptado pelo Governo, no dia 5 de outubro regressam às atividades escolares os universitários e os alunos das classes de transição do I e II ciclos do Ensino Secundário (6ª, 9ª, 12ª e 13ª classes). Os estudantes da 7ª, 8ª, 10ª e 11ª classes, do I e II ciclos de ensino, começam as atividades no dia 19. Já os alunos do ensino primário e as crianças do pré-escolar retomam as aulas a 26 de outubro.

Simão Velasco, professor e estudante universitário, defende que os encarregados devem visitar as escolas antes do início das aulas. "Peço que deixemos de espalhar a informação da doença com pânico. Como encarregados, temos que averiguar se há condições nas escolas para abrirem. Não podemos estar estagnados. O tempo em que os alunos estão parados pode motivar o desinteresse pelos estudos", adverte.

A falta de água é um dos grandes problemas que se registam nas escolas angolanas. As instituições carecem de auxiliares de limpeza e as casas de banho não funcionam, alerta o Movimento Estudantil de Angola (MEA), que fez um estudo sobre as condições das instituições do ensino público.

O presidente do MEA, Francisco Teixeira, diz que a higienização das escolas é feita por alunos. "O Governo fala em reinício do ano letivo, mas não criou a figura de auxiliar de limpeza nessas escolas, não criou a figura de segurança nessas escolas. Quem são as pessoas que vão tomar conta das crianças? Quem são as pessoas que vão limpar as salas? São as crianças que vão fazer mais esse trabalho?", questiona. "É uma grande irresponsabilidade da senhora ministra [Luísa Grilo] dizer que as condições estão criadas", considera líder estudantil.

Para o MEA, o Governo não pode reabrir as escolas sem a criação de medidas de biossegurança. "Pedimos que o Governo crie nas escolas públicas condições iguais às que foram criadas onde estudam os filhos deles. O Governo prometeu colocar tambores com água na porta das escolas, mas não os colocou. Prometeu reparar os quartos de banho das escolas públicas e não cumpriu. Prometeu colocar à disposição dos alunos autocarros, também não cumpriu. Os estudantes continuam a percorrer longos quilómetros para chegar as escolas", denuncia Francisco Teixeira.

Um estudo mostra que 93% das escolas não têm todas as condições necessárias para retomar as atividades letivas com segurançaFoto: DW/J. Beck

As ONGs angolanas Mosaiko – Instituto para a Cidadania e a Rede de Organizações da Sociedade Civil de Educação para Todos (Rede EPT-Angola) revelam num estudo divulgado há uma semana que mais de 90% das escolas angolanas não têm condições para o regresso às aulas. A análise "Diagnóstico às Escolas sobre as Condições de Regresso às Aulas", citada pela agência de notícias Lusa, refere que das 70 escolas do ensino primário e 1.º ciclo, a maioria públicas (54), 93% indicaram que não têm todas as condições necessárias para retomar as atividades letivas com segurança, sendo a falta de água, o número de torneiras disponíveis e a falta de casas de banho as principais condicionantes.

Sindicato sublinha papel do professor

O Sindicato Professores (SINPROF) apela, por isso, aos docentes que não dependam do Governo. "Independentemente de o Governo fornecer a viseira ou não, cada professor deve ter a possibilidade de adquirir uma ou duas máscaras artesanais. Penso que o professor é fundamental nesta equação toda. Ele deve cuidar-se, porque ele é quem vai passar a informação aos alunos", adverte o secretário-geral do SINPROF, Admar Jinguma.

Entretanto, o diretor nacional do Ensino Geral, Gabriel Boaventura, disse em declarações à TV Zimbo que o Governo reconhece haver dificuldades e pede a contribuição de toda a sociedade.

"O orçamento não tem sido suficiente para cobrir todas as necessidades das escolas. Isto é uma realidade que não podemos negar. Nas nossas famílias, também há ocasiões em que temos problemas em que falta aquilo e encontramos sempre uma solução. Portanto, da mesma maneira que encontramos soluções nas nossas famílias, podemos encontrar soluções para os problemas do Estado", considerou Gabriel Boaventura.

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