Envio de geradores para São Tomé está a gerar polémica em Luanda, uma vez que vários bairros da capital registam cortes de energia constantes. Analista diz que executivo angolano "está a fazer política de charme".
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Luanda, a maior cidade de Angola, regista cortes constantes de energia elétrica, apesar de, nos últimos tempos, ter havido melhorias em algumas zonas da capital. No entanto, no bairro Palanca, por exemplo, registam-se, frequentemente, falhas de eletricidade. Em declarações à DW África, um residente local lamenta a situação: "Já falámos bastante e estamos cansados. A única coisa que tenho a dizer é que tem que se resolver este assunto porque não sabemos o que fazer. Não sei onde que isto vai chegar", diz.
À noite, a situação é mais preocupante. Muitas famílias socorrem-se de geradores como fonte alternativa para ver as lâmpadas acesas e conservar os frescos, sobretudo nesta época da quadra festiva.
No entanto, e apesar desta realidade em alguns bairros da capital, o Governo angolano vai oferecer geradores a S. Tomé e Príncipe para resolver a crise de luz elétrica que o arquipélago atravessa.
Osvaldo Abreu, ministro das Obras Públicas, Infraestruturas, Recursos Naturais e Ambiente de São Tomé recusou avançar aos jornalistas uma data exata da chegada dos novos geradores, vindos de Angola, ao país. Sabe-se, no entanto, que no início desta semana uma equipa de especialistas angolanos chegou à capital são-tomense e iniciou trabalhos de recuperação de geradores avariados. "Os técnicos angolanos que estão no país fizeram uma radiografia do que há e agora o passo seguinte é sentarem-se com os nossos técnicos nacionais e estudar com mais profundidade aquilo que constituem dificuldades de equipamento, materiais e instalações para depois enviar unidades novas", explicou este governante.
Angola: População indignada com intenção do governo de oferecer geradores a São Tomé
Angola "às escuras"
Em Angola, o envio de geradores para São Tomé está a causar indignação, especialmente nas redes sociais, um dos maiores espaços de exercício de liberdade de expressão no país. Os cidadãos têm criticado esta intenção do governo.
Também Agostinho Sikatu, politólogo, se junta à onda de críticas, relembrando que as estradas nacionais e as casas dos cidadãos estão às "escuras". "O governo está a fazer uma política de charme para mostrar ao público externo que está interessado em resolver os problemas de outrem. O país anda às escuras, quem anda pelas estradas nacionais, ou mesmo dentro das cidades, vê que não há iluminação pública nas estradas. Não há iluminação nas residências de muitos os cidadãos", constata.
Para Sicatu, o Governo deve preocupar-se primeiro em resolver os problemas internos para se evitar a onda de contestação como a que se regista no Facebook.
"Não está em causa de energia a um outro país, mas um Governo que se preze deve necessariamente resolver primeiro os seus problemas. Então, como é que vai resolver o problema do vizinho se a sua casa estiver com o mesmo problema? Penso que a solução seria essa: resolver primeiro o problema interno, só assim deveria se resolver o problema de São Tomé", conclui.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".