O ativista angolano Rafael Marques lançou nesta quarta-feira (22.01) em Luanda o UFOLO - Centro de Estudos para a Boa Governação. A nova ONG foi apresentada durante o colóquio "Juventude em Ação”.
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O debate público contou com a intervenção e o apoio de diversas personalidades, como os rappers e ativistas MCK e Luaty Beirão.
O UFOLO - Centro de Estudos para a Boa Governação - pretende dedicar-se a "atividades que contribuem para fazer da sociedade civil um agente ativo, com intervenção real nas ações do poder político e com influência efetiva sobre as políticas e as atitudes que determinam o futuro do país."
É assim que se apresenta a mais nova organização não governamental (ONG) angolana. Rafael Marques de Morais, presidente do UFOLO, entende que há necessidade de criação, pelo Governo angolano, de um fundo nacional de apoio à sociedade civil e destacou a importância do papel da mesma.
"Porque é essencial. Sem uma sociedade civil forte, não teremos partidos políticos fortes, não teremos partidos políticos mais dedicados ao serviço público. Porque são muitos anos de guerra, muitos anos de ditadura e temos de reconstruir o tecido da sociedade civil, que é o tecido da sociedade angolana", argumentou.
Colóquio "Juventude em Ação"
Para o lançamento do UFOLO, esta quarta-feira (22.02), em Luanda a organização realizou o colóquio "Juventude em Ação”, que abordou temas como o poder da juventude, criminalidade, desemprego e políticas económicas.
O debate público contou com a intervenção de diversas personalidades, como o rapper MCK que, à agência Lusa, elogiou a iniciativa e pontuou sua importância.
"[Num passado muito recente,] as relações com José Eduardo dos Santos [ex-Presidente de Angola] eram muito de repressão, de confrontação ou de submissão, então o novo cenário nos permite criar fóruns como esse, onde se pode potenciar os jovens e acima de tudo a sociedade civil, para aqueles que são os temas e assuntos mais relevantes que dizem respeiro a todos.
"Luanda Leaks" também foi assunto
O ativista e ‘rapper‘ Luaty Beirão, tantas vezes perseguido e intimidado durantes os anos do regime do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, também foi um dos destaques e não se furtou a comentar as revelações da investigação „Luanda Leaks” que apontam o envolvimento de Isabel dos Santos em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro.
"Ela insiste sempre no mesmo: é uma perseguição política, é uma caça às bruxas e não vai ser um julgamento justo. Não posso dizer que vai ser um julgamento justo porque também não confio no sistema de justiça. Quero acreditar, quero que cheguemos lá, mas estaria a ser falso se dissesse que o sistema de justiça já é plenamente confiável. Não é, não será para agora, vai levar o seu tempo, infelizmente é assim. Agora, cometeu tem que cumprir. Se não cometeu, venha se defender."
Governantes não estão habituados a transparência
Para Luaty Beirão, a luta contra a corrupção só pode ser minimamente bem sucedida se for acompanhada de abertura e transparência. A cobrança ficaria a cargo da sociedade civil.
"Infelizmente estas pessoas que governaram e continuam a governar o país até agora não estão habituadas a ser transparentes. Então, é um exercício também para eles. Nós, como sociedade, temos de persistir e insistir para que essa transparência passe a existir. Ainda não há e, quando não há transparência, há dúvida", referiu.
Também marcaram presença no lançamento do UFOLO - Centro de Estudos para a Boa Governação a 'rapper' Eva Rap Diva, o economista Yuri Quixina, o jurista Rui Verde, a socióloga Tânia de Carvalho, entre outros.
"Heróis de hoje": Os mais votados pelos leitores da DW África em 2016
A DW África pediu aos ouvintes sugestões para "heróis de hoje". Chegaram milhares de respostas. Saiba quem foram as pessoas que receberam mais votos na edição de 2016 do concurso.
Foto: DW/Nelson Sul D´Angola
14° Isaías Samakuva
Milhares de leitores da DW África responderam à pergunta "Quem é o seu herói de hoje?". O político angolano e presidente do partido da oposição União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) ficou na 14ª posição na edição de 2016 de "heróis de hoje". Antonio Ngola Toy de Luanda justificou o seu voto em Samakuva afirmando que ele "luta para a igualdade social de todos angolanos."
Foto: DW/N. Sul D'Angola
13° Afonso Dhlakama
O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição em Moçambique, é o 13° "herói de hoje" mais votado pelos leitores da DW África. "Tem mais de 60 de anos, mas continua de forma incansável a defender um Estado de direito e democrático", escreveu Simões António José. "Já sofreu várias emboscadas mas, mesmo assim, continua firme na sua luta."
Foto: António Cascais
12° David Mendes
O advogado angolano David Mendes, conhecido por defender ativistas e outras pessoas críticas ao regime do MPLA, ficou na 12ª posição dos "heróis de hoje" de 2016. "Meu herói de hoje: David Mendes - defensor de causas justas, contra um sistema judicial altamente ditador e viciado", justificou o leitor Osvaldo Capenda no Facebook da DW África.
Foto: DW/P.B. Ndomba
11° Brigadeiro Dez Pacotes
O músico angolano reuniu muitos votos dos leitores da DW África, mas não conseguiu repetir o seu resultado da edição de 2015, altura em que ficou no 4° lugar. "Um angolano que tem vindo a lutar para o povo angolano com coragem e é de grande inspiração para muitos especialmente para mim" escreveu o leitor Petilson Da Dpzx quando votou no rapper.
Foto: Screenshot Youtube
10° Lurdes Mutola
A atleta moçambicana Maria de Lurdes Mutola, que venceu a prova dos 800 metros nos Jogos Olímipicos de 2000, ocupa a 10ª posição e é a única mulher dentro dos "heróis de hoje" mais votados em 2016. No Facebook da DW África, Mbalamanje Uzende Chanunkha escreveu: "Pela sua determinação e coragem, Lurdes Mutola tornou-se um exemplo de uma batalhadora persistente e incansável até à vitória final."
Foto: Bongarts/Getty Images
9° Joaquim Chissano
O ex-Presidente de Moçambique está na 9ª posição posição. A liderança de Chissano, que governou entre 1986 e 2005 pela FRELIMO, é elogiada pelo leitor José Feliciano Machambe: "Lutou para a paz e prosperidade económica de Moçambique, foi ele também quem assinou os acordos de paz em Roma. Por mais que não seja mais o Presidente de Moçambique, continuará com o título de um herói."
Foto: Johannes Beck
8° Marcos Mavungo
O ativista de Cabinda foi condenado a seis anos e meio de prisão pelo crime de rebelião contra a segurança do Estado. Foi libertado em maio de 2016 (na foto: o seu reencontro com a família). "Por defender a sua pátria foi detido e condenado. Mas como a verdade sempre vence, foi libertado, ganhando assim aos inimigos da verdadeira paz em Angola", explicou o leitor Lukamba Gemio Malheiro Vanilson.
Foto: Privat
7° Azagaia
O rapper moçambicano, terceiro classificado da edição de 2015 dos "heróis de hoje", ocupa o 7° lugar na edição de 2016. "Pela sua coragem e dedicação em cantar músicas de intervenção social, odeiado e perseguido pelo Governo do seu país por expressar a verdade clara em forma de música", justifica o utilizador "Cogito Ergum Sum", que votou em Azagaia.
Foto: Divulgação Azagaia
6° Nito Alves
O jovem ativista angolano faz parte do grupo dos "15+2" e esteve detido durante mais de um ano pela sua oposição ao Governo de Angola. "O meu herói de hoje chama-se Manuel Nito Alves pela sua bravura, determinação e por ser um rapaz de convicções fortes. Considero-o o jovem angolano mais corajoso que eu conheci em toda minha vida" escreveu o leitor Manuel Monteiro no Facebook da DW África.
Foto: DW/Nelson Sul D´Angola
5° MCK
O rapper angolano MCK foi o quinto mais votado pelos leitores da DW África no concurso deste ano. "O meu herói de hoje chama-se MCK pela sua determinação e coragem de falar dos erros que os nossos governantes cometem", justificou o ouvinte Aguinaldo Jacinto Preto Caro. Em novembro, a realização de um espetáculo de MCK e Luaty Beirão foi impedida pelas autoridades em Luanda.
Foto: MCK
4° Rafael Marques
O jornalista e ativista de direitos humanos angolano está na 4ª posição. Na edição de 2015, foi o vencedor dos "heróis de hoje". No seu portal Maka Angola, Rafael Marques denuncia casos de corrupção e de abuso de poder. "Por denunciar as barbaridades do Governo angolano mesmo com os riscos que corre face a um regime ditatorial", escreveu José Sagradu quando votou no jornalista.
Foto: DW/J. Beck
3° Luaty Beirão
O músico, também conhecido como Ikonoklasta ou Brigadeiro Mata Frakuzx, faz parte dos 17 ativistas angolanos detidos no ano passado e libertados em junho de 2016 (foto). "Por arriscar a sua vida contra o ditador José Eduardo dos Santos", diz o leitor João Muginga Liberdade sobre o seu voto no rapper. "Fez greve de fome durante 36 dias, mostrando, assim, 36 anos de poder, 36 anos de sofrimento."
Foto: DW/P. Borralho
2° José Eduardo dos Santos
O Presidente de Angola foi o segundo mais votado pelos leitores da DW África. A leitora Vicente Ingrácia Amado votou em Eduardo dos Santos porque é "o arquiteto da paz e com ele aprendemos a ultrapassar as dificuldades da vida". Alguns leitores, como Cláudio Carisma, deram uma explicação irónica: "O único homem no mundo que conseguiu fazer subir tudo em Angola menos o salário dos angolanos."
Foto: Reuters/S. Sibeko
1° Domingos da Cruz
O ativista, jornalista e académico angolano venceu a votação "heróis de hoje" de 2016. Também faz parte do grupo de 17 ativistas detidos durante mais de um ano. Jacinto Ernesto, leitor da DW África, votou em Domingos da Cruz "pela coragem que teve de compilar o livro do autor Gene Sharp 'proibido' pelos ditadores e pela luta que vem travando pelos direitos humanos, que ele defende há anos."