Em 2017 Angola poderá assistir a protestos e consequente repressão em resultado das dificuldades orçamentais e a proximidade das eleições. Esta é uma previsão da EIU. Mas o analista Paulo Inglês relativiza projeções.
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A Economist Intelligence Unit (EIU), uma divisão de análise e pesquisa do grupo britânico "The Economist", prevê para Angola uma taxa de crescimento de 3 % em 2017, que dependerá do aumento do preço do petróleo. No seu último relatório sobre o país, a unidade prevê que a medida em que o preço do petróleo recuperar, um crescimento ligeiramente maior da despesa pública e do consumo privado devem fazer subir a taxa de crescimento. A DW África entrevistou Paulo Inglês, investigador angolano da Universidade de Munique, na Alemanha, sobre as projeções para o país no ano que agora começa.
DW África: Em termos económicos, o que prevê para Angola em 2017?
Paulo Inglês (PI): Uma vez que Angola ainda está dependente da produção de petróleo, a expetativa em relação à economia angolana ainda está também dependente do comportamento dos mercados financeiros, sobretudo da indústria extrativa, do petróleo e do diamante, mas principalmente do petróleo. Apesar do Governo ter desenhado um plano para diversificar a economia, por exemplo na agricultura e nos setores de serviços, isso ainda não teve um impacto grande na economia angolana. Agora, está a haver uma mudança no preço do petróleo nos mercados internacionais e também há a perspetiva da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) controlar a produção de petróleo, baixar, e isso vai permitir aumentar o preço do petróleo e Angola pode ganhar com isso.
DW África: As eleições presidenciais devem acontecer num ano (2017) ainda de profunda crise económica e financeira. Qual é a influência que pode ter sobre a percepção da crise?
PI: A crise é que pode influenciar o debate público. E nesse sentido há uma expetativa sobre como o Governo vai gerir isso. Não creio que venha a haver uma espécie de agitação social em grande escala porque ainda existe a cultura do medo e também uma contenção por parte das pessoas em confrontar ou afrontar as forças de segurança ou a polícia. Portanto, nesse ponto de vista acho que não se espera muito...
DW África: É que em época eleitoral investe-se muito dinheiro em campanhas de caça ao voto. Isso pode tornar a crise menos percetível para a população? É nesse sentido que perguntamos, porque nessa altura aparece sempre dinheiro...
PI: Sim, aparece. Imagino que o Governo tenha feito alguns empréstimos a China. A ideia era poder pagar os salários, muitos funcionários públicos não receberam os seus salários de dezembro de 2016. A polícia, acho que os militares [receberam os salários] e acho que alguns receberam parte. Mas falei com professores e muitos deles ainda não receberam, pelo menos até o dia 30 de dezembro não tinham recebido. Será que o Governo está a juntar algum dinheiro para depois gastar em época de campanha, nos últimos três quatro meses antes das eleições? Pode ser que sim, mas por outro lado os angolanos estão melhor informados sobre o que se passa, não sei se ainda vão cair nesse engodo da campanha eleitoral e algum dinheiro para depois, a seguir as eleições, continuarem na mesma. Agora, o certo é que o Governo vai usar algum dinheiro para dar a sensação de que a crise terá sido ultrapassada, isso de certeza que vai fazer.
DW África: A Economist Inteligence Unit prevê protestos e repressão das autoridades angolanas face as dificuldades orçamentais que o Governo atravessa e a proximidade das eleições. O senhor Paulo Inglês prevê também situações de instabilidade social para este ano, face a este quadro?
PI: No ano passado também houve essa projeção, o que não aconteceu. Acho que o pior da crise foi em 2016, que agora está também desanuviada, acho que agora há um certo desanuviamento. É claro que ainda não se está no nível em que se esteve nos anos anteriores, 2012 e 2013, mas também não se está naquele nível que se esteve em finais de 2015 e todo 2016. Não sei se esta contestação a que eles se referem poder-se-á cumprir. Por outro lado, se o preço do petróleo continuar a subir, como se prevê, é claro que isso vai aumentar as receitas do Estado e isso vai também poder contornar ou palear os efeitos da crise.
02.01.17. ONLINE Angola prev. - MP3-Mono
2016 em imagens: O que moveu a África lusófona?
Desde a tensão político-militar em Moçambique, passando pela luta pela liberdade de expressão em Angola, até à crise política na Guiné-Bissau - 2016 foi um ano de momentos marcantes nos PALOP.
Foto: Getty Images/AFP
Angola: Febre amarela mata 370 pessoas
O primeiro caso foi conhecido no final de 2015, em Luanda. Em poucos meses, a epidemia alastra-se às 18 províncias do país e mata mais de 370 pessoas. Em fevereiro, o Governo lança a primeira fase da campanha de vacinação (na foto). Em dezembro, a Organização Mundial de Saúde afirma que não pode declarar o país livre do surto, uma vez que "ainda decorre o período de implementação da resposta".
Foto: DW/B. Ndomba
Ataques e acusações em Moçambique
A 20 de janeiro, o secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo, é baleado por desconhecidos na cidade da Beira, centro de Moçambique. O político da oposição sobrevive, mas, desde o início do ano, quase diariamente, há notícias de ameaças, sequestros e mortes de dirigentes moçambicanos. A FRELIMO e a RENAMO trocam acusações. A tensão político-militar marca o ano no país.
Foto: Nelson Carvalho
Cabo Verde: Maioria absoluta para a oposição
Em março, o Movimento para a Democracia (MpD) derrota o PAICV e volta ao poder, após 15 anos na oposição. O primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva promete trabalhar pelo crescimento do país, mas, em julho, admite: Cabo Verde "não está bem". Apesar do "contexto económico, financeiro e social difícil", em novembro, o Governo prevê um crescimento de 5,5% do PIB no Orçamento de Estado para 2017.
Foto: MpD
Penas de prisão para 15+2 em Luanda
17 ativistas angolanos, acusados de atos preparatórios de rebelião e de organização de malfeitores, são condenados em março a penas entre dois e oito anos de prisão. O julgamento fica marcado por protestos e denúncias de irregularidades e ganhara visibilidade internacional com a greve de fome de Luaty Beirão e outros ativistas contra a morosidade do processo.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Juliao
As "dívidas escondidas" de Moçambique
Em abril, o Governo moçambicano admite a existência de dívidas não declaradas pelo Estado. A descoberta das dívidas contraídas por três empresas com garantias do Governo, sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais, levam os investidores a suspender a ajuda financeira a Moçambique. Ao mesmo tempo, o metical desvaloriza e os preços sobem: a crise económica instala-se no país.
Foto: DW/M. Sampaio
José Mário Vaz e a crise em Bissau
A 12 de maio, o Presidente guineense demite o Governo de Carlos Correia. Na Assembleia Nacional Popular reina o desentendimento após a expulsão de 15 deputados do PAIGC, partido maioritário no Parlamento. Baciro Djá é empossado primeiro-ministro sob protestos do ex-Executivo e da maioria dos deputados do PAIGC. O impasse impede debate e aprovação do programa do novo Governo.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
A polémica presidente da Sonangol
Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, é nomeada pelo pai em junho para chefiar a petrolífera estatal. Doze advogados apresentam ao Tribunal Supremo uma providência cautelar, invocando a alegada violação da lei da Probidade Pública. A ação ainda aguarda decisão. Entretanto, a Procuradoria-Geral da República considera que a nomeação de Isabel dos Santos para a Sonangol "cumpriu a lei".
Foto: Reuters/E. Cropley
Ativistas em liberdade após lei de amnistia
Em junho, o Supremo Tribunal de Angola ordena a libertação dos ativistas angolanos a cumprirem pena de prisão por rebelião. Luaty Beirão (na foto), é um dos ativistas postos em liberdade. José Marcos Mavungo, detido em março de 2015, depois de ter organizado uma manifestação contra a má governação em Cabinda e a violação dos direitos humanos em Angola, tinha já sido posto em liberdade em maio.
Foto: DW/P. Borralho
São Tomé e Príncipe: eleições controversas
Evaristo de Carvalho vence a primeira volta das presidenciais, em julho, mas a Comissão Eleitoral anuncia uma alteração do resultados: afinal, nenhum candidato reúne mais de 50% dos votos. O Presidente cessante Manuel Pinto da Costa, o segundo mais votado na primeira volta, desiste da corrida e Evaristo de Carvalho concorre sozinho à segunda. É eleito Presidente com 54% de abstenção.
Foto: DW/R. Graça
Saída em 2018?
Em março, José Eduardo dos Santos anuncia que vai abandonar a vida política em 2018. Mas, em agosto, é reconduzido na liderança do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Os moldes exatos da sua saída da política ainda não são conhecidos. Após a independência em 1975, Angola apenas teve dois Presidentes: Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.
Foto: picture alliance/dpa/P.Novais
Diálogo em Moçambique
Em setembro, são retomadas as negociações entre o Governo e a RENAMO em Maputo, que estão sob mediação internacional desde julho. Governo e RENAMO estão há meses sem chegar a um entendimento. Mediadores propõem cessar-fogo, mas os confrontos continuam. As divergências mantêm-se até ao fim do ano de 2016, altura em que a descentralização do poder está no centro do debate.
Foto: DW/L. Matias
Ataques a dirigentes políticos em Moçambique
Armindo Nkutche, membro da Assembleia Provincial de Tete pela RENAMO, é morto a tiro em setembro. Jeremias Pondeca, representante da RENAMO nas negociações de paz (à direita, na foto), é morto a tiro em outubro. No mesmo mês, desconhecidos matam o chefe da bancada da RENAMO na Assembleia Provincial de Sofala, Juma Ramos. Multiplicam-se os ataques a membros do partido da oposição e da FRELIMO.
Foto: DW/L. Matias
Continuidade em Cabo Verde
O Presidente Jorge Carlos Fonseca vence as eleições de 2 de outubro, mas a abstenção histórica de 64% levanta críticas da oposição. Na tomada de posse do seu segundo mandato (na foto), o Presidente cabo-verdiano defende o reforço da segurança do país a partir de investimentos em tecnologia e formação de agentes.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Moçambique não consegue pagar dívidas
Em novembro, o Governo assume oficialmente a incapacidade financeira para pagar as próximas prestações das dívidas das três empresas públicas com empréstimos ocultos (EMATUM, ProIndicus e MAM), defendendo uma reestruturação dos pagamentos e uma nova ajuda financeira do FMI. Comissão Parlamentar de inquérito para investigar contornos das dívidas conclui que o Executivo violou a Constituição.
Foto: Leonel Matias
Correspondente da DW detido
Arcénio Sebastião, correspondente da DW África na Beira, em Moçambique, é detido durante 34 dias no distrito do Dondo, acusado de injúria e difamação contra um agente da polícia. Um caso "incomum", segundo a defesa e o Instituto para a Comunicação Social da África Austral - MISA. O jornalista aguarda julgamento em liberdade, depois do pagamento de uma fiança de 20 mil meticais (mais de 230 euros).
Foto: DW/A. Sebastiao
Nosso Banco fecha as portas em Moçambique
O terceiro maior banco de Moçambique, com capitais maioritariamente nacionais, encerra ao público em novembro, na sequência do cancelamento da sua licença pelo Banco Central (na foto), perante os problemas financeiros da instituição. O caso causa indignação e juristas sugerem que o Banco de Moçambique pode ser alvo de responsabilização civil por negligência. Outros bancos estão sob vigilância.
Foto: DW/J.Beck
Guiné-Bissau: 5 Governos em menos de 3 anos
Em novembro, José Mário Vaz demite o Governo de Baciro Djá e dá posse a um novo primeiro-ministro: Umaro Sissoco. O PAIGC, vencedor das últimas legislativas, não aceita integrar o novo Governo, empossado em dezembro, por considerar que este resulta de uma iniciativa presidencial contrária ao acordo de Conacri, assinado pelos dirigentes guineenses em outubro e mediado pela CEDEAO.
Foto: DW/B. Darame
João Lourenço: o candidato do MPLA?
O ato central das comemorações do 60º aniversário da fundação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a 10 de dezembro, decorre sem a presença do presidente do partido, José Eduardo dos Santos. O ministro da Defesa, João Lourenço, é tido como o sucessor à liderança do partido, mas o MPLA não o confirma oficialmente.