Em Portugal a "Operação Fizz" chegou ao fim com a condenação do ex-procurador português corrompido pelo antigo vice-Presidente de Angola. E quando será julgado Manuel Vicente? Será que o processo "tem pernas para andar"?
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O ex-vice-Presidente de Angola Manuel Vicente, acusado em Portugal por crimes de corrupção ativa e branqueamento de capitais não foi julgado no caso "Operação Fizz". O processo foi separado, em janeiro deste ano, a pedido de Angola.
Em declarações a DW África, o jornalista angolano Ilídio Manuel explica porque o ex-vice-Presidente angolano espera por julgamento no seu país.
"Acredito que tinha a noção do envolvimento de Manuel Vicente neste caso daí aquela pressão toda que se fez. Mas Angola não o fez de forma inocente, que é a forma só de proteger Manuel Vicente, seria todo o regime que seria forçado a sentar-se no banco dos réus. Então, Angola como forma de lavar a própria face e para que isso não constituísse uma humilhação para o próprio país fez aquela pressão toda e Portugal cedeu".
Angola: Quando será julgado Manuel Vicente?
Julgamento em 2022 ?
Atualmente o antigo patrão da Sonangol, petrolífera angolana principal fonte de receitas do Estado, é deputado no Parlamento angolano e goza de imunidade. Por isso, Ilídio Manuel não prevê o seu julgamento antes de 2022, altura em que termina mais uma legislatura.
"Eu não acredito que ele venha a ser julgado antes desta data porque Manuel Vicente goza de imunidade à luz do direito angolano".
Processo "sem pernas para andar"
Já, o jurista Agostinho Canando, diz que o caso não tem "pernas para andar”. Diz ainda que não vê vontade por parte da Procuradoria-geral da República de Angola para instrução processual e levar Manuel Vicente às barras do tribunal por ter corrompido o procurador português a troco de arquivamento de um processo em que esteve envolvido. Orlando Figueira foi condenado (07.12.) pela justiça portuguesa a seis anos e oito meses de prisão.
"O processo em princípio não terá pernas para andar porque se o Ministério Público angolano quisesse de certeza resolver essa situação retiraria essas imunidades poderia muito bem dar seguimento da ação penal sem necessidade de se correr, por exemplo, a outras vias como a via política", afirma Canando.O caso Manuel Vicente trouxe o "irritante" que fez azedar as relações históricas entre Angola e Portugal. A situação foi ultrapassada com o envio do processo para a justiça angolana e a recente visita de Estado do Presidente João Lourenço a Portugal.
Proteção do Governo
Ilídio Manuel acusa Angola de "levar" o ex vice-Presidente "ao colo".
"Há uma notória proteção que o Governo angolano deu a Manuel Vicente... levou praticamente Manuel Vicente ao colo. O que se pretendeu com isso não foi a figura em si de Manuel Vicente, mas todo um sistema que é tido como corrupto".
A separação de poderes em Angola foi duramente criticada no Governo do ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Com a nova governação há sinais de mudança, mas ainda há um longo caminho a percorrer, diz o jurista Agostinho Canando.
"Essa divisão bipartida entre o poder político e o poder judiciário, acho que estamos a entrar nessa divisão mas de forma tímida. O poder político, em princípio, não está mesmo separado na sua totalidade do poder judiciário", concluiu o jurista.
Eleições em Angola: Do combate à corrupção ao "Dubai africano"
A DW África analisou os principais factos que marcaram a campanha eleitoral angolana e as promessas mais faladas de cada partido concorrente às eleições gerais de 23 de agosto. Um resumo fotográfico.
Foto: privat
Pouco espaço para a oposição
Na pré-campanha, a oposição afirmou que nas ruas de Luanda só se viam cartazes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Segundo a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), as agências publicitárias recusavam-se a divulgar materiais da oposição, sob risco de perderem as licenças e os espaços publicitários atribuídos pelo Governo Provincial de Luanda.
Foto: DW/N. Sul de Angola
Propostas na rádio e televisão
Após a pré-campanha, a Comissão Nacional Eleitoral estabeleceu o período de 23 de julho a 21 de agosto para a campanha eleitoral. Além dos atos de massa, os partidos puderam apresentar as suas propostas nos meios de comunicação social do país. A oposição voltou a dizer que não teve o mesmo espaço que o partido no poder.
Foto: DW/B.Ndomba
Combate à corrupção
Combater a corrupção foi uma das metas apresentadas pelo MPLA. O partido no poder, que tem João Lourenço (foto) como cabeça-de-lista, reconheceu durante a campanha que o país "não pode mais sofrer com a corrupção". A ausência do candidato à vice-presidência, Bornito de Sousa, e do Presidente cessante José Eduardo dos Santos, que supostamente estavam doentes, também marcou a campanha eleitoral.
Foto: DW/ A. Cascais
"Interesse nacional"
Entre as propostas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a gratuidade da educação até o ensino secundário. O maior partido da oposição também prometeu um Governo em que o "interesse nacional" esteja acima de "interesses partidários, setoriais ou pessoais". O partido liderado por Isaías Samakuva encerrou sua campanha eleitoral no Cazenga (foto), em Luanda.
Foto: DW/A. Cascais
Mudança depois de 42 anos
A CASA-CE, segundo maior partido da oposição, reuniu ao longo da campanha milhares de apoiantes em diferentes atos de massa nas províncias (foto em Benguela, a 29 de julho). No ato de encerramento, em Luanda, o candidato Abel Chivukuvuku pediu confiança dos angolanos para pôr fim aos "42 anos de sofrimento e má governação".
Foto: DW/N. S. D´Angola
Estados federados
A campanha do Partido de Renovação Social (PRS) foi marcada pela proposta de implantar um sistema federalista no país. O cabeça-de-lista Benedito Daniel (ao centro da foto) defendeu que só através dessa reforma as províncias angolanas – convertidas em estados – teriam autonomia para governar.
Foto: DW/M. Luamba
Angolano no "centro da governação"
A campanha da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) deu especial atenção à pobreza, saúde, educação e emprego. Liderado por Lucas Ngonda, o partido diz que é a "única formação partidária que tem o angolano como centro da sua governação". A abertura da campanha eleitoral aconteceu no Bié (foto), berço do antigo braço armado do partido, a União Para a Libertação de Angola (UPA).
Foto: DW/J. Adalberto
"Dubai africano"
A Aliança Patriótica Nacional (APN) é o partido com o candidato à Presidência mais jovem. Durante a sua campanha eleitoral, o ex-deputado Quintino Moreira (à esquerda na foto) prometeu criar um milhão de empregos – o dobro do que o MPLA prometeu nestas eleições. Além disso, disse que transformaria a província do Namibe num "Dubai africano".