O Estado angolano detém a soberania do petróleo e dos produtos que serão processados na refinaria de Cabinda apesar de a Gemcorp possuir o maior capital (90%) e estatal Sonangol apenas 10%, realça Governo.
Refinaria de Cabinda foi inaugurada pelo Presidente angolano, João Lourenço (imagem ilustrativa)Foto: Simão Lelo/DW
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“É verdade que atualmente a Gemcorp detém 90% e a Sonangol 10% do capital desta refinaria. Mas, o que importa não é a fotografia acionista, mas sim o contrato que rege este projeto. E esse contrato está baseado num modelo de taxa de processamento”, disse esta segunda-feira (01.09) o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás de Angola, Diamantino Pedro Azevedo.
A refinaria de Cabinda, inaugurada hoje, “é a prova de que com a liderança política, coragem institucional e competência técnica, Angola pode produzir, transformar e desenvolver os seus recursos minerais, preservando a sua soberania”, considerou o ministro.
Segundo o governante angolano, o modelo de acordo firmado entre ambas empresas gestoras da unidade fabril, estabelece que a Sonangol fornece o petróleo, “que continua a ser sua propriedade e a refinaria processa e devolve os refinados à Sonangol, cobrando apenas uma taxa de processamento”.
“Ou seja, a Gemcorp não controla o petróleo nem os derivados, apenas presta um serviço de refinação”, explicou o governante em discurso na abertura da cerimónia de inauguração daquela unidade industrial.
O Presidente angolano, João Lourenço, inaugurou hoje a Refinaria de Cabinda, investimento de mais de 473 milhões de dólares (404,8 milhões de euros) e que numa primeira fase vai processar 30.000 barris por dia, metade da sua capacidade instalada.
"A Gemcorp não controla o petróleo nem os derivados, apenas presta um serviço de refinação”, explicou Diamantino Pedro AzevedoFoto: Ronald Zak/AP/picture alliance
Refinaria "cria emprego e valoriza a província"
Diamantino Pedro Azedo assegurou que “todos devem estar certos de que não há qualquer perda de soberania [a nível da infraestrutura]”, insistindo que petróleo e os produtos refinados “permanecem sob controlo do Estado angolano”.
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O ministro salientou que esta refinaria é um ativo estratégico que reforça a segurança energética do país, cria emprego e valoriza a província.
“Mais do que uma parceria de capital, é uma demonstração de que o Estado angolano continua a guiar, com mão firme, o destino dos nossos recursos minerais ao serviço de todo o povo angolano”, afirmou.
O presidente do conselho de administração da Gemcorp Angola, Marcos Weyll, disse, na ocasião, que a construção da refinaria de Cabinda envolveu desafios complexos que foram ultrapassados, realçando que a infraestrutura integra soluções tecnologias mais avançadas.
Marcos Weyll deu nota que a primeira fase de refinaria envolveu 14 milhões de horas trabalhadas sem acidentes, contando com a participação de cerca de 500 empresas prestadoras de serviços, sendo que no arranque da segunda fase foram já investidos mais de 10 milhões de dólares.
Por sua vez, a governadora de Cabinda, Susana de Abreu, considerou que a inauguração da refinaria constitui um momento único, ímpar para aquela província do enclave norte de Angola.
Angola: Diversificar a economia através da agricultura
O petróleo é a principal fonte de receitas de Angola. Face à crise no mercado internacional, o país procura diversificar a sua economia nomeadamente através da agricultura.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Estado das vias de acesso preocupa
Há 10 anos o Governo realiza, anualmente, a Feira da Banana no Bengo. Apesar do nome, a feira contempla diversos produtos. Bengo possui uma área arável de cerca de 1 milhão de hectares. As culturas mais predominantes são a mandioca, batata doce, feijão, banana, ginguba e batata rena. Mas o estado degradante das vias de acesso tem gerado perdas significativas aos produtores.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Produção nacional de Banana
A produção de banana é uma fonte de rendimento para muitas famílias, gerando postos de trabalho e desenvolvimento nas regiões de produção. Em 2023, a província angolana do Bengo produziu mais de 443 toneladas de banana. Martins Albino, produtor, diz que no município de Bula Atumba explora 8 hectares e consegue colher mais de 100 cachos de banana por mês.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Para quando o relançamento do café?
A produção de café em grande escala também pode ajudar Angola a depender menos do petróleo. O país, antes independência, já foi um dos maiores produtores de café. Os conflitos armados, o envelhecimento da mão de obra e o relaxamento dos produtores freou a sua elevação. Nos últimos tempos, tem havido maior aposta na produção.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Do bombó vem o funge
Na região norte de Angola, o funge de bombó, cuja matéria-prima é a mandioca, é um dos principais alimentos. Rosa José, que vive desta produção há mais de 20 anos, conseguiu empregar três trabalhadores. Em um ano colhe e comercializa mais de uma tonelada de bombó. Face aos níveis de produção na sua localidade, diz que tem procurado vender o bombó em outros mercados.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Cana-de açúcar é outra alternativa
Também a produção de cana-de açúcar já proporcionou muitas alegrias a Angola. A cidade capital do Bengo encontra-se numa zona que recebeu o nome de "Açucareira" precisamente por conta dos elevadores níveis de produção.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Das águas angolanas chegam outras valências
Peixes de diferentes espécies podem ser encontrados no rio ou no mar, na província do Bengo. Ambriz, por exemplo, é conhecido por ser um município piscatório devido ao seu potencial no que à pesca diz respeito. Quem visita a municipalidade não pode deixar de provar a "madiquita".
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Kizaca, o "frango verde" de Angola
Além da mandioca que dá origem ao bombó, da mesma produção vem a kizaca. Um alimento que durante a pandemia da COVID-19 ficou conhecido em algumas zonas de Angola como "frango verde". Muito presente na mesa dos angolanos, a kizaca pode acompanhar o funge, o arroz e até mesmo o molho.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Produção de laranja
Este é outro produto que muito se cultiva em Angola: a laranja. Nesta feira em que participam mais de 500 expositores, com um volume de negócios de mais de cem milhões de Kwanzas (cerca de 109.453€), os participantes aproveitam para fazer negócios. O Governo do Bengo contempla um total de 156 associações de camponeses e 187 cooperativas agropecuárias, grande parte integrada por ex-militares.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Autoridades e produtores buscam soluções
Sentados "à mesma mesa", autoridades e produtores buscam soluções para melhorar e impulsionar a produção nacional e alavancar a diversificação da economia do país.