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Angola: Preço do pão duplica devido à escassez de trigo

Nelson Camuto (Malanje)
31 de janeiro de 2024

70 gramas que há 2 meses custavam 30 Kwanzas subiram para 60. Panificadores justificam aumento com dificuldade de importação da farinha de trigo, mas há denúncias de especulação. Governo quer aumentar produção nacional.

Padaria no Lubango
Foto: Hans Lucas/IMAGO

A escassez de farinha de trigo em algumas províncias de Angola já é evidente. Noutras, nem se quer se encontra esta matéria-prima para produzir pão.

Os panificadores justificam a subida com dificuldades na importação da farinha do trigo, devido à desvalorização da moeda nacional face ao dólar norte-americano.

Segundo Noé da Silva, proprietário de uma padaria no centro do Uíge, os dois pontos de venda a grosso já estabeleceram um teto para a compra diária do produto: "Agora, os armazéns têm um limite, mas por cada dia ele dá o direito a 20 sacos", explica.

Em Malanje, por exemplo, a escassez já está gerar práticas fraudulentas, de acordo com denúncias do secretário da Associação dos Panificadores, Luís Monteiro. Os padeiros estarão a "colocar mais água na massa" e "a fazer com que o pão não fique muito tempo na estufa para fermentar".

"A cozedura é feita também em temperaturas que cobrem a parte de fora, mas a parte de dentro não seca, então fica um pão pesado. Mas também não é bom para a saúde", alerta o responsável.

Noé da Silva, padeiroFoto: Nelson Camuto/DW

Preço e qualidade não agradam a consumidores

Os consumidores estão indignados com a qualidade do pão que é produzido nos últimos tempos. Simão Ferrão diz que a sua família já abdicou mesmo de comer: "O matabicho já não tem como", lamenta. "Queríamos que o [o preço] do pão baixasse para toda gente comprar".

O setor da panificação vive esta crise desde finais do ano passado. Por todo o país, o pão de 70 gramas está a ser comercializado ao preço de 60 Kwanzas, o equivalente a 0.07 euros, contra os 30 Kwanzas cobrados há apenas dois meses.

Em Benguela, as famílias estão preocupadas. "Está complicado mesmo, a subida do preço do pão vai-nos matar", diz um consumidor. "É muito complicado, uma vez que nem todas as famílias estão em condições de comprar um pão a 60 Kwanzas, está muito difícil viver assim".

Denúncias de especulação

"Embora haja uma escassez declarada, a farinha virou um negócio ambulante, virou negócio de rua", acusa Furtado Manuel, responsável pela Autoridade Nacional de Inspecção Económica e Segurança Alimentar (ANIESA), em Benguela.

O presidente da Associação das Indústrias de Panificação e Pastelaria de Angola (AAIPA), Gilberto Simão, tinha já denunciado, em entrevista ao jornal O País, há duas semanas, que o trigo importado está a ser reexportado para a República Democrática do Congo (RDC), o que estará a contribuir para a escassez do produto no mercado.

O responsável denunciou uma "especulação de preços", uma vez que o Governo "disponibilizou somas avultadas para a importação da matéria-prima, mas que não está a ser consumida internamente".

Foto de arquivo (2020): Padaria em LuandaFoto: Sofia Christensen/AFP/Getty Images

Governo aponta para aumento da produção nacional

O ministro da Indústria e Comércio, Rui Miguêns, diz que "não há varinhas mágicas nem soluções que se possam implementar de um dia para o outro" e aponta para a necessidade de "aumentar o nível de produção de cereais, que por sua vez vai permitir que as empresas que transformam esses cereais em farinha possam produzir ao nível mais alto e de forma mais permanente e constante".

Em entrevista à DW África, o analista Israel da Silva afirma que o Governo tem de subvencionar a compra da farinha de trigo: "Um dos indicadores de que batemos no fundo do poço é preço e tamanho do pão. Se o Executivo olhasse com olhos de ver, entendo eu que atacaria esse problema. Podia subvencionar a compra da faria de trigo e de uma maneira ou outra olhar para o grito da população".

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