Angola: Repatriamento de congoleses para a próxima semana
Lusa | tms
3 de outubro de 2019
O Governo angolano, a partir da próxima semana, inicia um novo processo de repatriamento voluntário dos restantes 10 mil refugiados da República Democrática do Congo, no centro de acolhimento do Lóvua.
Publicidade
"Dos mais de 36 mil refugiados que entraram, em março de 2017, até ao mês passado contabilizavam-se no banco de dados cerca de 24 mil. Desse número mais de 14 mil já regressaram de forma espontânea, com todo o apoio do Governo angolano e a partir da próxima semana iniciaremos mais um processo de repatriamento voluntário", disse esta quinta-feira (03.10) Alfredo Leite, consultor do gabinete do secretário de Estado angolano para a Ação Social.
O processo de repatriamento voluntário organizado dos refugiados da RDC, que se encontram desde 2017 no centro de acolhimento do Lóvua, na província angolana da Lunda Norte, decorre de um acordo tripartido assinado entre os governos de Angola e da RDCongo, juntamente com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR).
Regresso espontâneo
Em agosto passado, mais de 16.000 refugiados da província congolesa de Cassai manifestaram desejo de regressar ao seu país e milhares já regressaram "espontaneamente" ao seu país.
O responsável falava esta quinta-feira, em Luanda, durante a segunda conferência sobre a "Política Migratória e de Refugiados em Angola", realizada pela Rede de Proteção ao Migrante e Refugiado em Angola.
Apresentando as medidas socioeconómicas para refugiados e migrantes em Angola, referiu que um dos desafios das autoridades é "destrinçar o refugiado do imigrante", porque, sublinhou, "muitos que hoje ostentam o estatuto de refugiado se calhar são imigrantes". Também lembrou que Angola tem vários dispositivos legais para proteção e salvaguarda dos direitos dos refugiados e migrantes no país.
Angola: Congoleses denunciam horrores vividos
A província da Lunda Norte, em Angola, está a acolher diariamente centenas de congoleses que continuam a fugir à violência na região do Kasai, na República Democrática do Congo.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Mais de um milhão de deslocados
Estima-se que, pelo menos, 3.300 pessoas tenham já morrido na sequência do conflito que, desde agosto de 2016, se tem desenrolado nas região do Kasai e Kasai Central, na República Democrática do Congo, (RDC). 1,3 milhões de congoleses foram obrigados a fugir da região devido à violência da milícia Kamuina Nsapu.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Millhares no Campo de Kakanda
Germaine Alomba tem 29 anos e é uma das congolesas que conseguiu atravessar a fronteira rumo a Angola, estando abrigada, atualmente, no centro provisório de Kakanda. Como ela, cerca de 30 mil congoleses estão refugiados em Angola. A este campo chegam, todos os dias, cerca de 500 pessoas, muitas delas transportadas em camiões e autocarros cedidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Acusações a Kabila
Segundo as autoridades católicas no Congo, já foram encontradas mais de 40 valas comuns na região do Kasai. Congoleses em Angola ouvidos pela DW África, revelam que a violência contínua tem sido alimentada pelo Governo de Kabila. "[Ele] está a organizar uma guerra, está a entregar armas aos civis para matar a população. O sofrimento neste momento é muito", denuncia Jimba Kuna, um dos refugiados.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Familiares desaparecidos
Odia Rose é outra das vítimas deste conflito. A sua filha adolescente, de 15 anos, desapareceu quando ambas tentavam fugir à violência no seu país. Hoje, conta à DW, "reza todos os dias para a reencontrar com vida".
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Repetem-se as atrocidades
Mbumba-Ntumba é o espelho das atrocidades que sucedem na região do Kasai. "Estava em minha casa e um grupo de pessoas entrou e começou a bater-me. Cortaram o meu braço com uma catana e bateram-me na cabeça", contou em entrevista à DW África o congolês de 65 anos. Ntumba foi resgatado inconsciente por voluntários da Cruz Vermelha que o levaram até à fronteira com Angola.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Violência sem fim
As atrocidades não ficam por aqui. Recentemente, o Conselho de Direitos Humanos da ONU voltou a enviar peritos para a região para investigar as denúncias de abusos, incluindo decapitações. Há relatos de refugiados que contam que foram forçados a enterrar vítimas em valas comuns e que afirmam que as milícias terão atacado e mutilado bebés e crianças.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Crianças sozinhas
Dados da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) indicam que mais da metade dos deslocados são menores e que, em muitas ocasiões, foram separados dos seus pais e familiares - como é o caso das quatro crianças na fotografia, atualmente refugiadas no Campo em Kakanda, Angola.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Aulas de Língua Portuguesa
Tanto no Campo de Mussunga, onde se encontram alguns refugiados, como em Kakanda, onde está a maioria, foram criadas escolas improvisadas onde é ensinada às crianças a língua portuguesa.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Necessária mais ajuda
Em Angola, os centros de acolhimento improvisados estão já sobrelotados. Em entrevista à DW África, o bispo da diocese da Lunda Norte, Estanislau Chindecasse, explicou que é necessária “mais ajuda para que as pessoas possam ter, pelo menos, duas ou três refeições. O que estamos a fazer é o mínimo, porque não há outras possibilidades”, deu conta.