Em Angola, não se fala muito sobre o problema do racismo. O investigador Domingos da Cruz escreveu um novo livro sobre o tema e espera despoletar o debate.
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Ainda é tabu falar sobre racismo em Angola. O tema já foi cantado por músicos como Yanick Afroman, rapper angolano que não foi visto com bons olhos quando lançou a música "Realista", em 2010.
"Eu não sou racista, sou realista. Mwangolé precisa de uma lição de moral para se libertar da escravidão mental", canta o rapper.
Mas o assunto dificilmente é abordado publicamente. O caso do fotógrafo e ativista Hossi Sonjamba, que diz ter sido expulso de um restaurante na Ilha de Luanda em agosto do ano passado, alegadamente por motivos racistas, foi um dos poucos comentados.
"Foram momentos deploráveis, foram momentos injustificáveis, foram momentos difíceis de gerir... A pressão social, todo aquele debate à volta do tema, relativamente à situação que se vive na Ilha de Luanda", comentou Hossi.
O processo judicial está em curso e vai a tribunal em breve. O restaurante, citado na altura pelo portal Global Voices, negou as acusações de racismo.
Angola: "Silêncio sobre racismo terá sido opção política"
Porquê o silêncio da sociedade?
O jornalista e investigador angolano Domingos da Cruz diz que o silêncio sobre racismo na sociedade - seja qual for a vítima - "terá sido uma opção política".
"Essa opção política funda-se na cultura política que Angola adotou na luta anticolonial e no pós-independência", comenta o investigador em entrevista à DW.
Domingos da Cruz é autor do livro "Racismo - O machado afiado em Angola", que aborda temas como "racismo e neo-racismo na Angola contemporânea" e a "perceção de jovens luandenses sobre o racismo em Angola", entre outras temáticas relacionadas.
O livro, já disponível na internet e em livrarias portuguesas, deverá ser lançado em Angola nos próximos dias, e promete despoletar o debate sobre o tema.
Para combater o racismo, o investigador sugere aos deputados do país que criem "uma lei anti-racista no contexto angolano, para que esses criminosos sejam responsabilizados".
Mas será também preciso olhar para outros setores, "como é o caso da educação, do desporto e do papel que a sociedade civil pode desempenhar, entre outros campos que ajudariam a encontrarmos uma forma pacífica e mais humana de se estabelecer relações inter-raciais, no contexto angolano", propõe Domingos da Cruz.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.