Luanda quer o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Conselho Internacional dos Museus e da Interpol para recuperar as suas coleções dispersas na Europa e na América.
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Segundo o diretor nacional dos museus, Ziva Domingos, "este é um processo complexo, não se aborda de maneira simples, reconhecemos de facto que as coleções angolanas se encontram nas Europas, Américas, mas é preciso iniciar primeiro um trabalho de identificação desses objetos e depois a segunda fase será passar à negociação para o retorno".
O responsável referiu, em Luanda, que para a recuperação dessas coleções o país terá de "cruzar as suas ações" com organizações como a UNESCO, o Conselho Internacional dos Museus e a Interpol.
Ziva Domingos defende que as instituições internacionais "deverão colaborar com o Governo angolano no sentido de ver e estudar as modalidades de como recuperar o acervo".
"É um processo complexo, que não se faz num só dia, mas o que é certo, hoje a nível do mundo tornou-se, basicamente, uma febre falando do retorno de bens africanos aos seus países de origem", sublinha.
E acrescentou: "Nós não podemos ficar insensíveis, temos de começar a fazer um trabalho no sentido de recuperar o que puder das instituições europeias e americanas".
Antes de mais a identificação
Questionado sobre o número real de peças espalhadas pelo mundo, o diretor dos museus de Angola referiu que para se aferir o número real o passo primordial é a sua identificação.
"Neste momento, não há números, como dizia, é necessário começar primeiro por identificar, mas é preciso irmos ao pormenor e estamos numa fase de reflexão e da construção da estratégia para irmos à busca desses objetos", notou.
Ziva Domingos falava no final da cerimónia de assinatura de um Memorando de Cooperação Técnica para a Valorização das Coleções do Museu Nacional de Antropologia, que decorreu em Luanda.
Arte africana à espera de ser devolvida
Museus europeus mostram-se muitas vezes relutantes em devolver obras de arte africanas roubadas durante o tempo colonial. Presidente francês Emmanuel Macron anunciou que a França irá devolver 26 peças ao Benim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Glaubitz
Estátuas roubadas
Estes três totens - meio humanos, meio animais - fazem parte da coleção do Museu do Quai Branly, em Paris. São originários do reino do Daomé, onde fica hoje a República do Benim. A antiga colónia francesa declarou que os artefactos foram saqueados e, em 2016, pediu a sua devolução. A França negou. No entanto, voltou atrás na decisão: 26 peças do museu deverão ser agora devolvidas ao Benim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Glaubitz
Máscaras dos Dogon
Estas máscaras do povo Dogon também estão no Musée du Quai Branly, em Paris. São originárias de uma região onde está hoje o atual Mali e foram levadas para França na sequência de uma expedição nos anos 30. Máscaras como estas serviram de inspiração a pintores como Pablo Picasso ou Georg Baselitz. Documentos da altura detalham a crueldade com que os "exploradores" enganaram a população local.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Kaiser
Afugentador de colonizadores
De olhos bem abertos e com pregos cravados no corpo, esta Mangaaka é uma figura de poder do Congo usada por volta de 1880 para proteger uma aldeia africana contra as forças coloniais. Em todo o mundo, há apenas 17 figuras destas. Uma delas está no Museu Etnológico de Berlim. Estima-se que 90% da herança cultural africana foi levada para a Europa.
Foto: Imago/ZUMA Press
Deus Gu
O general francês Alfred Amédée Dodds desempenhou um papel preponderante na colonização da África Ocidental. Em 1892, os seus homens saquearam o Palácio do rei Béhanzin em Abomei, a capital do reino do Daomé. Um dos objetos saqueados foi a estátua do deus Gu, em bronze.
Foto: Imago/UIG/W. Forman
Rei Ghezo
O general Dodds também levou tronos e portas com relevos para a Exposição Universal de Paris, em 1878, no Palácio de Trocadéro. São bens que o Benim também exige de volta.
Foto: Imago/United Archives International
Bens confiscados
O general francês Louis Archinard conquistou, em 1890, a cidade de Segu, a capital do reino de Toucouleur. Os bens saqueados na altura - jóias, armas e manuscritos - estão hoje em exibição nas cidades de Paris e Le Havre. Desde 1994 que os descendentes do fundador do Império 'Umar Tall pedem a devolução dos objetos. A região pertence hoje ao Mali.
Foto: picture-alliance/akg-images
Não foi só em África
Os saques não ficaram por aqui. Os europeus também roubaram muitas peças de outros continentes. Por exemplo, em 1880, o navegador norueguês Johan Adrian Jacobsen foi a mando do Museu Etnológico de Berlim à América do Norte, à procura de objetos de culturas indígenas. As peças saqueadas em túmulos do Alasca foram devolvidas em 2018.