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EducaçãoAngola

Angola: Regresso às aulas preocupa no Bengo

4 de outubro de 2020

Os alunos angolanos regressam às aulas esta segunda-feira no contexto da pandemia de Covid-19. Mas, no Bengo, há quem clame por melhores condições nas escolas. Entretanto, o Governo diz faltar dinheiro para melhorias.

Na escola Magistério Kimamuenho, as carteiras foram numeradas para organizar a sala de aulaFoto: António Ambrósio/DW

Seis meses depois da paralisação das aulas devido à Covid-19, esta segunda-feira (05.10) a atividade letiva regressa de forma faseada em todo país. Os primeiros são os alunos da 6.ª, 9.ª, 12.ª e 13.ª classes, bem como os universitários.

Pedro Germano é professor e defende o regresso às aulas o mais rápido possível. No entanto, em entrevista à DW África, lamentou a falta de condições nas instituições escolares na província do Bengo.

"Muito particularmente, sou a favor do retorno às aulas, porém, se houver realmente condições nas escolas, que no meu prisma e pelo périplo que tenho feito, sobretudo, na vila de Caxito, onde resido e trabalho, a maior parte não está preparada para o retorno às aulas já na segunda-feira", afirmou.

E Pedro Germano acrescentou: "Eu, particularmente, se tivesse um filho na escola pública, não permitiria que fosse à escola já na segunda-feira".

"Condições não estão criadas"

Manuel Gaspar, encarregado de educação, tem três filhos que frequentam a 2ª, 5ª e 7ª classes, respetivamente, e disse à DW que fez uma ronda pela escola em que frequentam os seus educandos, mas não gostou do que viu.

"Até à data presente, estive a ver a escola onde os meus bebés estudam e não constatei nada no contexto de biossegurança. Então, essas pequenas condições ainda não estão criadas", alertou Gaspar.

Autoridades durante visita a uma escola para verificar as condições de biossegurança no localFoto: António Ambrósio/DW

O Sindicato Nacional de Professores na província do Bengo levou a cabo uma série de visitas em diferentes escolas, nos últimos dias. As escolas do Ensino Primário e Primeiro Ciclo são a maior preocupação do sindicato.

O secretário provincial do sindicado, Cesar António, mostra-se cético e vai mais longe: "Se na verdade nós temos Covid-19, com os números que temos, é bem provável que se nós arrancarmos com as aulas no dia 5, poderemos ter uma semana ou duas apenas, e as aulas voltarão a ser suspensas".

"Escola em condições"

Entre várias escolas visitadas pela DW África, destaca-se o Magistério Kimamuenho, onde foram colocados cinco pontos de lavagem das mãos. Feitas as contas, cada torneira deverá ser utilizada por cerca de 110 alunos, em cada período.

O diretor daquela instituição, António Elias Correia, assegura que estão criadas as condições de biossegurança na sua escola. "Temos logo na entrada cinco pontos de lavagem das mãos, temos água corrente no pátio com três pontos e nas casas de banho jorra água, pelo que não temos grandes problemas para o reinício das aulas, no dia 5 de outubro".

No entanto, os pais e encarregados de educação devem comparticipar neste processo, com a compra de máscaras e, se for possível, o frasco de álcool gel para que o seu educando venha seguro.

Entretanto, o sociólogo Yuri Perivaldo pede o envolvimento de toda a sociedade no sentido de consciencializar as crianças sobre os riscos do não cumprimento das medidas de prevenção à Covid-19.

Pontos de lavagem das mãos na escola Magistério KimamuenhoFoto: António Ambrósio/DW

"As nossas crianças, psicologicamente, não estão preparadas para terem todos cuidados de isolamento social, para não terem contato, abraços e troca de máscaras com os outros. Acreditamos que com ajuda das famílias e dos professores passaremos melhor a consciencialização de como [as crianças] se devem comportar na escola".

Governo não tem dinheiro para mais melhorias

No entanto, o diretor do Gabinete Provincial da Educação do Bengo, Manuel Fernando, reconhece a insuficiência na criação de condições nas escolas locais. "O entendimento que as pessoas têm é que se deve criar as condições na plenitude, mas isso é sobejamente conhecido e quase impossível a olhar para o contexto financeiro que o mundo atravessa, o que deve acontecer é a sustentabilidade da criação de condições", admitiu.

Manuel Fernando vai mais longe, dizendo que "o Estado tem de se posicionar em relação a um eventual alargamento de casos". "Se um dos fatores for o retorno as aulas, vamos tomar atitudes, a exemplo do aconteceu na África do Sul. É preciso haver coragem e compreender que temos que conviver com a pandemia. O país não pode parar", concluiu.

No dia 19 de outubro, regressam às aulas as demais classes não abrangidas no arranque desta segunda-feira. Mas só a 26 de outubro as turmas do ensino primário e pré-escolar retomam as atividades em Angola.

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