Angola: Sondagem prevê que CASA-CE ultrapasse UNITA
Glória Sousa
27 de julho de 2017
A primeira grande sondagem às eleições de 23 de agosto aponta para a uma maioria absoluta do MPLA. A CASA-CE poderá tornar-se na primeira força da oposição. A UNITA não dá credibilidade ao inquérito.
Publicidade
João Lourenço poderá tornar-se no próximo Presidente de Angola se se confirmar a maioria absoluta, que deverá superar os 60%, segundo o inquérito político-social do Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela, em parceria com o Instituto Superior Politécnico Sol Nascente do Huambo e o apoio da Universidade Católica Portuguesa.
Apesar de prever mais uma vitória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Carlos Pacatolo, coordenador da sondagem, aponta para uma possível mudança no cenário político no país.
"A grande surpresa prende-se com o fato de a CASA-CE ter uma grande probabilidade de se posicionar como segunda força mais votada, com cerca de 19% das intenções de voto, embora a diferença em relação à UNITA, que fica com 15%, não seja estatisticamente significativa, o que pode estar associada à margem de erro. Mas, ainda assim, existe a possibilidade de a CASA-CE se tornar na segunda força com mais assentos no Parlamento", estima Carlos Pacatolo.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) já criticou o inquérito. O líder, Isaías Samakuva, considera que a amostra "não permite um apuramento sério da intenção de voto dos angolanos".
Vitorino Nhany, secretário da UNITA é da opinião que "os dados resultantes do inquérito estão completamente viciados". "Como é que se efetuaram as amostras: foram escolhidas? Ou foram casuísticas? Não correspondem à verdade os resultados desta sondagem", critica o político da oposição.
Organização diz que inquérito é "bastante representativo"
5724 pessoas foram inquiridas nos dias 1, 2, 7 e 8 de julho nas províncias de Luanda, Huíla, Benguela, Huambo, Cuanza Sul, Bié, Uíge e Cabinda, que reúnem 77% dos cerca de nove milhões de eleitores angolanos.
Carlos Pacatolo, coordenador do inquérito, considera que o estudo "tecnicamente é bastante representativo, porquanto a nossa margem de erro ronda os 1,3%."
27.07.17 Sondagem Angola - OL - MP3-Mono
O também director-geral do Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela afirma que mesmo que se aumentasse a amostra, a diferença "em termos de margem de erro era pouco significativa - apenas 0,5; 0,1; ou 0,2%".
Mas a UNITA não está convencida. "Desde o ano passado, desde o início do registo eleitoral, temos sentido que existe a ideia de colocar a CASA-CE [Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral] como maior partido da oposição, logo a seguir ao próprio MPLA, no sentido de se poder fazer coligação, no âmbito da governação", critica Vitorino Nhany, secretário da UNITA para os assuntos eleitorais.
30% dos eleitores desconfia da credibilidade do pleito
A maioria dos inquiridos, 30%, disse desconfiar que a contagem dos votos seja feita corretamente e sem fraude, principalmente o eleitorado simpatizante da oposição.
Também Vitorino Nhany, secretário da UNITA para os assuntos eleitorais, desconfia da transparência das eleições de 23 de agosto. "Estamos preocupados com a ausência da União Europeia destas eleições, porque neste preciso momento existe uma estratégia para se dificultar a acreditação de delegados, principalmente da oposição. E isto a acontecer poderá haver algumas assembleias com urnas que podem ser engravidadas", alerta o político da oposição.
De acordo com o inquérito, a UNITA reúne apoio sobretudo no meio rural. Já a CASA-CE é mais forte em zonas urbanas e periurbanas. O partido do Galo Negro atrai principalmente o eleitorado entre os 35 e os 44 anos de idade. A CASA-CE obtém os melhores resultados entre os jovens dos 18 aos 24 anos. E o MPLA é mais forte entre os eleitores mais velhos, entre os 45 e os 54 anos.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.