Após acusações da empresária, PGR de Angola afirma que há vários processos de natureza cível e criminal contra Isabel dos Santos, no âmbito do "Luanda Leaks". No total, o Estado reclama mais de 5 mil milhões de dólares.
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O comunicado comunicado da Procuradoria-Geral da República de Angola (PGR) foi divulgado esta terça-feira (12.05), depois de a empresária alegar que a decisão de arrestar os seus bens teve como suporte um passaporte falsificado e que os Estados angolano e português arrestaram contas e bens num valor excessivo, superior a dois mil milhões de euros de ativos e empresas.
A PGR sustenta que o arresto de bens de Isabel dos Santos em Angola foi decretado no âmbito de uma providência cautelar, em processo cível, que corre atualmente no país.
Nesse processo cível "consta uma informação da Embaixada de Angola no Japão, dando nota de que a referida cópia de passaporte estava sob investigação junto ao Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), precisamente para aferir a sua autenticidade".
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Isabel dos Santos acusa a Procuradoria angolana de fazer uma "utilização fraudulenta do sistema de justiça de Angola", para se apoderar do seu património empresarial, e apela à justiça portuguesa, que decidiu cooperar com Angola e executou vários arrestos em Portugal, para que, "à luz desta denúncia e de outras que se seguirão, reavaliar estas execuções 'às cegas'".
Passaporte falso
Segundo a empresária, o Estado angolano terá usado como prova para fazer o arresto preventivo de bens "um passaporte grosseiramente falsificado", com assinatura do mestre do kung-fu e ator de cinema já falecido Bruce Lee, uma fotografia tirada da internet, data de nascimento incorreta e uso de palavras em inglês, entre outros sinais de falsificação.
O passaporte em causa terá sido usado como prova em tribunal pela Procuradoria-Geral da República de Angola para demonstrar que Isabel dos Santos pretendia ilegalmente exportar capitais para o Japão, alega a filha do antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos.
A PGR refere no comunicado que o "periculum in mora" (perigo de lesão do Direito pela demora da decisão) provado no processo não teve como base qualquer documento de identificação, mas, sim, os documentos que atestavam o receio de dissipação do património.
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Segundo a PGR, o pedido de arresto dos bens em Portugal, à luz da cooperação judiciária internacional, baseou-se numa decisão da Câmara Criminal do Tribunal Supremo de Angola, no âmbito de um processo no qual não se fez junção de qualquer cópia de passaporte.
"Luanda Leaks"
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou em 19 de janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham alegados esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais.
A empresária é arguida num processo-crime que está a correr em Angola por alegada má gestão e desvio de fundos durante a passagem pela petrolífera estatal Sonangol.
Além do arresto de contas bancárias e participações sociais em Angola, foram também arrestadas participações relativas a várias empresas em Portugal.
O que não é de Isabel dos Santos em Luanda?
Em Luanda, facilmente se percebe os investimentos de Isabel dos Santos. A filha do ex-Presidente angolano tem negócios na banca e nas telecomunicações. Também tem presença no comércio e nos setores petrolífero e mineiro.
Foto: DW/P. Borralho
Os negócios de Isabel dos Santos
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos é proprietária de muitas empresas que operam em Angola. E já há quem acredite que assumir o cargo da Presidência da República pode ser o próximo passo da empresária, que atualmente está na presidência da petrolífera Sonangol.
Foto: picture-alliance/dpa
Telecomunicações
No ramo das telecomunicações, a filha do ex-Presidente angolano e empresária Isabel dos Santos possui a UNITEL. Lançada em março de 2001, a empresa tem como principal atividade a prestação de serviços móveis de voz e de Internet. A UNITEL funciona com um total de 182 lojas próprias em todo o país, 81 das quais na capital, Luanda. A empresa tem mais de 5 milhões de clientes.
Foto: DW/P. Borralho
TV por satélite
Ainda no ramo das telecomunicações, a ZAP iniciou a sua atividade no mercado angolano em abril de 2010 e é atualmente a maior operadora de TV por satélite em Angola, segundo informações da própria empresa. Desde 2011, a ZAP também está presente no mercado moçambicano. A TV por satélite de Isabel dos Santos acabou com o monopólio que a empresa sul-africana Multichoice teve em Angola.
Foto: DW/P. Borralho
Banca
Há dez anos em operação, o Banco BIC tem mais de 200 unidades comerciais para atendimento, compostas por 195 agências e 17 centros de empresas em Angola. O banco serve de apoio para empresários que mantêm investimentos em Portugal, onde Isabel dos Santos também possui uma fatia do Banco português.
Foto: DW/P. Borralho
Sonangol
Em junho de 2016, Isabel dos Santos assumiu a presidência da maior empresa estatal de Angola, a petrolífera Sonangol. Na altura, a tomada de posse da filha do então Presidente de Angola foi criticada por juristas, que afirmam que a nomeação da empresária é ilegal e inconstitucional. A petrolífera mantém uma rede de postos de abastecimento e estações de serviços em todo o país.
Foto: DW/P. Borralho
Centro comercial
Embora Angola esteja mergulhada numa crise económica devido à queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional, Isabel dos Santos iniciou este ano mais um novo empreendimento em Luanda. Trata-se do Shopping Avennida, inaugurado no primeiro semestre. O centro comercial abriga dezenas de empreendimentos, muitos deles da própria empresária, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL.
Foto: DW/P. Borralho
Hipermercado
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos também investiu no segmento de hipermercados através da rede Candando, situado no recém inaugurado Shopping Avennida. Segundo a Contidis, empresa que administra o hipermercado, a previsão é que mais dez lojas sejam inauguradas nos próximos cinco anos, num investimento total de 400 milhões de dólares.