Angola: Recenseamento termina com queixas
18 de outubro de 2024O recenseamento geral da população e da habitação, iniciado há um mês, termina este sábado (19.10). Este é o segundo censo realizado nos 49 anos de independência do país, havendo já quem considere que foi pior do que o realizado em 2014.
Cidadãos e analistas dão conta que o processo fica marcado pelo atraso no pagamento aos agentes censitários, a chegada tardia dos brigadistas às comunidades, a inoperância dos meios tecnológicos e até alegadas irregularidades na recolha dos dados porta a porta.
Populares ouvidos pela DW África dizem não ter visto qualquer agente comunitário na rua, nem a visitar as casas. Consideram que a operação fracassou desde o início. "Até aqui não vejo os recenseadores para fazer a contagem", lamentou um cidadão angolano.
Mais de 79 mil agentes de campo foram destacados para recolher porta a porta os dados da população em todo o território nacional.
As autoridades reconhecem dificuldades no processo, sobretudo, na fase inicial.
O responsável provincial do censo na província do Bengo, João Paulo, garantiu, entretanto, que o impasse com os meios tecnológicos está ultrapassado e que os pagamentos aos brigadistas estão acautelados. "Nós já pagámos a primeira tranche, os quinze dias e também já procedemos ao pagamento da segunda tranche", revela.
"Em termos de merenda está tudo acautelado."
Denúncias contra agentes censitários
O professor Admar Jinguma diz, em declarações à DW África, que o processo poderia ter sido mais bem organizado. Jinguma dá conta que há denúncias de agentes censitários que colocaram o selo na porta de residências em que não foram recolhidos os dados dos proprietários.
"Ele chega e finge que fez algumas perguntas, põe o selo e vai embora", dá conta o analista. "O censo não está a correr como devia e as nossas autoridades teriam de assumir que as coisas não estão a correr como previsto."
O responsável do censo na província do Bengo, João Paulo, esclarece a propósito que, de acordo com a "orientação metodológica", só se coloca a etiqueta depois do agente ter contacto com o dono da casa durante o ato de recenseamento.
Face a estas situações, e antevendo a descredibilização dos resultados, o professor Simão Fernandes considera que o prazo de recolha da informação deve ser prorrogado.
"Há muitas questões sensíveis que depois vão fazer com que as pessoas não tenham credibilidade nestes dados", afirma. "Então, que se dê mais um tempo para se organizar melhor" o recenseamento.
O Recenseamento Geral da População e Habitação de Angola arrancou no dia 19 de setembro e decorreu durante um mês. O ministro de Estado para Casa Militar do Presidente da República e coordenador geral do processo, Francisco Furtado, afastou a possibilidade de prorrogar o prazo da operação.