Angola retira apoio à Laurent Gbagbo e critica ocidente por ataque à Líbia
23 de março de 2011O executivo angolano esteve reunido para abordar a situação na Costa do Marfim e a conclusão a que chegou é a de que o apoio institucional de Angola ao ainda Presidente Laurent Gbagbo precisa de ser reavaliada.
Fontes do governo, citadas pelo Jornal "O País" em Luanda, revelam que a retirada do pessoal diplomático angolano daquele país para a República do Ghana não foi de todo inocente, pois enquadrou-se numa estratégia para evitar uma eventual retaliação do executivo de Ouattara.
A retirada dos diplomatas, pessoal de auxílio militar e cidadãos nacionais, nas últimas semanas, pode abrir caminho para a tomada de posse de Ouattara. A reacção de Angola foi dada a conhecer depois da reunião da comissão mandatada pela União Africana (UA) para resolver o impasse na Costa do Marfim, onde se vive uma situação de "um voto, dois presidentes".
Recuo Estratégico
O ministro das Relações Exteriores, George Chicoty, disse que Angola respeita a conclusão da UA: "Nós recomendamos que as partes (Gbagbo e Ouattara) na Costa do Marfim adiram a esta posição, e Angola respeita esta posição", disse.
Num pronunciamento recente, a União Africana constatou que, efectivamente, Alassane Outtara venceu as eleições presidenciais, tal como certificado pela missão de observação internacional.
O antigo primeiro-ministro de Angola, Marcolino Moco, considera o recuo da posição de Luanda satisfatório, mas critica o poder actual em Angola por se alinhar com alguém derrotado em eleições: "Quando se fala que Angola apoiava alguém que perdeu as eleições - não era Angola no seu todo, eram elementos que estão hoje no poder"
O apoio de Angola a Laurent Gbago passava pelo lado militar, com conselheiros e armamento e apoio financeiro ao governo daquele país africano.
Intervenção militar na Líbia desagrada Luanda
Numa conferência de imprensa, o ministro das Relações Exteriores falou ainda sobre a situação na Líbia. George Chicoty garante que Luanda está contra a intervenção militar dos EUA, França e Grã-Bretanha contra as hostes de Muammar Kadhafi, numa clara ingerência, segundo Angola, na situação interna de um país com problemas internos. George Chicoty está contra o uso de armas: "Certamente ainda seria melhor que o problema da Líbia fosse resolvido por meios pacíficos"
Esta é a primeira posição das autoridades angolanas sobre os levantamentos populares no norte de África e na Ásia, num apelo ao fim das ditaduras e longevidade no poder dos seus presidentes.
De recordar que o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, tem um dos mais longos consulados em África, um total de 32 anos a serem completados em Setembro próximo.
Autor: Manuel Vieira (Luanda)
Revisão: Nádia Issufo/Cristina Krippahl