Profissionais que circulam em Cacuaco reclamam de más condições das estradas e falta de segurança. Taxistas de Luanda ameaçam greve geral a partir da próxima semana, se impasse não for resolvido.
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Os profissionais dos serviços de táxi e os moto-taxistas protestaram esta quinta-feira (11.06) contra a decisão unilateral do administrador municipal de Cacuaco, Auxílio Jacob, que definiu novas rotas e paragens para os "candongueiros e kupapatas" que circulam no município mais ao norte da capital angolana.
A manifestação aconteceu depois que as negociações entre oas partes não surtiram os efeitos desejados.
O protesto paralisou a Estrada Nacional nº 100, que liga Luanda às províncias do Bengo, Zaíre e Uíge.
O bloqueio foi montado às 5h da manhã. A manifestação causou congestionamento na via, e várias pessoas não conseguiram viajar de Cacuaco para cidade e vice-versa.
Antunes Domingos, taxista naquele município há 15 anos, explica o impasse.
"Estamos completamente tristes e indignados com a atitude do administrador de Cacuaco. Tirou-nos das paragens principais onde temos feito o carregamento e o descarregamento, e colocou-nos em lugares de muito risco e sem condições de segurança, onde não há iluminação pública e as vias estão cheias de buraco. Pensámos que chegaríamos a um acordo, mas infelizmente desvalorizou a nossa classe", desabafou o taxista.
Para Isaías João, outro operador de táxi que protestou esta quinta-feira, as reivindicações devem continuar para a conquista dos direitos dos "candongueiros".
"Vamos parar Luanda numa manifestação, segundo os nossos direitos. Porque o taxista paga a taxa de circulação, paga o seguro, paga a licença de aluguer, mas o taxista é sempre o mais prejudicado pelas autoridades. O taxista é obrigado a circular nos becos onde não há segurança," eclama.
Angola: Taxistas e motoqueiros protestam contra novas rotas
Em vias de greve
No domingo, 7 de junho, os taxistas e os motoqueiros reuniram-se com a governadora Joana Lina, que pediu uma moratória de quatro dias, a contar a partir da passada segunda-feira (08.06), a fim de resolver o impasse.
Entretanto, na mesma segunda-feira, houve uma paralisação parcial dos serviços de táxi, porque nem todos os operadores estavam informados sobre o diálogo com a governadora.
Os membros da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), da Associação dos Taxistas de Angola (ATA) e da Associação de Motoqueiros Transportadores de Angola (AMOTRANG), dizem que as novas rotas definidas para a sua circulação danificam as viaturas e também são zonas que oferecem risco para associados e passageiros, devido à criminalidade.
O presidente da AMOTRANG, Bento Rafael, afirma que, nas novas rotas, há alto nível de assaltos à mão armada e não só.
"Neste momento, ao nível do município de Cacuaco, o administrador municipal obrigou as viaturas e as motas a trafegarem numa via sem ter criado condições de terraplanagem nestes espaços. As vias são esburacadas e nem sequer as vias têm seguranças. Alguns taxistas já foram assaltados. A poeira continua a incomodar os moradores e também os passageiros, sobretudo para aquelas viaturas que não possuem ar condicionado,"enumera.
Bento Rafael diz que o administrador recusa dialogar com os taxistas.
"Como ele fez isso unilateralmente, fomos durante três semanas pressionando o administrador a falar connosco para saber o nosso ponto de vista, passarmos algumas ideias e podermos ultrapassar esta situação, mas não nos deu ouvidos. Lamentavelmente, foi maltratando-nos e, por esta razão, não encontramos outra forma se não declarar uma greve de transporte ao nível do município", relata.
Enquanto esperam pela decisão do Governo Provincial, os taxistas e moto-taxistas têm estado a funcionar a 50%. Os operadores querem a reabertura das paragens oficiais encerradas por ordens de Auxílio Jacob.
Guiné-Bissau: Condutores insatisfeitos com nova normalidade
02:14
Francisco Paciente, presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas, avisa que, se até a sexta-feira (12.06) a governadora Joana Lina não apresentar soluções para o problema, haverá greve em toda província.
"Ela, a governadora, prometeu responder de três a cinco dias. E se não houver respostas, as associações vão se pronunciar para alargar a paralisação para Luanda. Neste momento, está acontecer em Cacuaco. Se não houver resposta satisfatória, em solidariedade aos colegas de Cacuaco, toda a província de Luanda vai ficar sem táxi", ameaça.
Ignorar o problema
Por sua vez, o administrador de Cacuaco, Auxílio Jacob, durante uma conferência de imprensa recentemente, não se posicionou sobre as queixas, mas fez promessas.
"Estamos a concluir o processo para lançar em concurso público os 56 quilómetros de estrada asfaltada, em que doravante até antes do fim deste ano, vamos ter Cacuaco com quase todas as ruas e grandes estradas no interior dos Mulenvos , do Kikolo, e da Funda, asfaltadas para que definitivamente, Cacuaco ganhe outra dignidade e outra dimensão", declarou.
O drama dos transportes em Inhambane
Sobrelotados, danificados e sem condições mínimas de segurança: os transportes públicos da província de Inhambane, no sul de Moçambique, têm graves problemas.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem condições
Em Inhambane, passageiros vêem-se obrigados a viajar em veículos sobrelotados e sem as mínimas condições de segurança - muitas vezes ao lado de mercadorias. Da cidade de Maxixe, capital económica da província, saem muitas viaturas para os distritos do interior. Mas as vias de acesso estão muito degradadas, o que explica os danos nas viaturas, dizem os condutores.
Foto: DW/L. d. Conceição
Ir para a escola de "My Love"
Os alunos que estudam longe de casa enfrentam vários riscos para chegar à escola em viaturas de caixa aberta, conhecidas como "My Love", principalmente nos distritos de Maxixe, Morrumbene, Massinga, Homoíne, Jangamo, Panda e Vilankulo. O "transporte escolar" não respeita as normas de segurança e os acidentes são frequentes.
Foto: DW/L. d. Conceição
Longas distâncias de pé
Fazer vários quilómetros de pé nos transportes coletivos é rotina para muitas pessoas em Inhambane. Isto, porque alguns proprietários dos carros que fazem serviços de transporte proíbem os passageiros de se sentarem para poderem transportar um maior número de pessoas. Quando chegam ao destino - muitas vezes depois de percorrerem 50 quilómetros de pé - o corpo ressente-se.
Foto: DW/L. d. Conceição
A idade não é um posto
Os problemas afetam todos os passageiros - não há exceções para os idosos, que viajam também em más condições. O Governo tem vindo a prometer melhores condições para a terceira idade, mas a situação continua precária. E os preços dos transportes continuam elevados para todos, dos mais novos aos mais velhos.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem alternativas
Para quem tem carro próprio, as vias de acesso degradadas, que chegam a ficar intransitáveis quando chove, são um fator que pesa muito na decisão de conduzir até ao destino. E muitos outros não têm escolha: ou viajam de "My Love" ou ficam em terra. Entre os passageiros, idosos, mulheres grávidas ou com crianças de colo também têm muitas vezes mercadorias como companheiros de viagem.
Foto: DW/L. d. Conceição
Luxo…de passagem
Os autocarros com melhores condições saem da capital, Maputo, com destino a Inhambane, Vilankulo, Mambone, Massinga e Inhassoro. Não apanham passageiros pelo caminho, nas localidades mais pequenas. E, muitas vezes, já vêm sobrelotados de Maputo. A população pede às autoridades da província que melhorem os transportes entre distritos, para acabar com as viagens em carrinhas de caixa aberta.
Foto: DW/L. d. Conceição
150 quilómetros de desconforto
Esta viatura faz transporte público da cidade de Maxixe até ao distrito de Funhalouro, a mais de 150 quilómetros. As pessoas são obrigadas a viajar de pé e a partilhar o espaço com mercadorias. A agravar a situação está uma via de acesso em péssimas condições.
Foto: DW/L. d. Conceição
Viagem de risco para o interior
A história repete-se para muitos que vivem no interior da província. As deslocações entre os locais de residência e as cidades fazem-se em viaturas de caixa aberta, muitas vezes com material de construção, galinhas e produtos alimentares a dificultar uma viagem já em si perigosa.
Foto: DW/L. d. Conceição
De txopela nas zonas urbanas
Nas cidades e vilas, há alternativa aos "My Love". Aumenta o número das chamadas txopelas - motorizadas de três rodas - na maioria, provenientes da Índia, que acabam por tirar alguns jovens do desemprego. Mas nem todos os cidadãos têm dinheiro para andar de txopela nos centros urbanos: em média, uma viagem custa 150 meticais (cerca de 2 euros).
Foto: DW/L. d. Conceição
Só para estradas pavimentadas
Os mini-autocarros de 15 lugares são usados apenas em estradas pavimentadas ou alcatroadas, e a província de Inhambane só tem a Estrada Nacional. Muitas viaturas como estas não conseguem entrar em alguns distritos, como Funhalouro e Panda, devido ao estado das vias de acesso. Arriscar a entrada em estradas degradadas pode obrigar a uma visita ao mecânico.
Foto: DW/L. d. Conceição
Problemas também no transporte oficial
O Governo de Moçambique tem alocado todos os anos viaturas para o transporte de passageiros nas províncias. Mas, por falta de condições nas estradas, os veículos operam apenas em zonas urbanas. O Estado tem vindo a entregar a gestão destes transportes a terceiros, a título de empréstimo, mediante uma taxa mensal. Mesmo assim, os transportes públicos oficiais também estão sobrelotados.
Foto: DW/L. d. Conceição
Até quando?
Tal como os "My Love" demoram a chegar ao destino - devido também ao excesso de peso a diminuir a velocidade - a solução para os transportes públicos em Inhambane tarda igualmente em chegar. Ainda não há fim à vista para o transporte de passageiros em viaturas de caixa aberta. Até lá, veículos como este continuarão a ser adaptados para transportar passageiros e mercadorias.