Presidente angolano espera que cooperação com RDC passe das intenções à prática. No final da visita a Luanda do Presidente Tshisekedi, João Lourenço assumiu necessidade de reforçar a segurança e controlar imigração.
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O novo Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, foi recebido esta terça-feira (05.02) pelo seu homólogo angolano, João Lourenço, no Palácio da Cidade Alta, em Luanda, com quem manteve um encontro privado. Na bagagem trouxe temas como as relações de cooperação nos domínios da segurança e da economia.
Luanda foi o primeiro destino de Félix Tshisekedidesde que tomou posse como Presidente da RDC, dirigida durante 18 anos por Joseph Kabila. Falando à imprensa no final do encontro, João Lourenço, disse esperar que a cooperação entre Angola e a RDC passe "das velhas intenções para projetos concretos".
Angola quer resolver segurança e apostar no comércio com RDC
O objetivo é relançar a cooperação sobretudo em dois domínios: segurança e económico. "Angola e a RDC têm uma vasta fronteira que não tem sido suficientemente bem explorada no interesse de ambos os países. Somos países com grandes recursos minerais e podemos, através do investimento privado, ultrapassar alguns problemas, entre os quais o desemprego das nossas populações", disse o chefe de Estado angolano.
Por outro lado, João Lourenço adiantou que Angola tem enorme interesse em renegociar os vários acordos assinados com a RDC em matéria de segurança, ordem pública e no domínio migratório, mas sobretudo no domínio energético, para que Angola possa "beneficiar da energia produzida pela barragem do Inga, para Cabinda e outras localidades fronteiriça da província do Zaire."
Repatriamento de congoleses
A questão do repatriamento de mais de 400 mil congoleses em atividades de garimpo em Angola nos últimos meses de 2018 foi abordada por Félix Tshisekedi, que disse "compreender" a decisão das autoridades de Luanda.
Chega ao fim o sonho congolês em Angola
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O Presidente da RDC destacou que a imigração irregular para Angolapassou sobretudo "por uma questão de sobrevivência" e "não para pôr em causa a segurança de Angola".
Nesse sentido, Tshisekedi pediu a João Lourenço uma maior colaboração entre os serviços de migração e fronteiras dos dois países, para que os imigrantes possam regressar "em condições dignas" à RDC e para que se possa pacificar as diferentes zonas, desenvolver o comércio e gerar emprego. "Vamos, juntos, continuar a combater essa vaga de imigração ilegal", disse.
Presidente "reformador"
O Presidente congolês afirmou-se também como um "reformador" e deu como exemplo o facto de a televisão estatal congolesa ter dado destaque a um comício do candidato derrotado, Martin Fayulu. Algo que, sublinhou Félix Tschisekedi, não era prática no regime de Kabila.
"Pela primeira vez, não apenas um comício da oposição pode realizar-se sem perturbação, mas também a televisão oficial fez questão de falar sobre a oposição e também mostrou imagens da manifestação. É um sinal que eu queria mandar aos meus compatriotas sobre o respeito dos direitos e liberdades das pessoas, sobretudo da melhoria da democracia do nosso país", declarou.
Questionado sobre o facto de a sua eleição ser ainda objeto de contestação, Tshisekedi preferiu olhar para o simbolismo da "transição pacífica" com a saída de Joseph Kabila. "A primeira vez que tivemos eleições sem violência foi desta vez", sublinhou.
Depois de Luanda, as próximas visitas de Estado do novo Presidente congolês serão a Nairobi (Quénia) e Brazzaville (Congo).
Congoleses em fuga de Angola: RDC promete retaliação
Mais de 270 mil congoleses foram obrigados a abandonar Angola. Em retaliação, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês deu dois meses aos angolanos ilegais para abandonarem a RDC. ACNUR teme nova crise humanitária.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Ao ritmo de 1.000 imigrantes por hora
Imigrantes congoleses chegam à localidade fronteiriça de Kamako, já do lado da República Democrática do Congo (RDC), ao ritmo de 1.000 pessoas por hora. Mais de 270 mil imigrantes ilegais congoleses foram obrigados a abandonar Angola, após um decreto do Presidente João Lourenço que visa acabar com a imigração ilegal no país, sobretudo nas regiões diamantíferas das Lundas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
RDC promete retaliação
O Governo em Kinshasa utiliza o termo "expulsos" quando se refere aos imigrantes que Angola diz estarem a "sair de forma voluntária" do país. Como represália, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês definiu um prazo de dois meses para que todos os angolanos em situação irregular saiam da RDC. A tensão levou os Governos e representações diplomáticas dos dois países a iniciarem conversações.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Detidos com documentos angolanos falsos
Em colaboração com o ACNUR e com organizações não-governamentais, as autoridades congolesas estão a vigiar a pente fino as entradas no país. Entre os cidadãos obrigados a abandonar Angola, há portadores de documentação da nação vizinha. Porém, o porta-voz da "Operação Transparência" anunciou a detenção de imigrantes com "documentos angolanos falsos" que serão julgados em Luanda.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Congoleses dedicavam-se ao garimpo ilegal
O comandante da Polícia Nacional de Angola, António Bernardo, garante que os imigrantes que estão a abandonar o país "não se coíbem de dizer" que se deslocaram para Angola "para ganhar dinheiro na exploração ilegal de diamantes". Com o encerramento das cooperativas e casas ilegais de venda e compra de pedras preciosas, "os imigrantes decidiram voluntariamente sair do país", diz o responsável.
Foto: Reuters/G. Paravicini
ACNUR não confirma mortes
Apesar das denúncias de mortes e maus-tratos perpetrados por agentes da Polícia Nacional de Angola, no âmbito da "Operação Transparência", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não confirma essas informações "por falta de dados". Philippa Candler, representante do ACNUR em Angola, diz que os imigrantes estão a sair de Angola pelo próprio pé, mas sob pressão do Governo.
Foto: Omotola Akindipe
Cerca de 35 mil refugiados legais em Angola
Dados do ACNUR indicam que há 35 mil refugiados legais em Angola. Estão, sobretudo, na Lunda Norte, inseridos num assentamento em Lóvua ou distribuídos pelas povoações. No entanto, a ONU denunciou a expulsão de 50 migrantes com estatuto de refugiados. O ACNUR está a verificar a informação. A escalada do conflito tribal no Kasai levou milhares de congoleses a procurar refúgio fora de portas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
A pé ou à boleia de motorizadas e bicicletas
Os migrantes congoleses que estão em viagem de regresso ao país de origem escolheram vários meios para fazê-lo. Alguns aceitaram a ajuda do Governo angolano que disponibilizou camiões para transportar os congoleses até à fonteira. Outros preferem fazê-lo pelo próprio pé ou socorrendo-se de bicicletas e motorizadas. Consigo carregam os seus pertences.
Foto: Reuters/G. Paravicini
De regresso às antigas rotinas
Ainda em viagem, mulheres e crianças lavam roupas nas margens do rio junto à localidade de Kamako, na província de Kasai. O objetivo é regressarem às suas povoações outrora ameaçadas ou reiniciarem uma nova vida longe da sua última morada na RDC. No entanto, a situação nesta província congolesa é instável. A falta de infraestruturas está também a preocupar as Nações Unidas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Nova crise humanitária iminente
A ONU expressou preocupação sobre a saída forçada de Angola nas últimas semanas de centenas de milhares de cidadãos. Para as Nações Unidas, as "expulsões em massa" são "contrárias às obrigações" da Carta Africana e, por isso, exortou os Governos em Luanda e em Kinshasa a trabalharem juntos para garantirem um "movimento populacional" seguro e evitarem uma nova crise humanitária.