Elevado número de casos de sarna preocupa munícipes do Camucuio, na província do Namibe. População denuncia a falta de saneamento básico e tratamentos contra a doença, mas Governo garante que há medicamentos disponíveis.
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O município do Camucuio debate-se com o surto de sarna. Já há mais de 3.500 casos diagnosticados só este ano, um aumento considerável dos 357 do ano anterior. A comuna do Mamwe é a mais infetada, com cerca de 50% dos casos de sarna.
O surto está a preocupar os munícipes pela propagação rápida da doença, como é o caso de Fernanda Wachilala Custódio. "A sarna é que nos tira o sono. A gente não consegue dormir porque cada dia uma nova pessoa tem essas borbulhas incómodas", diz a cidadã.
Segundo Wachilala, os médicos afirmaram que a causa da doença se prende com a falta de higiene.
No entanto, "a água aqui não é tratada, vem com todos os micróbios e bichos", explica a cidadã que se queixa da qualidade e da escassez da água. "Temos dificuldade em tomar banho todos os dias por causa da água, que aqui é difícil. Agora vamos cartar água para cozinhar ou para tomar banho".
Críticas ao Governo
Para o ativista e porta-voz das autoridades tradicionais Wachila Malenga, é preciso melhorar o saneamento básico no município. Este vai mais longe dizendo que o Governo não está preocupado com a população. "Estamos a lamentar muito os problemas que se passam aqui", diz.
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O ativista denuncia a carência das infraestruturas médicas: "se aqui surge a sarna é por falta de medicamento, nos postos de saúde não há medicamento e os aparelhos não funcionam".
Malenga diz ainda que, "quanto à questão da higiene, nós é que vamos aplicar em conjunto com os ativistas sanitários para podermos sensibilizar a população".
Por seu turno, o responsável da Saúde no município, Jeremias Dambi, diz que a falta de higiene pessoal e comunitária está na base da expansão da sarna, mas reconhece a escassez de água nas comunidades.
"A higiene não é a melhor, então a doença encontrou uma área fértil, por isso está-se a propagar na maioria da população. Mas também a falta de água em algumas localidades tem influenciado negativamente", explica.
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Sensibilização e medicamentos
Jeremias Dambi avança que as autoridades locais levam a cabo uma campanha de sensibilização. O foco da campanha é para que a população perceba "o que é a sarna, como é transmitida e quais são as medidas para prevenirmos a doença".
Dambi ainda assegura que o município possui medicamentos para o tratamento dos infetados pela sarna. "A direção municipal adquiriu alguns medicamentos para tratar esses casos. Podemos afirmar que todas unidades sanitárias do Camucuio contam com medicamentos para tratar a sarna", garante o responsável da Saúde do Camucuio.
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.