Munícipes da cidade do Dondo, na província angolana do Kwanza Norte, estão revoltados porque não têm água potável há já vários anos. As autoridades locais asseguram que o novo sistema de abastecimento está quase pronto.
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Há vários anos que a população da cidade do Dondo não consome água potável. Os moradores admitem estar a viver momentos difíceis. Isidro João, habitante do bairro Terra Nova, na periferia da cidade do Dondo, lamenta a falta de água potável na região, mesmo com a presença do rio Kwanza junto à sua zona de residência.
"Estamos muito mal, nós estamos a consumir água imprópria, transportado pelas motos, moto-taxistas e fica muito mal, com o rio que temos aqui próximo. Não podemos viver assim a consumir água imprópria", desabafa o jovem.
Angola: População do Dondo vive há anos sem água potável
Susana Machado, outra munícipe do Dondo, que vive na zona da Cerâmica, lamenta que não haja melhorias. "Estamos mesmo com escassez de água. O rio Kwanza está aqui no Dondo, mas nem por isso nos facilitam com água potável", critica.
Por isso, a moradora Suzana Machado deixa um conselho às autoridades administrativas locais: "A minha recomendação é que os nossos administradores velem pela situação da água, para que seja mais extenso em cada casa, para não estarmos sempre a ir acarretar água no rio Kwanza. É bom quando acarretamos água a partir da cisterna."
Nova rede de água potável quase pronta
"Kambambe-Dondo não tem água. Um governante não pode esconder a verdade. A população não bebe água potável", critica também Gutemberg Matias, membro da Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE), que vive no bairro Kassese, o mais populoso do município.
O administrador municipal de Kambambe, Adão Malungo, disse à DW África que a nova rede de água potável está quase pronta. "A nova rede já está efetuada em 97%, faltando apenas as zonas periféricas", para que a cidade do Dondo "venha a ter água potável distribuída domiciliarmente", garantiu.
O projeto de requalificação arrancou há cinco anos. "A cidade do Dondo tinha uma rede de água cujo sistema estava já há mais de 60 anos, estava obsoleto, daí que em 2014 o Ministério de Energia e Águas começou por financiar um projecto de requalificação de todo o sistema de água da cidade do Dondo", explicou Adão Malungo.
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.