O caso Cabinda parece não ter fim à vista: A FLEC reafirma que há conflito no enclave angolano, mas Luanda nega. Em entrevista à DW, o movimento de libertação apela à comunidade internacional para o fim do diferendo.
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Nos últimos tempos, a região petrolífera de Cabinda tem sido palco de alguns confrontos entre as Forças Armadas Angolanas (FAA) e os soldados da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) e das Forças Armadas de Cabinda (FAC). E há relato de mortes.
Mas, Pedro Sebastião, ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente angolano, João Lourenço, disse, recentemente, que não "há instabilidade em Cabinda".
A negação das autoridades leva Emanuel Nzita, presidente da FLEC, a questionar: "Porque que continuam estacionados milhares de soldados angolanos em todo espaço do território de Cabinda? Porque que continuma a morrer angolanos em Cabinda em confortos militares em todo territorio de Cabinda? Porque os soldados angolanos continuam a violar os limites fronteiriços dos dois congos vizinhos?".
Cabinda: "Medo, isso é coisa do passado!"
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Em entrevista á DW África, Emanuel Nzita diz que a sua organização está aberta ao diálogo com o Governo central, apesar deste manifestar indiferença. "A FLEC esteve sempre disposta para uma solução negocial com o Governo angolano. Nós estamos mais que prontos".
Soluções para o diferendo
Muitas soluções já foram ensaiadas para se resolver a situação da região do Maiombe. Entre elas, a criação do Fórum Cabindês para o Diálogo, em agosto de 2004. Mas parece não ter surtido o efeito desejado. Assim, Emanuel Nzita, apela a mediação da Organização das Nações Unidas (ONU). "Pedimos a comunidade internacional para que nos ajude com forma têm feito em outros países".
Para Salvador Freire, presidente da Associação Cívica "Mãos Livres", as conversações são a melhor via para se encontrar a solução para o "caso Cabinda" eentende que uma "guerra como tal, não existe na região".
"Diálogo local entre as autoridades, a sociedade civil e o próprio Governo angolano, sentar com os cabindas, com os angolanos em Cabinda, para encontrarmos a solução para o desenvolvimento do nosso país", sugere Freire.
Condições de vida em Cabinda
Muitos cidadãos queixam-se das péssimas condições de vida e de uma suposta falta de garantias para o exercício de direitos e liberdades como, por exemplo, a manifestação. Por isso exigem a sua independência de Angola. Salvador Freire, propõe uma autonomia para região, embora entenda que a sua implementação deve ser debatida. "Autonomia requer muito cuidado, muita atenção, discernimento porque o petróleo, como tal, pode acabar no território de Cabinda".
Cabinda é um dos principais fornecedores de petróleo, principal fonte do Orçamento Geral do Estado angolano, com mais de 70 % das receitas tributárias.
Artivismo: a arte política de André de Castro
O papel político da arte é o mote de "Liberdade Já", a exposição do artista brasileiro André de Castro que lembra, entre outros ativistas, os presos políticos angolanos.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
"Liberdade Já" em serigrafia
A arte pode ter uma missão política - é o que prova esta exposição de André de Castro, a primeira mostra a solo do artista visual brasileiro na Europa. Este primeiro painel à entrada da exposição, em Lisboa, é um tributo aos presos políticos angolanos. O autor deu-lhe o título de "Liberdade Já", slogan que alimentou o movimento de solidariedade internacional pela libertação dos ativistas.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
Debate sobre política internacional
Tanto este projeto "Liberdade Já" (2015) como "Movimentos" (2013-2014) tiveram repercussão mundial. O artista brasileiro destaca, através das suas obras, os jovens presos políticos de Angola, libertados em 2016. As suas imagens acabam por incentivar o debate sobre acontecimentos políticos internacionais.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Os "revús" compõem o painel…
O artista compõe o painel com "monoprints" em serigrafias repetidas. Aqui podem ver-se alguns dos jovens angolanos presos em Luanda, em 2015, por discutirem um livro sobre métodos pacíficos de protesto. Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Nuno Álvaro Dala, Nito Alves, Benedito Jeremias e Nelson Dibango, entre outros, foram julgados pelo crime de atos preparatórios para a prática de rebelião.
Foto: DW/J. Carlos
… e multiplicam-se pelo mundo digital
O luso-angolano Luaty Beirão foi escolhido como símbolo do ativismo político, dando força à exposição, com a curadoria da Muxima. Os retratos multiplicaram-se no mundo digital, foram reproduzidos em t-shirts e posters. A venda das serigrafias expostas em mostras coletivas em Lisboa e Nova Iorque, em 2016, reverteu integralmente a favor das famílias dos presos políticos angolanos.
Foto: DW/J. Carlos
Além de Angola...
Em dezembro, André de Castro comemorou com as irmãs a abertura da exposição em Lisboa, que também apresenta rostos de ativistas como José Marcos Mavungo, advogado e ativista de Cabinda. Além de Angola, o artista desafia os visitantes a revisitar o movimento da Primavera Árabe. Dá a conhecer as pessoas e as suas lutas, propondo um ângulo mais pessoal e humano na narração do momento histórico.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Arte como ator social
No interesse do público e das comunidades, o artista brasileiro assume ser um promotor social. "Ao expor 'Movimentos' e 'Liberdade Já' juntos, a mostra permite um recorte da arte como ator social, questionando intenção, receção, apropriação e estética nas ruas e na internet", afirma André de Castro. É o que mostra a coleção "Movimentos", colocada na outra parede da sala.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Coragem para mudar o mundo
Nesta segunda parede, André de Castro imortaliza várias causas em diversas partes do mundo. São mulheres e homens que recusam aceitar a forma como são tratados pelos respetivos Estados. Acreditam, tal como o autor da exposição, que o mundo pode ser muito melhor. Por isso, com coragem, decidiram sair à rua.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Identidade política dos manifestantes…
Este primeiro projeto de André de Castro, em 2013, foi selecionado para a 11ª Bienal Brasileira de Design Gráfico e visto por mais de 40 mil visitantes, passando por Miami (2013), Nova Iorque (2014) e Brasília (2015). As serigrafias, que resultam de entrevistas realizadas através das redes sociais, retratam as identidades políticas dos manifestantes de diferentes países.
Foto: DW/J. Carlos
… e cultura das manifestações
Através das serigrafias, o artista procurou valorizar a força da ação individual dos manifestantes. Cada participante enviou uma foto de rosto, usando as redes sociais, e respondeu a uma série de perguntas sobre a sua identidade política. Assim, foram criados retratos políticos individuais que, em conjunto, formam uma mini etnografia da cultura material e imaterial das manifestações.
Foto: DW/J. Carlos
Do outro lado do mundo
Em Nova Iorque, no Zuccotti Park, a sugestão original foi ocupar Wall Street, símbolo dos capitais financeiros internacionais. Porque, afinal, foi a especulação de capitais que deu origem à crise que atormentou o mundo há anos. Questiona Daniel Aarão Reis, ao apresentar a exposição: "Como aceitar que os responsáveis não ficassem com o fardo principal das medidas de superação desta mesma crise?"
Foto: DW/J. Carlos
Novos dispositivos de mobilização
A arte política de André de Castro, que também evoca figuras como Ghandi e Martin Luther King, faz lembrar a tradição dos grandes movimentos dos anos 1960, que dispensava partidos e sindicatos. Ao invés disso, surgiram novos dispositivos de mobilização e de ação.
Foto: DW/J. Carlos
Espelho D’ Água valoriza as serigrafias
A exposição, que também será posteriormente exibida no Porto (a norte de Portugal), encontra-se no Espaço Espelho D’Água, em Lisboa. A calçada deste espaço, tipicamente portuguesa, foi construída com base numa obra do autodidata artista plástico angolano, Yonamine, que tem vivido em diversos países de África, Europa e América do Sul.