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Angola: Pobreza e desespero no Dirico, Cuando Cubango

Adolfo Guerra (Menongue)
27 de junho de 2024

Os cidadãos do município do Dirico, no Cuando-Cubango, enfrentam dificuldades devido ao alto custo dos produtos essenciais, e apelam urgentemente à intervenção do Governo para aliviar o fardo financeiro.

Angola | Markt | Müll und fehlende Sanitäre Anlagen
Foto: Adolfo Guerra/DW

Localizado a cerca de 500 quilómetros de Menongue, o município do Dirico faz fronteira a sul com a República da Namíbia. Esta proximidade, contudo, não tem sido suficiente para atenuar as dificuldades económicas enfrentadas pela população local.

A fome e os preços elevados dos produtos da cesta básica continuam a ser temas centrais nas discussões sobre a condição social dos angolanos. Em algumas localidades da região sul do país, relatos de mortes por fome são preocupantes, e esta realidade pode tornar-se ainda mais grave. No Dirico, os habitantes queixam-se das dificuldades em obter o necessário para as suas mesas, uma preocupação que se agrava para aqueles com menores recursos financeiros.

Fernando Dala, um munícipe do Dirico, lamenta o estado lastimável das condições sociais e refere que muitos recorrem a trocas de produtos para conseguirem comer.

Ponto central do município do Dirico, onde moradores enfrentam graves dificuldades econômicas e de abastecimento.Foto: Adolfo Guerra/DW

"Nós, professores, lamentamos a nossa situação, mas aqueles que não trabalham estão em pior situação. A desnutrição aqui está acima da média, as pessoas comem mal; há quem não consiga comprar um litro de óleo para fazer funge (pirão). Eles precisam ir às suas hortas, colher couves, e trocá-las com os professores por fubá (farinha de milho ou mandioca) para fazerem funge", explicou Dala.

Outro munícipe, Octavino Palanca, apontou as principais dificuldades e as medidas que os habitantes tomam para se salvarem da fome, descrevendo a situação como um verdadeiro martírio. Segundo Palanca, a proximidade com a Namíbia tem sido uma tábua de salvação para muitos.

"A população do Dirico vê a Namíbia como um apoio. Quem consegue trocar kwanzas vai à Namíbia fazer compras, até de tomate e cebola. Aqui no município, temos apenas duas lojas, que são dos mauritanos. Eles têm-nos ajudado na aquisição de bens de primeira necessidade, mas os preços são exorbitantes, e perguntamo-nos por que isto acontece?", questionou Palanca.

Placa indicando a fronteira entre Angola e Namíbia, uma proximidade que os habitantes do Dirico veem como uma tábua de salvação.Foto: Adolfo Guerra/DW

Estradas precárias

O líder sindical, Antonio Mucanda, destacou que os empresários locais justificam os preços elevados com as condições das estradas e o custo dos fretes.

"Os camiões que trazem as mercadorias vêm apenas uma ou duas vezes por mês, então o preço é aquele. Nós não vivemos, sobrevivemos", afirmou Mucanda.

Mucanda, que é também o secretário provincial do SINPROF (Sindicato Nacional de Professores), descreveu as dificuldades enfrentadas pelos seus membros naquela região.

"Há uma fome extrema. O quilo de farinha de milho custa 1500 kwanzas, e para se ter três tomates é preciso 500 kwanzas. Para comprar sete tomates, é necessário atravessar a fronteira e comprar na Namíbia. É uma vida extremamente difícil", lamentou.

O líder sindical sugere ao executivo medidas urgentes para resolver a situação, sublinhando que a falta de intervenção prejudica o normal funcionamento das escolas e a vida dos professores e estudantes. Ponciano Longuenda, agente social, associa o elevado preço dos produtos da cesta básica às más condições das estradas e aos elevados custos de transporte.

Condições das estradas no município do Dirico, apontadas como um dos fatores que elevam os preços dos produtos básicos.Foto: Adolfo Guerra/DW

"Para minimizar esta carência, o governo deve trabalhar seriamente na construção de estradas. Com a abertura das vias de acesso, quem reside na orla terá acesso rápido aos produtos", recomendou Longuenda.

Longuenda salientou ainda os preços exorbitantes de outros produtos, como o saco de arroz, que custa entre 35 a 37 mil kwanzas (cerca de 38 a 40 euros) , e um litro de óleo alimentar, que varia entre 3.500 a 3.700 kwanzas (cerca de 3 a 4 euros).

"Para o cidadão comum, especialmente aqueles que dependem da agricultura, até mesmo os assalariados, isto é um verdadeiro sacrifício", concluiu.

A população do Dirico espera que o executivo tome medidas rápidas e eficazes para aliviar a crise e melhorar as condições de vida na região.