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Liberdade de imprensaAngola

Presidência angolana exclui vários órgãos de conferência

António Cascais
5 de janeiro de 2022

Presidência angolana escolhe a dedo órgãos para conferência de imprensa e gera descontentamento. Sindicato dos Jornalistas diz que vai abordar a Presidência sobre os critérios que determinaram esse formato.

Angola I Präsident Joao Lourenco
Foto: Alexander Nemenov/AFP/Getty Images

Em Angola, o ano novo começou com uma "maka", uma polémica em torno da conferência de imprensa que o Presidente da República (PR), João Lourenço, vai dar esta quinta-feira (06.01) em Luanda. É que foram escolhidos repórteres de apenas cinco órgãos de informação.

Além disso, o secretário do Presidente para a comunicação enviou aos órgãos selecionados uma mensagem afirmando que "cada jornalista terá a possibilidade de colocar duas perguntas ao chefe de Estado", solicitando-se, no entanto, que os jornalistas "enviem quanto antes as duas perguntas a fazer ao PR".

O Sindicato dos Jornalistas de Angola (SJA) já reagiu e criticou veementemente este "formato" escolhido pela Presidência. Entrevistámos o secretário-geral, Teixeira Cândido, sobre o assunto.

DW África: Concorda com este formato?

Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos Foto: Manuel Luamba/DW

Teixeira Cândido (TC): Primeiro, não é comum que o Presidente da República escolha os órgãos de comunicação social para os quais fala. Tendencialmente, e temos acompanhado noutras partes do mundo e os manuais de jornalismo assim nos ensinam, o PR pode falar para órgãos acreditados junto da Presidência da República. A outra situação tem que ver com o PR convocar uma conferência de imprensa que, em princípio, é aberta e todos os jornalistas estão convidados.

DW África: E quanto às questões das perguntas pré-selecionadas, isso é habitual em jornalismo em Angola?

TC: Em relação à suposta comunicação de que o secretário do PR solicitou as perguntas atempadamente também não é uma situação habitual. Normalmente em conferências de imprensa quem delimita o tema às vezes é quem dá a conferência. O que se pode negociar, e a profissão admite isso, são os temas. Agora, perguntas como tal não é habitual, isso não é jornalismo, não se conhece de lado nenhum essa perspetiva.

DW África: Em tempos de pandemia haveria razões talvez para reduzir o número de participantes numa conferência de imprensa...

TC: Por conta da pandemia compreende-se que se possa reduzir o número, mas é necessário que o façam com base num critério transparente e que seja com consentimento dos profissionais, regra geral funciona assim.

A passagem da gestão de alguns órgãos privados de comunicação social para as mãos do Governo faz recear o cerceamento da liberdade de imprensa em AngolaFoto: BGNES

DW África: E como o Sindicato dos Jornalistas Angolanos tenciona reagir?

TC: O Sindicato dos Jornalistas Angolanos vai abordar o secretário do PR para saber quais foram os critérios que determinaram esse formato e saber por que razão solicitou questões quando o normal são temas que podem ser solicitados, mas nunca saber previamente as questões, até porque imagine que haja coincidência de perguntas? Porque se houver coincidência de perguntas, eu posso fazer outras naquele momento. Não é habitual condicionar o número de perguntas ou questões levadas. O sindicato precisa de entender os critérios que presidiram esse formato para ver se há necessidade de um novo posicionamento.

DW África: Quais são os órgãos ecolhidos pela Presidência e porque foram escolhidos, na vossa perspetiva?

TC: Não é oficial, mas sabemos que são o jornal Expansão, o jornal O País, o Jornal de Angola, a TV Zimbo e a agência portuguesa Lusa. Mas não sabemos quais foram os critérios que presidiram a essa escolha.

DW África: Não há uma teoria em torno dos critérios?

TC: Até agora não há. Precisamos de compreender a lógica, até agora não conseguimos.

DW Africa: Como os jornalistas angolanos sindicalizados e não sindicalizados, neste momento, reagem a esta situação?

TC: Com espanto porque não é habitual.

Angola: Luta pela liberdade de imprensa

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