Os angolanos parecem já falar muito pouco sobre a crise económica e financeira, mas os problemas continuam todos os dias. Será que se habituaram? Ou a situação melhorou?
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Angola continua a sofrer com os preços baixos do petróleo no mercado internacional, a principal fonte de sustento da economia. A crise começou em 2015 e ainda não terminou, provocando uma escassez de divisas e a subida de preços dos principais produtos. Mas, nos últimos tempos, estes problemas parecem ser cada vez menos tema de conversa nas ruas, nos bares ou nos táxis de Luanda. Será que os angolanos se habituaram aos efeitos da crise?
Yuri Abrão, residente na capital, afirma que não. Segundo ele, não se fala sobre essas coisas porque reina a cultura do medo na sociedade angolana.
"Ainda não há liberdade na totalidade", comenta. "Colocaram uma barreira psicológica na mente dos angolanos. Alguns deles estão privados de falar sobre o que sentem, sobre as suas condições de vida, porque em Angola alguns são presos soltos."
A crise não acabou, salienta Dionísio Ângelo, morador da periferia de Luanda - prova disso são os salários em atraso dos trabalhadores da Função Pública. "Até agora, os professores e enfermeiras não ganham", diz.
Angola: Queixas em surdina contra a crise económica
Incertezas da crise
Yuri Abrão não sabe, por exemplo, como será o seu próximo Natal. "Saímos agora de uma eleição; outro Presidente assumiu o poder e não sabemos como será daqui a alguns meses", afirma.
Esta será a primeira celebração natalícia sem José Eduardo dos Santos no poder e a primeira de João Lourenço como Presidente da República. Com o aproximar da quadra festiva, muitos angolanos já fazem contas à vida - até porque nessa época costuma haver especulação de preços no mercado informal.
Otimista, Simão Alberto Miguel, outro residente de Luanda, espera que o preço dos produtos volte a baixar, para que se possa festejar o Natal como antigamente. Pelo menos, o saco de arroz está mais barato, refere: passou de dez mil para cinco mil kwanzas (cerca de 25 euros). E "isso já é muito bom", conclui.
O que não é de Isabel dos Santos em Luanda?
Em Luanda, facilmente se percebe os investimentos de Isabel dos Santos. A filha do ex-Presidente angolano tem negócios na banca e nas telecomunicações. Também tem presença no comércio e nos setores petrolífero e mineiro.
Foto: DW/P. Borralho
Os negócios de Isabel dos Santos
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos é proprietária de muitas empresas que operam em Angola. E já há quem acredite que assumir o cargo da Presidência da República pode ser o próximo passo da empresária, que atualmente está na presidência da petrolífera Sonangol.
Foto: picture-alliance/dpa
Telecomunicações
No ramo das telecomunicações, a filha do ex-Presidente angolano e empresária Isabel dos Santos possui a UNITEL. Lançada em março de 2001, a empresa tem como principal atividade a prestação de serviços móveis de voz e de Internet. A UNITEL funciona com um total de 182 lojas próprias em todo o país, 81 das quais na capital, Luanda. A empresa tem mais de 5 milhões de clientes.
Foto: DW/P. Borralho
TV por satélite
Ainda no ramo das telecomunicações, a ZAP iniciou a sua atividade no mercado angolano em abril de 2010 e é atualmente a maior operadora de TV por satélite em Angola, segundo informações da própria empresa. Desde 2011, a ZAP também está presente no mercado moçambicano. A TV por satélite de Isabel dos Santos acabou com o monopólio que a empresa sul-africana Multichoice teve em Angola.
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Banca
Há dez anos em operação, o Banco BIC tem mais de 200 unidades comerciais para atendimento, compostas por 195 agências e 17 centros de empresas em Angola. O banco serve de apoio para empresários que mantêm investimentos em Portugal, onde Isabel dos Santos também possui uma fatia do Banco português.
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Sonangol
Em junho de 2016, Isabel dos Santos assumiu a presidência da maior empresa estatal de Angola, a petrolífera Sonangol. Na altura, a tomada de posse da filha do então Presidente de Angola foi criticada por juristas, que afirmam que a nomeação da empresária é ilegal e inconstitucional. A petrolífera mantém uma rede de postos de abastecimento e estações de serviços em todo o país.
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Centro comercial
Embora Angola esteja mergulhada numa crise económica devido à queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional, Isabel dos Santos iniciou este ano mais um novo empreendimento em Luanda. Trata-se do Shopping Avennida, inaugurado no primeiro semestre. O centro comercial abriga dezenas de empreendimentos, muitos deles da própria empresária, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL.
Foto: DW/P. Borralho
Hipermercado
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos também investiu no segmento de hipermercados através da rede Candando, situado no recém inaugurado Shopping Avennida. Segundo a Contidis, empresa que administra o hipermercado, a previsão é que mais dez lojas sejam inauguradas nos próximos cinco anos, num investimento total de 400 milhões de dólares.