Suspeita-se que o administrador Luís Ferreira do Nascimento poderá ter recebido uma parte dos 25 milhões de euros que terão sido desviados da Sonair, a companhia de aviação da Sonangol.
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O procurador-geral da República de Angola confirmou a instauração de um processo, em fase de instrução, a Carlos Panzo, anterior secretário para os Assuntos Económicos do Presidente da República.
Em conferência de imprensa, na noite de sexta-feira (24.11), em Luanda, o procurador João Maria de Sousa afirmou que ainda não chegou à Procuradoria-Geral da República (PGR) qualquer processo das autoridades suíças, que, em outubro, denunciaram investigações a Carlos Panzo, iniciadas em março deste ano, sobre factos penalmente puníveis.
"Para que esse processo possa ter pernas para andar teremos que obter o cumprimento de uma carta rogatória a ser expedida pela PGR de Angola, no sentido de então ser solicitado às autoridades suíças que nos enviem os elementos de provas", referiu.
Carlos Panzo foi nomeado, em dezembro de 2016, pelo então chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, como administrador executivo do estatal Banco de Desenvolvimento de Angola.
No final de setembro, João Lourenço nomeou Carlos Panzo para secretário dos Assuntos Económicos do Presidente da República. Mas exonerou-o pouco depois, a 20 de outubro, tendo sido substituído por Ricardo Viegas de Abreu.
O que aconteceu no mesmo dia em que a PGR divulgou, em comunicado, que tem em curso um "inquérito para apuramento de uma denúncia sobre factos penalmente puníveis", nos termos do direito internacional, contra Carlos Panzo, aberto pelo Ministério Público.
A PGR comprometeu-se a "endereçar à autoridade denunciante [Ministério Público da Suíça] um pedido de assistência judiciária internacional", ao abrigo da Lei da Cooperação Judiciária Internacional em Matéria Penal.
Quem ficou com os 25 milhões de euros desviados da Sonair?
A PGR angolana confirmou ainda, na sexta-feira (24.11), uma investigação a um dos novos administradores da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), Luís Ferreira do Nascimento José Maria. Poderá estar envolvido num alegado esquema de serviços fictícios da TAP à Sonair.
No âmbito da investigação será pedida a colaboração de Portugal. "É citado num processo no âmbito da cooperação judiciária internacional em matéria penal, proveniente de Portugal. Deu origem à instauração de um processo aqui em Angola e esse processo está a dar os primeiros passos", informou João Maria de Sousa.
Contudo, Luís Ferreira do Nascimento está implicado numa investigação iniciada em Portugal, suspeito de ter recebido, alegadamente, uma parte dos 25 milhões de euros que terão sido desviados da Sonair, a companhia de aviação da Sonangol.
Em causa está o caso conhecido em junho último, em Portugal, em que três advogados e outras quatro pessoas que tiveram ligação à TAP (um deles como membro do Conselho de Administração) foram acusados pelo Ministério Público português de corrupção ativa com prejuízo no comércio internacional, branqueamento e falsificação de documentos.
Segundo informação divulgada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), mediante um esquema fictício de prestação de serviços da TAP à Sonair, foram colocados em Portugal, por parte da petrolífera angolana, elevados montantes em dinheiro.
"A investigação apurou que a Sonair procedeu ao pagamento à TAP de um valor superior a 25 milhões de euros sem que tenha havido a prestação dos serviços aparentemente contratados", indicou na altura o DCIAP.
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.