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Angola: Quatro décadas depois, Ebo continua sem luz e água

Borralho Ndomba
13 de janeiro de 2023

Em Angola, os habitantes do município do Ebo, na província do Kwanza Sul, estão há mais de 40 anos sem luz elétrica e sem água potável. Sentem-se esquecidos pelo Governo, que promete soluções no curto prazo.

Foto: Borralho Ndomba/DW

A agricultura é a atividade principal na região, mas os camponeses precisam de fertilizantes. Oliveira Ribeiro, residente no bairro Luanda Ebo, afirma que o povo não tem possibilidades de comprar esse tipo de produtos e, por isso, tem dificuldades em cultivar.

"A terra daqui não é fértil. Precisamos de apoio, porque este povo não tem comida. A terra não ajuda. O camponês é obrigado a comprar fuba noutra região, porque não consegue fazer nada na sua terra, por falta de químicos", lamenta.

Ebo é uma região calma e considerada a "mais limpa" de toda a província do Kwanza Sul, no centro-oeste de Angola. Mas nem a tranquilidade, nem a limpeza das ruas ajudam a resolver os problemas no município do Ebo há mais de quatro décadas.

Gerador só para alguns

A linha de eletricidade que vai da barragem de Laúca para as outras províncias passa pelo município. Mas a população depende da luz das velas e de candeeiros artesanais. Na vila do Ebo, algumas casas têm energia a partir do gerador da administração local, mas o acesso é limitado. O gerador é ligado às 18h e desligado à meia-noite.

Único fontanário do Ebo nem sempre tem águaFoto: Borralho Ndomba/DW

Castro João, natural da região, diz que o povo já nem sonha em ter luz elétrica. "A energia aqui não se faz sentir. A energia que vem da subestação do Waco Kungo passou aqui na nossa sede municipal, mas não se faz sentir", reitera.

Foi neste município que, em novembro de 1975, mês da proclamação da independência de Angola, se travou a célebre "Batalha do Ebo". As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), antigo braço armado do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), impediram o avanço das tropas sul-africanas rumo a Luanda.

Os habitantes da localidade dizem que, por ajudarem a 'travar' a invasão estrangeira, também merecem o "pedaço do pão" gerido pelo Governo. "A Quibala e outros municípios têm luz, mas o Ebo não. Por isso temos dito que está esquecido. Em 1975, o Ebo batalhou. O povo do Ebo devia beneficiar pelo que fez no passado", considera o agricultor João Marcos. 

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02:46

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Também não há água

A falta de acesso à água é outro assunto que tira o sono aos moradores. O projeto do Governo 'Água para todos', lançado no período eleitoral de 2012, não chegou a toda a gente. "Há muita dificuldade aqui. Falta água. Falou-se tanto do [projeto] ‘Água para todos', mas não se vê nada. Os homens vieram, mas aquilo foi provisório. Não tem movimento nenhum", diz Oliveira Ribeiro.

O único fontenário no bairro Luanda Ebo não jorra água todos os dias. Por isso, a população recorre aos poços.

O administrador do Ebo, Adérito Jorge, reconhece as preocupações dos seus munícipes e diz que a situação será resolvida brevemente, porque o Presidente da República, João Lourenço, já deu o aval para a instalação de uma subestação elétrica no município.

"Com a instalação de uma subestação, certamente que o problema ligado à energia elétrica vai ser ultrapassado. O outro problema prende-se com o fornecimento de água à população. Temos défice, mas quero garantir que, no âmbito de implementação do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), há perspetiva da instalação de uma subestação de tratamento e captação de água", frisou.

Crianças aprendem a jogar xadrezFoto: Borralho Ndomba/DW

Adérito Jorge enumera outros assuntos que preocupam a sua administração. "Temos dificuldades com as vias de acesso, com a assistência médica à população, temos ainda algumas limitações e também temos problemas com o setor da educação. Mas paulatinamente estamos a trabalhar para ver se conseguimos ultrapassar", sublinhou o administrador do Ebo.

Os jovens e as crianças do Ebo pedem espaços para praticar desporto. Para já, o FAS, Instituto de Desenvolvimento Local, lançou o projeto "Xadrez na Comunidade". 60 crianças do Ebo estão a aprender a jogar xadrez.

Belarmino Jelembi, diretor-geral do FAS, diz que a iniciativa visa promover a inclusão social através da modalidade nas zonas rurais de Angola. "Permitir que estas crianças, daqui a algum tempo, tenham uma estrutura de pensamento que lhes ajude a resolver os problemas e a ter uma participação mais ativa na vida das suas comunidades, na vida do seu município, sobretudo na vida da Nação", disse. A iniciativa deverá beneficiar mais mil crianças no país.

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