Angola perde dinheiro com o abandono do mercado do Luvu
Firmino Chaves (Mbanza Congo)
3 de setembro de 2023
Maior mercado fronteiriço de Angola, a 60 quilómetros da sede municipal de Mbanza Kongo, capital da província do Zaire, continua com trocas comerciais encerradas por parte de Angola.
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O mercado na fronteira entre Angola e a República Democrática do Congo (RDC) movimentava milhares de pessoas aos sábados, de forma intercalada. Era um sábado para o lado angolano, e outro para o vizinho congolês.
Em 2019, devido à pandemia da Covid-19, as trocas comerciais foram interrompidas. A atividade no mercado do Luvu foi reaberta oficialmente em julho do ano passado, mas continua encerrada por parte de Angola - algo que muitos munícipes lamentam.
"Quando as pessoas viram que o mercado foi fechado, inclinaram-se a outros negócios, como a venda do combustível de forma desordenada e não autorizada. É crime, mas foi a única maneira que encontraram para sobreviver", explicou um residente do local.
"Está fechado, sim"
"Está fechado, sim. E isso é uma desvantagem porque prejudica comerciantes e a população", disse outro residente.
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O mercado do posto fronteiriço do Luvu funciona ao ar livre e as bancadas são feitas de chapa. Mambuene Ernesto, que costumava frequentar o espaço, também lamenta o abandono.
"Barracas em escombros, cheias de poeira […] é triste", desabafa. "O governo deve olhar 'com bons olhos' o caso do mercado do Luvu, porque o Zaire, está perder muito", explicou.
O posto Fronteiriço do Luvu é um dos grandes impulsionadores da economia angolana e muitos encontram aqui o seu ganha-pão, como é o caso do mototaxista Afonso Jaime.
Transporte
"Estou aqui desde 2012. Paramos durante o tempo da quarentena, e depois voltamos. Transporto passageiros da ponte ao posto aduaneiro do Luvu. O táxi está por 200 kwanzas, seja para os que vêm de Angola, como para os que vêm da RDC", explicou Jaime.
As trocas comercias entre Angola e a RDC através do posto fronteiriço do Luvu começaram na década de 1980.
Manzambi Issac vendia no mercado do Luvu desde 2017 e diz que "antes da pandemia, vendia muito bem", mas, agora, já não consegue sustentar a sua família.
"Se o governo não fizer nada, não estamos a ver à quem recorrer [...]. A pergunta vai as autoridades desse país", questiona.
Além do comércio, o mercado do Luvu é também um local de encontro de culturas e de artes.
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"Governo está a perder dinheiro"
Segundo o economista Garcia Manuel, o Governo angolano está a perder muito dinheiro com o encerramento do espaço.
"Nós perdemos somas avultadas de dinheiro. Do lado do Congo, para que os angolanos possam frequentar o mercado, pagam o valor da salva conduta. Mas, do nosso lado, isso não acontece, porque o mercado está inoperante", argumenta.
Apesar das trocas comerciais no mercado estarem encerradas, os serviços aduaneiros funcionam normalmente.
O governador provincial do Zaire, Adriano Mendes, visitou recentemente o posto fronteiriço e deixou a garantia de que o posto fronteiriço do Luvu já tem orçamento aprovado pelo Presidente da Republica.
"Dentro de algum tempo teremos uma grande visita de alguns órgãos ministeriais na nossa provincial para poder melhorar aquela zona do Luvu, porque queremos que a nossa população, e os vendedores, tenham um pouco mais de dignidade", prometeu.
Mbanza Congo: Património Mundial sem condições para turismo
Capital da província angolana do Zaire acolhe a partir de 5 de julho o primeiro Festival Internacional da Cultura e Artes. Mas a cidade, que é Património Mundial, tem problemas e poucas condições para acolher turistas.
Foto: DW/B. Ndomba
FestiKongo anual
O Festival Internacional da Cultura e Artes (FestiKongo) passará a realizar-se anualmente na capital da província do Zaire. Essa foi uma das recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), aquando da inscrição da cidade angolana na lista do património mundial.
Foto: DW/B. Ndomba
Participação de países africanos
República Democrática do Congo, Congo Brazzaville, Gabão, Camarões, Chade e Guiné Equatorial são alguns dos países convidados. O Ministério da Cultura quer fazer da cidade um "palco de referência cultural nacional e regional", realçando os hábitos, usos e costumes da região. Evento visa também a promoção de músicos, artistas plásticos e criadores de moda, entre outros agentes culturais.
Foto: DW/B. Ndomba
Poucas condições para atrair turistas
A escassez de hotéis e outros serviços é um dos fatores que pode pôr em risco a presença de turistas na cidade histórica. Só há dois hotéis e o mais antigo não oferece condições de alojamento, segundo alguns clientes. O chefe do Turismo na província do Zaire, Ábias Fortuna, reconhece que é preciso construir novas infraestruturas e melhorar os serviços prestados para atrair mais turistas.
Foto: DW/B. Ndomba
O dilema dos transportes públicos
A província do Zaire, cuja capital foi classificada a 8 de julho de 2017 como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, não dispõe de um serviço público de transporte. Por isso, os mototaxistas são a "bóia de salvação" para muitos residentes.
Foto: DW/B. Ndomba
Falta de água potável
Tal como em outras partes de Angola, Mbanza Kongo também regista graves problemas na distribuição de água potável, apesar de a província do Zaire ter vários rios. A maior parte da população consome água imprópria para consumo.
Foto: DW/B. Ndomba
Grutas de Zau Evua
Localizadas bem no centro da província do Zaire, a poucos quilómetros de Mbanza Kongo, as grutas de Zau Evua constam da lista de sete maravilhas naturais de Angola. As cavernas fazem parte de uma rede de grutas e galerias, quase todas desconhecidas e ainda por explorar. É um local que não pode faltar no roteiro de quem visita Mbanza Kongo.
Foto: DW/B. Ndomba
Lixo espalhado pela cidade
É visível a falta de um programa de limpeza na cidade, onde os contentores estão cheios de resíduos não recolhidos. Outro exemplo é a piscina construída pelo Governo Provincial, cuja água não trocada já ganhou a cor verde. Como é prática das administrações, tendo em conta a importância do festival, começaram agora a ser traçados programas de limpeza na cidade dos "Reis do Kongo".
Foto: DW/B. Ndomba
Faltam espaços de lazer
A falta de espaços de lazer é outra preocupação dos munícipes de Mbanza Kongo, na sua maioria jovens. Devido à falta de locais para a prática desportiva, a equipa do escalão júnior do São Salvador do Kongo, o principal clube da província, treina no "jardim moribundo" do Governo do Zaire.
Foto: DW/B. Ndomba
Novo aeroporto em construção
Cumprindo as recomendações da UNESCO no dossier Mbanza Kongo como Património Mundial da Humanidade, a cidade terá um novo aeroporto, em substituição do antigo, no centro da capital do Zaire. Enquadrado no âmbito do Programa de Investimentos Públicos (PIP), o novo aeroporto está a ser construído na comuna de Kiende, a 33 quilómetros de Mbanza Kongo.