Só falta resolver questões técnicas para a Ecclésia começar a transmitir para todo o país. Quanto a ajudar a estancar a proliferação de seitas, como gostaria o Presidente angolano, a emissora diz que não é seu objetivo.
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Depois de muitos anos de proibições, a Rádio Ecclésia em Angola vai finalmente poder expandir o seu sinal para todo o país. O Presidente João Lourenço recentemente deu luz verde para tal, embora lembre que a rádio da Igreja Católica tenha sido impedida de chegar a mais gente por certas "razões". O Presidente espera ainda da Emissora Católica de Angola determinadas posturas que não vão exatamente na linha de atuação da estação. Conversamos com o padre Augusto Epalanga da Rádio Ecclésia.
DW África: Em termos práticos o que falta para a expansão do sinal?
Augusto Epalanga (AE): Neste momento estamos na fase da reavaliação técnica, porque certamente sabiam que tínhamos um projeto de expansão já faz tempo. No âmbito deste projeto tínhamos instalado emissores e alguns estúdios em dezassete das dioceses de Angola.
Agora estamos a reavaliar as condições técnicas de conservação, para ver como ficaram conservados esses aparelhos e até já sabemos que alguns materiais estão danificados por causa do tempo. E para além disso estamos a negociar com o Ministério da Comunicação Social a questão das frequências para as dioceses e vamos retomar o projeto de forma gradual.
DW África: João Lourenço disse também que havia motivos que impediam a expansão, embora não tenha mencionado os motivos. Quais são?
AE: Neste momento não sei se serei a pessoa mais indicada para falar desses motivos. Mas digamos que são aqueles relacionados com a situação política que estávamos a viver. Tudo se resumia a falta de vontade política.
DW África: E já estão ultrapassadas essas diferenças?
AE: Acredito que sim, estamos a viver uma nova fase. Tudo dá a entender que as coisas estão superadas, as burocracias estão superadas. Agora o que falta são os aprimoramentos técnicos, como eu disse.
DW África: O Presidente de Angola tem esperança que a expansão do sinal da Rádio Ecclésia ajude a estancar a proliferação de seitas que surgiram nos últimos anos em Angola. Esse é um dos vossos objetivos também?
Angola: Rádio Ecclésia prepara-se para expandir sinal
AE: Objetivos não diríamos tanto, porque a Ecclésia foi fundada com o objetivos de subsidiar o trabalho da envagelização e promover a justiça e a paz. Agora, neste prisma, se esta dimensão cabe nessa lógica, quando o Evangelho é um instrumento que temos para purificar os valores ou contra-valores, talvez seja nesse âmbito. Mas de contrário não, não é esse o objetivo primordial da Rádio Ecclésia. Tem de se ver isso na lógica da própria evangelização.
DW África: E sob o ponto de vista da liberdade de expressão e de imprensa qual é o ganho mais visível para a Rádio Ecclésia neste momento?
AE: A Rádio Ecclésia sempre pautou por andar sempre de acordo com a sua linha editorial. E na sua lógica sempre abordou assuntos que, de qualquer maneira, provocaram de quando em vez confrontos, se é que me posso expressar assim, aquilo que vai contra a própria liberdade de expressão e de imprensa. Agora o ganho é maior porque nessa altura tudo fica mais claro e os ganhos são maiores nesse sentido.
Cinemas únicos em Angola
São obras únicas vistas pela lente do fotógrafo angolano Walter Fernandes - cinemas e cine-esplanadas desconhecidos de muitos. As fotos foram reunidas em livro e estão em exposição em Lisboa, a partir desta semana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
"Uma ficção da liberdade"
O Cine Estúdio do Namibe inspira-se nas obras do arquiteto Oscar Niemeyer. É um dos edifícios únicos de Angola destacados no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" e fotografados por Walter Fernandes. Esta é uma das imagens em exposição no Goethe-Institut de Lisboa que revelam uma arquitetura desconhecida por muitos de cinemas construídos antes do fim do domínio colonial português.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Património mal preservado
O Cine Tômbwa, também no Namibe, obedece a uma lógica de salas fechadas, mas já apresentava algumas linhas mais modernas. Segundo o fotógrafo Walter Fernandes, o edifício foi construído com materiais "sui generis". Mas o património herdado está muito mal preservado, lamenta o angolano.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Moçâmedes: A pérola do Namibe
No Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes) nota-se bastante a influência da arquitetura do regime ditatorial português, o Estado Novo. Este é considerado um dos cinemas angolanos mais antigos e também aparece no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", apadrinhado pelo Goethe-Institut em Luanda e pela editora alemã Steidl.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Conceito futurista
O arquiteto Botelho Pereira não só desenhou o Cine Estúdio do Namibe, como também o Cine Impala. Botelho Pereira inspirou-se no movimento deste antílope e planeou espaços abertos e arejados, de forma futurista. O livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" também destaca estas cine-esplanadas, que ganharam popularidade a partir de 1960 por se adaptarem mais ao clima tropical do país.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Cinema-esplanada para as elites
Este é um dos cinemas preferidos de Miguel Hurst, um dos editores do livro "Angola Cinemas". Foi aqui, no Cine Kalunga, em Benguela, que se pensou em fazer a obra. Cine-esplanadas como esta adequavam-se mais ao clima, mas serviam também um propósito do regime português - criar locais de convívio entre as populações locais e os colonos. A elite branca e a pequena burguesia negra vinham aqui.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
A "grande sala"
A "grande sala" de Benguela era o Monumental - pelo menos, ganhou essa reputação. Os colonizadores portugueses construíram o Cine-Teatro nesta cidade costeira pois evitavam o interior do país - normalmente, as companhias portuguesas só atuavam nas grandes cidades da costa angolana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Imperium: "Art decó" em Benguela
Aqui, são imediatamente visíveis traços da passagem da "art decó" (um estilo artístico de caráter decorativo que se popularizou na Europa nos anos 20) para o modernismo. O interior do Cine Imperium, fotografado por Walter Fernandes, representa bem essa mistura estética, com os cubos, retas, círculos e janelas. Benguela tinha várias salas, porque era das províncias mais populosas de Angola.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
O arquiteto que pensava as cidades
Este é o interior do Cine Flamingo: mais uma pérola da província de Benguela. A parte de trás é uma esplanada. Sentado, o espetador está em contacto com a natureza, mas não está exposto. Até hoje, a estrutura mantém-se, mas o espaço está um pouco vandalizado. Miguel Hurst sublinha a importância de manter obras como esta do arquiteto Francisco Castro Rodrigues, um homem que pensava cidades.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Primeiro cine-teatro de Angola
"O Nacional" Cine-Teatro foi a primeira sala construída em Luanda, no início do Estado Novo, nos anos 40. Esta é uma das imagens patentes na exposição no Goethe-Institut em Lisboa. A mostra pretende ser "um testemunho do modo como estes edifícios constituíam um enquadramento elegante que sublinhava uma simples ida ao cinema, promovendo assim a reflexão sobre esta herança sociocultural e afetiva."
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Memória para gerações futuras
Os irmãos Castilho são os principais responsáveis pela introdução das cine-esplanadas em Angola. A primeira da sua autoria foi o Miramar, encostado a uma ribanceira virada para o mar em Luanda. Depois surgiu o Atlântico, na foto. Para os autores do livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", este é um documento de memória que pode ser útil para as futuras gerações.